top of page

Postagens

Desmistificando o papel de Stalin e Trotsky durante a guerra civil.

  • Foto do escritor: O Caminho da Rebelião
    O Caminho da Rebelião
  • 14 de out. de 2018
  • 7 min de leitura

Atualizado: 6 de dez. de 2018

O papel de Stálin e Trotsky durante a guerra civil.

11 de outubro de 2018

Blog O Caminho da Rebelião





O papel de L. Trotsky durante a guerra civil, conduzindo as questões militares, isso já é do conhecimento de todos. O que poucos sabem é que Stálin também cumpriu papel essencial tanto na guerra civil, quanto na condução das questões militares. É importante destacar o papel de Stálin durante este período para desmistificar uma interpretação interpretação e substituir por um entendimento correto à luz da ciência (e não da mera apologia, seja de que lado for).


I.

Numerosas publicações e notícias colocam Trótski o "criador e organizador do Exército Vermelho", como o exclusivo artesão da vitória militar dos bolcheviques. A contribuição de Stálin no combate contra os exércitos brancos é a maior parte das vezes negligenciada. No entanto, nos anos 1918-1920, Stálin dirigiu pessoalmente o combate militar em diversas frentes de caráter decisivo.


1917

Conforme Ian Grey - historiador não marxista e diretor da Commonwealth Parliamentary Association, uma organização burguesa liberal de caráter não político-ativista - em novembro de 1917, o Comitê Central bolchevique criou um comitê restrito para os assuntos urgentes, que era composto por Lenin, Stálin, Sverdlov e Trótski. Nessa altura, Pestovski, um membro próximo de Stálin, escreveu:


"Ao longo do dia, Lenin chamou Stálin numerosas vezes. Stálin passou a maior parte do tempo com Lenin."(Ian Grey, Stalin, Man of History)


1918

Em janeiro de 1918, com a Rússia em estado de guerra com a Alemanha, o general czarista Alekséiev conduziu um exército de voluntários para a Ucrânia e para a região do Don. Em fevereiro de 1918 o exército alemão ocupou a Ucrânia para "garantir a independência dela". Em maio de 1918, 30 mil soldados checoslovacos ocuparam uma parte enorme da Sibéria. Durante o verão, sob o impulso de Winston Churchill, a Inglaterra, a França, os Estados Unidos, a Itália e o Japão intervieram militarmente contra os bolcheviques. Trótski tornou-se comissário do povo para a Defesa em março de 1918 e a sua tarefa era formar um novo exército de operários e camponeses, dirigidos por 40 mil oficiais do antigo exército czarista.(Grey, idem)


Em junho de 1918, o Cáucaso do Norte, única região cerealífera importante nas mãos dos bolcheviques, estava sob ameaça do exército de Krassnov. Stálin é enviado para Tsaritsin, a futura Stalingrado, para assegurar o aprovisionamento de cereais. Encontrou ali um caos geral: "Por mim, sem formalidades, expulsaria estes comandantes do exército e estes comissários que estão a arruinar a situação", escreveu a Lenin, reivindicando autoridade militar sobre a região. Em 19 de Julho, Stálin é nomeado presidente do Conselho de Guerra da Frente Sul. Mais tarde, Stálin entra em conflito com o antigo general de artilharia czarista, Sítine, nomeado por Trótski a comandante da Frente Sul, junto ao comandante-chefe Vátsetis, também antigo coronel czarista. Tsaritsin foi defendida com sucesso.(Grey, Idem) Segundo o historiador Robert H. McNeal - que também não é marxista e foi chefe do departamento de história da Universidade de Massachusetts Amherst - Lenin considerou que as medidas tomadas por Stálin em Tsaritsin eram um modelo a ser seguido.(McNeal. Stalin, Macmillan Publishers). Em outubro de 1918, Stálin é nomeado para o Conselho Militar da Ucrânia, cuja a tarefa era derrubar o regime de Skoropádski, instalado pelos alemães. Em dezembro a situação deteriorou-se gravemente nos Urais devido ao avanço das tropas reacionárias de Kolchak. Stálin é enviado com plenos poderes para pôr fim ao estado catastrófico do Terceiro Exército e depurar os comissários incapazes. No inquérito feito no local, Stálin criticou a política aplicada de Trótski e de Vátsetis.


1919

No VIII Congresso, em março de 1919, Trótski foi criticado por numerosos delegados pelas suas atitudes "ditatoriais", pela sua "adoração pelos especialistas militares" e as suas "torrentes de telegramas mal preparados".(Grey. Idem) Em maio de 1919, Stálin é de novo enviado com plenos poderes para organizar a defesa de Petrogrado contra o exército de Iudénitch. Em 4 de Junho envia um telegrama a Lenin, afirmando, com base em documentação apreendida, que numerosos oficiais superiores do Exército Vermelho trabalhavam secretamente para os exércitos brancos.(Grey. Idem) Na Frente Leste desencadeia-se um grave conflito entre o respectivo comandante, S. Kámenev, e o comandante-chefe, Vátsetis. O Comitê Central acaba por apoiar o primeiro, diferentemente Trótski propõe a sua demissão, que foi recusada. Vátsetis foi preso e investigado.(Grey. idem) Em agosto de 1919, o exército branco de Dénikin ganha terreno perto do Rio Don, na Ucrânia e no sul da Rússia, progredindo em direção a Moscou.


1920

De outubro de 1919 a março de 1920, Stálin dirigiu a Frente Sul e derrotou o exército branco de Dénikin.(Grey. Idem) Em maio de 1920, Stálin foi enviado para a frente do Sudoeste, onde os exércitos polacos ameaçavam a cidade de Lvov, na Ucrânia, e as tropas de Vránguel, a Crimeia. Os polacos tinham ocupado uma grande parte da Ucrânia, inclusive Kíev. Na Frente Ocidental, Tukhatchévski contra-ataca, repele as agressões e persegue o inimigo até perto de Varsóvia. Lenin esperava ganhar a guerra contra a Polônia reacionária e chega a ser formado um governo provisório soviético polaco. Stálin manifesta-se contra esta operação: "Os conflitos de classe não têm ainda a força para quebrar o sentido da unidade nacional polaca."(Grey. Idem) Mal coordenadas, as tropas de Tukhatchévski sofreram um contra-ataque polaco sobre a área não protegida e foram derrotadas. Ao mesmo tempo, Stálin concentrava as suas forças contra Vránguel, que tinha ocupado os territórios ao norte do Mar de Azov e ameaçava juntar-se com os anticomunistas do Don.(McNeal. idem) Os exércitos brancos de Vránguel foram liquidados antes do final de 1920.(Grey. idem)


Em novembro de 1920, Stálin e Trótski foram condecorados pelos seus feitos militares com a Ordem da Bandeira Vermelha, uma distinção que tinha sido recentemente criada. Deste modo, Lenin e o Comitê Central avaliaram os méritos de Stálin na direção da luta armada nos lugares mais difíceis em pé de igualdade com os de Trótski, que tinha organizado o Exército Vermelho a nível central. Mas para melhor destacar sua própria grandeza, Trótski escreveu: "Durante toda a duração da Guerra Civil, Stálin permaneceu uma figura de terceira ordem".(Trotski. Stalin) McNeal, um professor que é um não simpatizante de Stálin, escreveu a este respeito que:


"Stálin emergira como um chefe político e militar, cuja contribuição para a vitória vermelha apenas era superada pela de Trótski. Stálin desempenhou um papel menor que o seu rival na organização geral do Exército Vermelho, mas foi mais importante na direção das frentes cruciais. Se a sua reputação como herói estava muito longe da de Trótski, não era tanto pelo mérito objetivo deste último, mas antes pela falta de autopublicidade do próprio Stálin."(McNeal. idem)


Colabora nesse sentido outra informação. A. M. Vasilevsky, comandante militar e Marechal da União Soviética, chefe do estado-maior soviético e vice-Ministro da Defesa durante a Segunda Guerra Mundial, Ministro da Defesa da URSS entre 1949 e 1953, deu a sua opinião sobre a direção de Stalin 15 anos após o relatório de Khruchov apresentado no XX Congresso, que iniciou internacionalmente o processo que ficou conhecido como "desestalinização". Assim o comandante se exprimiu: "Stálin entrou duradouramente na história militar. O seu mérito indubitável esteve em que, sob a sua direção imediata enquanto comandante supremo, as forças armadas soviéticas mostraram-se firmes nas campanhas defensivas e realizaram brilhantemente todas as operações ofensivas. Mas, tanto quanto pude observar, ele nunca falava dos seus méritos. Em todo caso, nunca o ouvi falar disso. A condecoração de Herói da União Soviética e o título de Generalíssimo foram-lhe conferidos por proposta dos comandantes da frente e do Bureau Político. Quanto aos erros cometidos durante os anos de guerra, ele falava deles honesta e francamente."(Marshal M. Vasilevsky. The Matter of My Whole Life)

Conforme Augusto César Buonicore - um historiador que se declara "anti-stalinista", em 16 de dezembro de 1919, Trotski apresentou no Comitê Central do Partido Bolchevique a sua tese "Sobre a transição entre a guerra e a paz", na qual reafirmou a necessidade de militarização dos sindicatos russos. Ele defendeu novamente as suas posições no IX congresso do PCRb. Na ocasião afirmou ele:


"As massas trabalhadoras não podem vaguear através da Rússia. Devem ser enviadas para aqui e para ali, nomeadas, comandadas exatamente como soldados (...) O trabalho obrigatório deve atingir a sua maior intensidade durante a transição do capitalismo para o socialismo (...) É preciso formar patrulhas punitivas e pôr em campos de concentração os que desertam do trabalho".


E concluiu: "O Estado Operário possui normalmente o direito de forçar qualquer cidadão a fazer qualquer trabalho em qualquer local que o Estado escolha." (Augusto César Buonicore. LÊNIN, OS SINDICATOS E O SOCIALISMO)


Trotski pretendendo aplicar à mobilização dos trabalhadores métodos que tinha utilizado para dirigir o exército, os ferroviários foram mobilizados sob disciplina militar. Uma vaga de protestos atravessou o movimento sindical. Lenin considerou que os erros cometidos por Trótski colocavam em perigo a ditadura do proletariado:


"(...) com as suas embrulhadas burocráticas em relação aos sindicatos, ameaçava separar o Partido das massas operárias. (...) nas teses de Trotski e Bukhárin há toda uma série de erros teóricos. Uma série de inexatidões de princípio. Politicamente, toda a análise da questão equivale a uma absoluta falta de tato. As “teses” do camarada Trotski são uma coisa nefasta no sentido político. Sua política, em suma, é uma política de limitação burocrática dos sindicatos. Estou seguro de que o congresso de nosso Partido condenará e rechaçará esta política. (Lenin. Sobre os Sindicatos, o momento atual e os erros de Trotsky)


II.

Cheguei ao fim a estas conclusões se valendo propositalmente de dois historiadores não marxistas e não simpatizantes de Stalin e de um historiador que apesar de considerar-se marxista se manifesta abertamente como um anti-stalinista. Fiz deste modo para afastar qualquer possibilidade de agir de forma tendenciosa, selecionando conforme o meu interesse pessoal esta ou aquela informação.


E por fim a conclusão que chegamos é de que bem longe da interpretação que Stalin é um ponto nulo no processo da guerra civil contra o exército branco, ele efetuou um trabalho que deve ser considerado de envergadura dentro daquele contexto. Sendo assim podemos afirmar que Stalin e Trotski tiveram méritos iguais na condução da luta revolucionária, ou que Stalin ficou atrás, porém nao tanto atrás, conforme os fatos acima expostos. Mas de qualquer maneira a compreensão de que apenas Trotski desempenhou o papel positivo neste período, ou no máximo levando em conta também o Lenin, é fantasiosa. É meraente apologética. E a apologia cega tem mais a ver com a religião (a fé) do que com a ciência, e o marxismo acima de tudo é uma ciência.


 
 
 

Comments


© 2023 por Amante de Livros. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • White Facebook Icon
  • White Twitter Icon
  • Branco Ícone Google+

Faça parte da nossa lista de emails

bottom of page