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STALIN e o problema das lutas de classe no socialismo

  • Foto do escritor: O Caminho da Rebelião
    O Caminho da Rebelião
  • 5 de out. de 2018
  • 122 min de leitura

Atualizado: 12 de dez. de 2018

Sobre a Mecânica da Luta de Classes na Ditadura do Proletariado

Harpal brar


extraído do livro "Trotskismo x Leninismo: Lições da História"




Índice

1. Sobre a Mecânica da Luta de Classes na Ditadura do Proletariado

2. Classes e Luta de Classes

3. Intensificação da Luta de Classes sob o Socialismo

4. O Comunismo em um Só País

5. "Degeneração Nacionalista"

6. Ausência de uma Linha de Massa

7. Stalin e a Intelligentsia

8. Conclusão



1. Sobre a Mecânica da Luta de Classes na Ditadura do Proletariado


"É necessário desbaratar e descartar a detestável teoria de que, a cada passo do progresso que alcançamos, a luta de classes aqui está destinada a desaparacer cada vez mais..."

Stalin, 1937


(A maneira de prefácio aos escritos de Stalin sobre a mecânica da luta de classes na ditadura do proletariado)


Desde o 20° Congresso do PCUS(B), em 1956, o revisionismo tem triunfado

na União Soviética. Muitos assim-chamados anti-revisionistas consideram Stalin

responsável pela vitória do revisionismo na URSS.

"Embora seja verdade que a plataforma anti-Stalin tenha sido vital para a

adoção de uma abrangente plataforma revisionista, não se pode dizer que o

revisionismo só ganhou ascendência após a morte de Stalin..." Assim disse MF no

Marxist-Leninist Quarterly n° 2, p. 8.

Eles acusam-no, primeiro e principalmente, de manter uma visão "errônea"

sobre a questão das classes e da luta de classes no socialismo e sobre a questão

do Estado. Para ser mais específico, eles acusam-no de dizer, em 1936, que as

classes, em todos os sentidos da expressão, tinham sido eliminadas na União Soviética;

da "suposição de que a restauração poderia ocorrer apenas através de uma intervenção de fora", já que, supostamente de acordo com Stalin, "a luta de classes

interna estava no fim na União Soviética em 1937"; acusam-no também de difundir

uma visão sobre a questão do Estado que "se afastava radicalmente do marxismo-

leninismo". Isso, então, em resumo, é a primeira e principal acusação levantada

contra Stalin.

Por muito tempo esta acusação tem sido disseminada, ainda que vagamente e geralmente e só pelo mexerico, no movimento anti-revisionista. E enquanto isso acontecia apenas sob a forma de rumores, era muito difícil combater a disseminação,

pois ninguém sabia quem tinha dito o quê, ou onde e quando tinha sido dito. Agora, entretanto, uma organização autodenominada anti-revisionista, mas consistentemente manifestando a ideologia do revisionismo, tem posto em letra de

forma a maioria das acusações que até então tinham circulado apenas privadamente,

pela intriga, à maneira de mexericos. Essa organização é chamada Federação Comunista da Inglaterra (Marxista-Leninista) (CFB). No número 2 de seu jornal teórico, o Marxist-Leninist Quarterly, publicou um artigo de um certo ME O artigo contém a maioria - quase todas - das acusações acima citadas, assim como outras

acusações contra o camarada Stalin. Trataremos das acusações acima, bem como de outras; ao fazê-lo, necessariamente seremos forçados a mencionar este senhor MF, bem como a organização a que ele pertence, não porque valha a pena perder tempo com eles, como indivíduo e como organização, respectivamente, mas porque representam uma das mais perigosas tendências semimencheviques1, semitrotskistas no movimento anti-revisionista, mascarado como marxista-leninista e iludindo e enganando as pessoas no movimento da classe operária com o uso da fraseologia marxista.

As segunda e terceira acusações também vêm de MF, do CFB. A segunda acusação é que, durante a direção de Stalin na URSS, teve lugar "a degeneração nacionalista"; que Stalin e o Partido tinham perdido a perspectiva internacionalista; que eles consideravam a construção do socialismo na URSS como um fim em si mesmo; que, não considerando a revolução soviética como parte integral da revolução proletária mundial, eles subordinavam os interesses da última à primeira.

A terceira acusação era que, durante o período de Stalin, o Partido tinha se tornado "crescentemente divorciado das massas"; que estava ausente "uma linha de massas", resultando na "degeneração do Partido e do Estado", no mau tratamento das contradições sociais e no "controle completo" da burguesia. De acordo com MF, esse terceiro erro de Stalin foi responsável pelos dois primeiros.

A quarta acusação contra Stalin vem dos anti-revisionistas da Finsbury Commmunist Association fFCA). De acordo com a FCA, foi "a atitude de Stalin e de Zhdanov para com a intelligentsia soviética, expressa no 18° Congresso do Partido e subsequentemente escrita nas Normas Partidárias", responsável pelo fato de que "a União Soviética degenerou".

Tendo especificado acima as várias acusações contra Stalin, elas agora serão tratadas uma a uma. O fato de essas notas terem sido publicadas como um Prefácio à coleção de escritos do camarada Stalin não permitiu um tratamento exaustivo das questões levantadas e poderemos, portanto, ser obrigados em algum tempo no futuro próximo a retornar a esse tema. Nesse meio tempo, algo deve ser dito para contrariar os ataques burgueses anteriores, para contrariar os inventores dos 'erros' de Stalin.


Notas

1. Os mencheviques eram uma tendência pequeno-burguesa no movimento da classe

operária na Rússia,que se opunha ao bolchevismo-leninismo revolucionário. Eles se opunham e revisavam o marxismo, expurgando-o de sua essência revolucionária.

2. O fato de que ocasionalmente pessoas da CFB empreenderam uma batalha de palavras contra o trotskismo não as exime de serem trotskistas. Como este prefácio mostrou, todos os ataques da CFB a Stalin foram tomados de empréstimo do arsenal trotskista.



2. Classes e Luta de Classes


Stalin disse em 1936, em seu discurso sobre o Projeto de Constituição da URSS, que as classes, em todos os sentidos da expressão, tinham já chegado ao fim na URSS?

Não, ele não disse. O camarada Stalin estava falando das mudanças na vida da URSS no período de 1924 a 1936. Ele contrasta o atraso de 1924 com o avanço socialista realizado entre então e 1936. Tendo tratado do avanço registrado durante aqueles anos pela indústria socialista, a coletivização da agricultura, o monopólio estatal do comércio, a eliminação dos kulaks e dos capitalistas, Stalin disse:


"Assim, a vitória completa do sistema socialista em todas as esferas da economia

nacional é agora um fato.

E o que isso significa?

Significa que a exploração do homem pelo homem foi abolida, eliminada,

enquanto a propriedade socialista dos implementos e meios de produção foi

estabelecida como fundamento inabalável de nossa sociedade soviética.

Como resultado de todas essas mudanças na esfera da economia nacional da URSS, agora temos uma nova, economia socialista, que não conhece crises nem desemprego, que não conhece pobreza nem ruína, e que provê nossos cidadãos com toda oportunidade para levarem uma vida próspera e culta.

Tais, no principal, são as mudanças que tiveram lugar na esfera da nossa economia durante o período de 1924 a 1936.

Em conformidade com essas mudanças na vida econômica da URSS, a estrutura de classes de nossa sociedade também mudou.

A classe dos proprietários de terra, como vocês sabem, já foi eliminada como resultado da conclusão vitoriosa da Guerra Civil. Quanto a outras classes exploradoras, elas compartilharam do destino da classe dos proprietários de terra.

A classe capitalista na esfera da indústria cessou de existir. A classe dos kulaks na

esfera da agricultura cessou de existir. E os comerciantes e exploradores na esfera

do comércio cessaram de existir. Assim, todas as classes EXPLORADORAS foram

agora eliminadas.

Permanece a classe operária.

Permanece a classe camponesa.

Permanece a intelligentsia". [maiúsculas minhas]


A citação anterior deixa perfeitamente claro que, quando fala da eliminação de classes, o camarada Stalin não está falando da eliminação das classes em geral, mas da eliminação das "classes exploradoras". É perfeitamente verdadeiro que, a 25 de novembro de 1936, a data em que o camarada Stalin fez seu discurso sobre o Projeto da Constituição da URSS, as classes - no sentido estritamente econômico de serem classes exploradoras e classes exploradas - tinham sido eliminadas na URSS. Uma vez que as classes capitalistas, dos proprietários de terra e dos kulaks tinham sido eliminadas, era muito legítimo falar, como fez o camarada Stalin, acerca das classes que tinham tido um fim.

Porém, justamente porque o camarada Stalin sustentava, corretamente ao

nosso ver, que as classes, no sentido anterior de classes exploradoras e exploradas, tinham sido eliminadas, isso significava que. ele sustentava que as classes em todos

os outros sentidos da expressão tivessem sido eliminadas também? Não, não significava isso. Ao contrário, o camarada Stalin declarou muito claramente que

haviam permanecido na União Soviética duas classes. Para repetir, ele disse:


"Permanece a classe operária.

Permanece a classe camponesa."


E, adiante, esboçando o significado das mudanças na estrutura de classes da União Soviética no período de 1924 para 1936, o camarada Stalin continuava:


"E o que significam essas mudanças (na estrutura de classe da URSS)?

Primeiro, elas significam que a linha divisória entre a classe operária e o campesinato e entre estas classes e a intelligentsia ESTA SENDO OBLITERADA e que os velhos privilégios de classes estão desaparecendo. Isso significa que A DISTÂNCIA ENTRE ESSES GRUPOS SOCIAIS ESTÁ DIMINUINDO FIRMEMENTE.

Em segundo lugar, significam que AS CONTRADIÇÕES ECONÔMICAS ENTRE ESSES GRUPOS SOCIAIS ESTÃO DECLINANDO, ESTÃO SE OBLITERANDO.

E, por último, significam que AS CONTRADIÇÕES POLÍTICAS ENTRE ELAS ESTÃO DECLINANDO E SE OBLITERANDO." (Ênfase minha)


Como pode ser visto muito claramente, o camarada Stalin não estava dizendo que as classes, em todos os sentidos da expressão, tinham sido eliminadas; muito menos sustentava que todas as contradições econômicas e políticas estavam caminhando para um fim na URSS. Longe disso: O camarada Stalin disse que as classes exploradoras tinham sido eliminadas, mas ainda permaneciam na URSS duas classes, a classe operária e o campesinato, "cujos interesses - longe de serem hostis - são, ao contrário, amistosos". A linha divisória entre a classe operária e o campesinato e entre as duas classes e a intelligentsia, NÃO tinha sido ainda obliterada, mas estava a caminho de sê-lo; a contradição econômica entre as classes e estratos remanescentes NÃO tinha sido abolido, porém estava sendo abolido; as contradições políticas entre esses grupos sociais NÃO tinham sido abolidas, mas estavam caminhando rumo à abolição dessas contradições. Pode-se negar algo das declarações anteriores? Não, não se pode. Em outras palavras, o que o camarada Stalin disse foi que, em 1936, não havia classes ANTAGÔNICAS na União Soviética, havia somente duas classes, a classe operária e o campesinato, cujos interesses, longe de serem hostis, eram ao contrário amistosos.

Tratando dos aspectos específicos principais do Projeto de Constituição, o camarada Stalin teve a dizer o seguinte, que tem referência direta à questão das classes ora em discussão:


"Ao contrário das Constituições burguesas, o projeto da nova Constituição da URSS procede do fato de que não existem classes ANTAGÔNICAS na sociedade; essa sociedade consiste de DUAS classes amistosas, de operários e camponeses; que são essas classes as classes trabalhadoras que estão no poder; que a direção da sociedade pelo ESTADO (A DITADURA) está nas mãos da classe operária, a classe mais avançada na sociedade; que uma Constituição é necessária para o propósito de consolidar a ordem social desejada pela classe operária e benéfica a ela.

Tal é o aspecto específico do projeto da nova Constituição." (Ênfase minha)


Assim, de acordo com Stalin, a sociedade soviética NÃO era sem classes; era apenas SEM CLASSES ANTAGÔNICAS; ela consistia de DUAS classes amistosas, a classe operária e o campesinato. Existia também o Estado (ditadura), que estava nas mãos da classe operária, a classe mais avançada na sociedade. Tudo isso mostra a falsidade da afirmação de que, de acordo com Stalin, as classes, em todos os sentidos da expressão, tinham sido eliminadas na União Soviética. Se Stalin tivesse dito algo assim, não faria muito sentido que ele falasse acerca da preservação do Estado (a ditadura) e da direção da sociedade por esse Estado nas mãos da classe operária, a classe mais avançada, pois não faz sentido falar acerca da classe mais avançada a menos que exista também uma classe atrasada, comparada com a qual essa classe pode ser chamada de classe avançada. O projeto de Constituição Soviética e Stalin partiam da premissa de que havia duas classes.

Se o que foi dito acima ainda for considerado insuficiente por aqueles que fazem a alegação caluniosa contra o camarada Stalin de que ele acreditava que as classes, em todos os sentidos da expressão, tinham sido abolidas, que não haveria mais classes na União Soviética, fazemos uma tentativa final para ajudar essas pessoas a verem como estão equivocadas e ajudá-las a aceitarem a razão - se isso é possível. É bem conhecido que o Artigo I o do Projeto de Constituição tratava da composição de classes da sociedade soviética; falava do Estado como o "Estado dos operários e camponeses". Quatro emendas foram propostas para esse artigo. Uma emenda propunha que as palavras "Estado dos operários e camponeses" fossem substituídas pelas palavras "Estado do povo trabalhador". De acordo com a segunda emenda, as palavras "Estado dos operários e camponeses" deveriam ser seguidas pelas palavras "e intelligentsia operária". A terceira emenda propunha que o Artigo 1°, em lugar de referir-se ao "Estado dos operários e camponeses" deveria falar do "Estado de todas as raças e nacionalidades habitando o território da URSS". E a quarta emenda propunha que as palavras "fazendeiros coletivos" ou "trabalhadores da agricultura socialista" substituíssem a palavra "camponeses".

O camarada Stalin se opôs à adoção de todas essas emendas. Alguns de seus argumentos em oposição às quatro emendas acima, que eram relevantes para o tema em discussão, são reproduzidos a seguir. Aqui está parte do que o camarada Stalin teve a dizer em oposição àquelas emendas:


"De que fala o Artigo 1° do Projeto de Constituição? Ele fala da composição de classes da sociedade soviética. Podemos nós marxistas ignorar a questão da composição de classes dê nossa sociedade na Constituição? NÃO, NÃO PODEMOS. COMO SABEMOS, A SOCIEDADE SOVIÉTICA CONSISTE EM DUAS CLASSES, OPERÁRIOS E CAMPONESES. E é disto que o Artigo 1° do Projeto de Constituição fala. Consequentemente, o Artigo 1° do Projeto de Constituição reflete apropriadamente a composição de classes de nossa sociedade..."


E adiante:


"Seria errado também substituir a palavra 'camponês' pelas palavras 'fazendeiro coletivo' ou 'trabalhador da agricultura socialista'. Em primeiro lugar, ao lado dos fazendeiros coletivos, há ainda cerca de um milhão de domicílios de fazendeiros não coletivos entre o campesinato. O que se deve fazer deles? Os autores dessa emenda propõem que os risquemos dos livros? Isso seria tolice. Em segundo lugar, o fato de que na sua maioria os camponeses começaram a ser fazendeiros coletivos não significa que eles já tenham cessado de ser camponeses, que eles não mantenham sua economia pessoal, sua própria casa, etc. Em terceiro lugar, teríamos de substituir pela palavra 'operário' as palavras 'trabalhador da indústria socialista', o que, entretanto, os autores da emenda por alguma razão não propuseram. Finalmente, a classe operária e a classe camponesa já desapareceram de nosso país? E se elas não tiverem desaparecido, vale a pena riscar de nosso vocabulário os nomes estabelecidos para elas? Evidentemente, o que os autores da emenda têm em mente não é a sociedade atual mas a sociedade futura, quando as classes não existirão mais e quando os operários e camponeses terão sido transformados em trabalhadores de uma sociedade comunista homogênea. Consequentemente, eles estão obviamente se adiantando. Mas em um projeto de uma Constituição não se deve partir do futuro, mas do presente, do que já existe. Uma Constituição não deveria e não deve correr à frente."


Em outras palavras, as classes não tinham sido eliminadas, embora as classes exploradoras tivessem sido descartadas; consequentemente, a sociedade soviética

estava ainda na fase mais baixa do comunismo, que é caracterizada pela não existência de classes exploradoras, a não-existência da exploração do homem pelo

homem; ela tinha ainda de alcançar a fase mais elevada do comunismo, "quando

as classes sociais não mais existirão e quando os operários e camponeses terão sido

transformados em trabalhadores da sociedade comunista homogênea", em cuja sociedade prevalecerá a fórmula: "De cada um de acordo com sua capacidade, a

cada um de acordo com sua necessidade."

Está claro, seria de se pensar.

Se, após tudo que foi dito acima, os caluniadores dessa questão ainda persistem contra o camarada Stalin, se os caluniadores se recusam a tomar nota dos fatos inescapáveis acima, simplesmente teremos de respondê-los nas palavras do famoso provérbio russo: "As leis não são feitas para os tolos".


Stalin disse que o comunismo completo tinha sido construído na URSS?

Alguns críticos com uma imaginação fértil (imaginação adubada seria uma expressão melhor) - e daí uma grande habilidade para produzir asneiras sem sentido - passam a afirmar que desde que, de acordo com Stalin, as classes exploradoras tinham sido eliminadas e não havia mais classes a suprimir, isso significava, portanto, que o comunismo completo tinha sido construído e, consequentemente, não havia necessidade da existência do Estado na URSS. Mas o Estado na URSS ainda existia. O resultado líquido de tudo isso, de acordo com esses 'críticos' - escribas burgueses, seria mais correto - é que Stalin teria cometido um 'erro'; ele não teria compreendido que a sociedade soviética estava longe do objetivo final de uma sociedade comunista sem classes. Ao fazerem essa afirmação, os vulgares escribas burgueses mostram não somente sua paixão pela calúnia e distorção mas também sua ignorância completa. No próprio discurso sobre o Projeto de Constituição no qual supostamente, de acordo com esses 'críticos', ele cometeu o citado erro ilusório, o camarada Stalin teve o que se segue a dizer sobre o nível do desenvolvimento da sociedade soviética:


"Nossa sociedade soviética já, de modo geral, realizou com sucesso o socialismo; ela criou um sistema socialista, isto é, produziu aquilo que os marxistas, em outras palavras, chamam de primeira ou mais baixa fase do comunismo. Assim, de modo geral, realizamos a primeira fase do comunismo, o socialismo. O princípio fundamental dessa fase do comunismo é, como vocês sabem, a fórmula: 'De cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com seu trabalho". Deveria nossa Constituição refletir esse fato, o fato de que o socialismo foi realizado? Inquestionavelmente, deveria. Deveria, porque para a URSS o socialismo é algo já realizado e conquistado.

Mas a sociedade soviética não alcançou ainda a fase mais elevada do comunismo, na qual o principio dominante será a fórmula: "De cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com sua necessidade", embora se estabeleça o objetivo de realizar a fase mais elevada do comunismo no futuro. Pode nossa Constituição basear-se na fase mais elevada do comunismo, que não existe ainda e que ainda tem de ser realizada? Não, não pode, porque para a URSS a fase mais elevada do comunismo é algo que não foi ainda realizado e que tem de ser realizado no futuro. Não o será se não for convertido em um programa ou declaração de realizações futuras. Tais são os limites de nossa Constituição no atual momento histórico."


Está claro, pensamos.


Pode-se, sem deixar de ser um marxista-leninista, falar de classes exploradoras tendo sido abolidas enquanto o Estado ainda existe?

Agora, surge a questão: uma vez as classes exploradoras tendo sido eliminadas, os kulaks derrotados no campo de batalha aberto e alcançada a fase mais baixa do comunismo, isto é, o socialismo, com sua fórmula 'de cada um de açordo com sua capacidade e a cada um de acordo com seu trabalho', nessas circunstâncias seria legitimo para Stalin dizer, como ele realmente disse, acerca das classes caminhando para um fim e não restando nenhuma classe a suprimir? Acreditamos que era muito legítimo para o camarada Stalin falar de classes tendo chegado a um fim. As classes tinham chegado a um fim na URSS no sentido econômico da expressão, em que não haveria mais exploradores e explorados; em que a classe operária, tendo ascendido ao poder, tinha já usado sua "supremacia política" para "arrancar... todo o capital da burguesia" e aumentado "o total das forças produtivas" muito rapidamente, de fato. Assim, tínhamos um Estado proletário que era sem classes, que não tinha classes no sentido de essas serem classes exploradoras e exploradas. Mas se podia falar, como um marxista-leninista, de um Estado que é sem classes no sentido que temos falado antes? Sim, certamente se podia. Porém, os 'críticos' burgueses, tais como MF do CFB, professor George Thomson1, e outros dizem: Não, certamente não se pode falar de um Estado em que não há classes no sentido aqui referido. Eles nos informam que não se pode falar de um Estado no qual não há classes exploradoras. Eles juram pelo marxismo-leninismo (pobre Marx! pobre Lênin!) que estão certos, e estão plenos de alegria maliciosa por terem 'provado' o que se dispuseram a provar com zelo digno de umã causa maior, a saber, que Stalin estava afirmando contra-sensos antimarxistas, antileninistas quando, em seu discurso sobre o Projeto de Constituição em 1936, bem como em seu discurso no 18° Congresso, disse que as classes exploradoras tinham sido elipiinadas na URSS. Há um pequeno problema, aqui, entretanto. Nossos 'críticos', MFbem como o ilustre professor Thomson, negligenciaram um pequeno detalhe - a saber, o pensamento de Lênin, diferente do desses 'leninistas', os MFs, os Thomsons e outros cretinos burgueses (com süa licença, 'marxistas') deste mundo. Que Vladimir Ilich certamente reconheceu que o Estado deveria existir por um período considerável de tempo SEM CLASSES, fica perfeitamente claro no seguinte tratamento que ele deu ao tema. No Capítulo V de seu Livro O Estado e a Revolução, Lênin discute "As Bases Econômicas do Definhamento do Estado". Tendo tratado da "Apresentação da Questão por Marx" e da "Transição do Capitalismo para o Comunismo", Lênin segue tratando da questão da "Primeira Fase da Sociedade Comunista". Nessa primeira fase da sociedade comunista, diz Lênin:


"Os meios de produção não são mais de propriedade privada dos indivíduos. Os meios de produção pertencem a toda a sociedade. Cada membro da sociedade realiza uma certa parte do trabalho socialmente necessário, recebe um certificado da sociedade no sentido de que fez tal e tal quantidade de trabalho. E com este certificado ele recebe do armazém publico de artigos de consumo uma quantidade correspondente de produtos. Depois de feita uma dedução da quantidade de trabalho que vai para o fundo público, cada trabalhador, portanto, recebe da sociedade tanto quanto deu a ela.

A 'igualdade', aparentemente, prevalece de maneira absoluta."Mas "direito igual" aqui é ainda um "direito burguês", que ainda não foi abolido em sua inteireza; assim, a desigualdade ainda prevalece.

Continua Lênin:


"O 'direito igual', diz Marx, de fato temos aqui; mas é aindn um 'direito burguês', que, como todo direito, pressupõe a desigualdade. Todo direito é uma aplicação de uma medida igual para diferentes pessoas que, de fato, não são semelhantes, não são iguais umas às outras; por isso é que o " direito igual" é uma violação da igualdade e uma injustiça. De fato, todo homem, tendo realizado tanto de trabalho social quanto um outro, recebe uma parte igual do produto social (após as deduções acima mencionadas).

Mas as pessoas não são semelhantes: uma é forte, outra é fraca; uma é casada, outra não é; uma tem muitos filhos, outra tem menos; e assim por diante. E a conclusão a que Marx chega é:

'...com uma realização de trabalho igual e dai uma parte igual do fundo de consumo social, um receberá de fato mais do que outro, um será mais rico do que outro e assim por diante. Para evitar todos estes problemas, o direito, para ser igual, deveria ser desigual'.

Daí a primeira fase do comunismo não poder ainda produzir justiça e igualdade: diferenças e diferenças injustas, em riqueza, ainda existirão, porém a exploração do homem pelo homem terá se tomado impossível, porque será impossível apoderar-se dos meios de produçãor as fábricas, as máquinas, a terra, etc., como propriedade privada. Ao mesmo tempo que esmaga as frases confusas pequenoburguesas de Lassalle, sobre 'igualdade' e 'justiça' em geral. Marx mostra o curso do desenvolvimento da sociedade comunista, que é compelida a abolir primeiro apenas a 'injustiça' dos meios de produção que tinham sido apoderados pelos indivíduos; e que é incapaz de eliminar de uma vez as outras injustiças, que consistem na distribuição dos artigos de consumo de acordo com a quantidade da realização de trabalho" (e não de acordo com as necessidades).

Os economistas vulgares, incluindo os professores burgueses e o 'nosso' Tugan entre eles, constantemente acusam os socialistas de terem esquecido a desigualdade das pessoas e de 'sonharem' em eliminar essa desigualdade. Tal enfoque, como vimos, só prova a extrema ignorância dos senhores ideólogos burgueses.

Marx não apenas leva em conta, da maneira mais escrupulosa, a desigualdade inevitável dos homens, mas também leva em conta o fato de que a mera conversão dos meios de produção em propriedade comum do total da sociedade (comumente chamada 'socialismo') não remove os defeitos da distribuição e a desigualdade do 'direito burguês' que continua a prevalecer, enquanto os produtos são divididos 'de acordo com a quantidade de trabalho realizado'.

Continuando, Marx diz:


'Mas esses defeitos são inevitáveis na primeira fase da sociedade comunista, como ela é assim que emerge, depois de prolongadas dores do parto, da sociedade capitalista. O direito nunca pode ser maior do que a estrutura econômica da sociedade e o desenvolvimento cultural que desse modo é condicionado.'

E assim, na primeira fase da sociedade comunista (usualmente chamada socialismo), o 'direito burguês' não é abolido em sua inteireza, mas apenas em parte, somente em proporção à revolução econômica até então alcançada, isto é, somente a respeito dos meios de produção. O 'direito burguês' reconhece-os como propriedade privada dos indivíduos. O socialismo converte-os em propriedade comum. Nessa medida — e apenas nessa medida - o 'direito burguês' desaparece.

Entretanto, continua a existir na medida em que há outras partes aí envolvidas; continua a existir na capacidade de regulador (fator determinante) na distribuição dos produtos eno loteamento do trabalho entre os membros da sociedade. O princípio socialista: 'Aquele que não trabalha não comerá' está já realizado; o outro princípio socialista: 'Uma quantidade igual de produtos para uma quantidade igual de trabalho' está também Já realizada. Mas isso nãoé ainda o comunismo e não abole ainda o 'direito burguês', que dá a indivíduos desigifais, em retorno 'por quantidades desiguais (realmente desiguais) de trabalho, quantidades iguais de produto.

Esse é um defeito, diz Marx, porém é inevitável na primeira fase do comunismo; pois se não queremos recair no utopismo, não devemos pensar que, tendo derrubado o capitalismo, o povo instantaneamente aprenderá a trabalhar para a sociedade sem qualquer padrão de direito: e, de fato, a abolição do capitalismo não cria imediatamente a premissa econômica para tal mudança.

E não há outro padrão senão aquele do 'direito burguês'. Nessa medida, portanto, ainda permanece a necessidade de um Estado, que, enquanto salvaguarda a propriedade pública dos meios de produção, deveria salvaguardar igualmente o trabalho e a igualdade na distribuição dos produtos."

Após a análise acima notavelmente profunda, esse gigante, Lênin, procede a estabelecer as seguintes conclusões, que fluem das análises precedentes. O professor Thomson, MF e diletantes burgueses semelhantes no movimento da classe operária deveriam anotar bem cuidadosamente tais conclusões e compreender (isto é, se eles são capazes de tal coisa) o real significado dessas conclusões profundas.

Eis as conclusões de Lênin:


"O Estado definhará na medida em que não houver mais nenhum capitalista, nenhuma classe e, consequentemente, nenhuma classe possa ser suprimida.

Mas o Estado não definhará completamente, enquanto permanecer a salvaguarda do 'direito burguês', que santifica a desigualdade real. Para o Estado definhar completamente, o comunismo completo é necessário."


Assim, está perfeitamente clarç que Lênin tinha firmemente a visão de que o Estado continuará a existir após a primeira fase do Comunismo ter sido realizada, mesmo não havendo "nenhum capitalista, nenhuma classe e, consequentemente, nenhuma classe" que "possa ser suprimida". Vejamos o professor Thomson e outros que concordam com ele agora dizerem: "Aqui as classes exploradoras têm de ser eliminadas; a luta de classes, pareceria, está no fim." Devemos supor que MF e o professor Thomson estão bem conscientes do conteúdo de O Estado e a Revolução,em particular das conclusões acima citadas, que aparecem na página 113. O próprio MF cita O Estado e a Revolução de Lênin, e uma das citações que usa em seu artigo está separada das conclusões acima por não mais do que um par de páginas; deve-se presumir que ele foi realmente capaz de ler até a página 113. E, como o professor Thomson, cujo livró From Marx to Mao Tse-tung consiste de nada mais que uma coleção de citações de Marx, Engels, Lênin, Stalin e Mao, intercaladas com algumas distorções, estas distorções sendo sua única contribuição ao estudo da 'dialética revolucionária', devemos presumir que ele, Thomson, o leninista, também tenha lido a página 113 de O Estado e a Revolução, de Lênin. Contudo, ambos atacam Stalin por afastar-se do leninismo quando, de fato, Stalin estava apenas seguindo os passos de Lênin. Realmente, se esses companheiros corajosos devem atacar alguém poí ter uma visão antimarxista na questão das classes e da luta de classes sob o socialismo, eles devem atacar o camarada Lênin também, cujas pegadas o camarada Stalin seguiu. Estamos esperando tal demonstração de coragem de vocês, senhores 'críticos'!

Pode-se ver assim que ou nossos 'críticos' - que são críticos meramente por causa da quantidade de cavalos-vapor que usam, mais do que pela profundidade de suas análises - não leram a página 113 de O Estado e a Revolução, de Lênin, ou leram mas não entenderam, ou leram e entenderam o que aparecia nessa página mas estavam guardando silêncio e dirigindo seus golpes contra Stalin, enquanto realmente queriam atingir Lênin. Pois, se sua "crítica' de Stalin está correta, então, como mostrado acima, essa mesma 'crítica' se torna igualmente verdadeira de Lênin. Pode-se ver agora claramente que essas pessoas não são apenas inimigas de Stalin, são inimigas também de Lênin; não são propriamente antistalinistas, são de fato antileninistas. Esta é a verdade, e nenhuma quantidade de cavalos-vapor pode descartar esta verdade.

Assim, revela-se que quando Stalin dizia que as classes exploradoras tinham sido eliminadas, ele se encontrava em muito boa companhia, a do camarada Lênin. Assim está claro que Stalin não estava dizendo nada de novo; estava apenas repetindo o que Lênin tinha dito no começo de 1917. Stalin estava apenas registrando o estabelecimento na União Soviética de um fato do qual Lênin tinha falado à maneira de antecipação. Se os Thomsons e os MFs deste mundo pensam que Stalin estava sendo antimarxista na questão das classes, com toda a justiça eles devem dirigir suas alegações contra o camarada Lênin. Com toda a justiça, devem dizer que, sobre a questão das classes na sociedade socialista, Lênin era justamente tão antimarxista quanto Stalin. Com toda a justiça, eles devem estender a lógica de seu argumento em sua aplicação de Stalin para Lênin, de tal modo que todos possam claramente ver o absurdo 'lógico' desses 'aniquiladores' antileninistas de Stalin. Quem sabe, ao atacarem Stalin, os Thomsons, MFs e outros 'comunistas' cheios de conversa fiada deste mundo estejam indiretamente mas intencionalmente dirigindo seus golpes contra Lênin? Nesse caso, por que não têm a coragem de dizê-lo? O que lhes impede de fazer uma afirmação aberta? Só podemos supor que é seu desejo de não serem detectados como inimigos do leninismo que os impede de atacar Lênin abertamente. Eles querem fazer o trabalho sujo de 'aniquilar' o leninismo, enquanto ritualmente prestam seus respeitos ao nome do camarada Lênin. Eles até chamam a si mesmos de leninistas. Isto é realmente 'amotinação de joelhos', para usar uma expressão de Lênin,

Assim, está claro que ou essas pessoas estão inconscientes da completa coincidência, do completo acordo, entre a visão de Lênin e a de Stalin sobre a questão das classes em uma sociedade socialista, ou estão conscientes disso mas não têm a coragem e a honestidade para lançar contra Lênin as mesmas acusações que lançam contra Stalin, ou, pior ainda, estão fazendo uma tentativa malconcebida de atacar o leninismo sobre uma questão teórica importante - uma questão que é de significado prático de longo alcance para o movimento proletário mundial. Com isso estão apenas seguindo o rastro aberto pelos trotskistas que, sempre que querem atacar o leninismo (e isso eles fazem todos os dias), em parte por covardia e em parte por considerações diplomáticas, isto é, um desejo de não serem detectados como os trotskistas contra-revolucionários antileninistas que eles são, atacam o 'stalinismo' - e invariavelmente em nome de Lênin.


Nota

1. Os ataques do professor George Thomson foram tratados com mais detalhes no prefácio aos trabalhos de Stalin sobre a coletivização, que está reproduzido mais acima no presente volume.



3. Intensificação da Luta de Classes sob o Socialismo


Stalin aderiu à teoria da cessação da luta de classes no socialismo? Ele fez a "suposição de que a restauração só poderia ocorrer através de intervenção estrangeira"?

Justamente porque Stalin disse que as classes antagônicas não existiam na URSS, isso significa que deste modo ele afirmava que a luta de classes em si teria chegado ao fim e que daí em diante o povo da União Soviética poderia deitar-se sobre os louros da vitória? Não, não significa isso.

De acordo com os críticos burgueses, entretanto, Stalin acreditava que a luta de classes tinha chegado ao fim na União Soviética. Portanto, eles afirmam, Stalin acreditava que a restauração do capitalismo na União Soviética poderia ter lugar SOMENTE através da intervenção externa.

O professor Thomson, por exemplo, cita os seguintes extratos do discurso de Stalin sobre o Projeto de Constituição:


"A classe dos proprietários de terra, como vocês sabem, tinha já sido eliminada como um resultado da conclusão vitoriosa da guerra civil. Quanto às outras classes exploradoras, elas compartilharam do declínio da classe dos proprietários de terra. A classe capitalista na esfera da indústria cessou de existir. A classe dos kulaks na esfera da agricultura cessou de existir. Assim, todas as classes exploradoras foram agora eliminadas."


E: "O projeto da nova Constituição da URSS parte do fato de que não há mais quaisquer classes antagonísticas na sociedade."

Thomson passou então a fazer o seguinte estranho comentário, à guisa de crítica a Stalin:


"Aqui as classes exploradoras foram eliminadas; a luta de classe, pareceria, está no fim." (p. 131).


Estaria mesmo? Desde quando a eliminação das classes exploradoras, no sentido mencionado acima, é equivalente à eliminação da luta de classes? Se é considerada equivalente, isso é inteiramente arte dos professores burgueses tais como o professor Thomson, e não dos marxistas-leninistas como Stalin. Nunca o camarada Stalin disse que a luta de classes na União Soviética tinha chegado ao fim; tudo que ele disse foi que as classes exploradoras tinham sido eliminadas.

Porém, a eliminação das classes exploradoras, por um lado e a eliminação da luta de classes, por outro, são duas coisas diferentes. Em relação à primeira, já se mostrou acima que elas tinham sido eliminadas; no que diz respeito à ultima, será resumidamente mostrado que, longe de ser eliminada, a luta de classes não apenas continuou mas se tornou mais feroz. Que essa era a visão de Stalin, ficará plenamente depionstrado nas páginas que se seguem.

Para retornar a outro 'crítico', a saber, MF. Escrevendo no MLQ, o jornal teórico do CFB, MF assinala a seguinte passagem de Fundamentos do Leninismo, do camarada Stalin:


"Porém, derrubar o poder da burguesia e estabelecer o poder do proletariado não garante a vitória completa do socialismo. Após consolidar seu poder e tomar a frente do campesinato, o proletariado do país avançado pode e deve construir uma sociedade socialista. Mas isso significa que dessa fôrma o proletariado assegurará uma vitória completa e uma vitória final para o socialismo, isto é, significa que com as forças de um país isolado é possível finalmente consolidar e garantir plenamente esse país contra a intervenção, o que significa contra a restauração? Certamente não. Isso requer a revolução ao menos em vários países. E portanto tarefa essencial da revolução vitoriosa em um país desenvolver e apoiar a revolução em outros. Assim, a revolução em um pois vitorioso não deve se considerar uma unidade em si própria, mas como um auxiliar e meio de apressar a vitória do proletariado em outros países."


Tendo citado o parágrafo anterior, MF comenta:


"Consideraremos mais adiante qual é o significado da vitória 'final' do socialismo e vincularemos isso à SUPOSIÇÃO DE STALIN DE QUE A RESTAURAÇÃO PODERIA OCORRER SOMENTE ATRAVÉS DA INTERVENÇÃO ESTRANGEIRA" (ênfase minha).


Somente as pessoas que perderam todo o sentido de vergonha e honestidade podem interpretar as notas anteriores do camarada Stalin da forma como MF as interpretou. Somente pessoas que romperam com o marxismo-leninismo, que perderam os últimos vestígios da lógica humana ordinária, para não falar no pensamento marxista-leninista, podem dar às notas anteriores do camarada Stalin o significado dado a elas por MF.

Para voltar às notas do camarada Stalin, qual é exatamente o significado contido na passagem anterior? O que está dizendo exatamente o camarada Stalin? O camarada Stalin estava enfatizando, primeiro, a necessidade de construir o socialismo na URSS, o único país socialista naquela época. Em segundo lugar, ele estava enfatizando que o socialismo na URSS não poderia ser consolidado, nem poderia o território do socialismo ser plenamente garantido contra a intervenção, a menos que a revolução em um único país (a URSS) fosse conjugada com a revolução vitoriosa "em ao menos vários países". O camarada Stalin estava enfatizando, em terceiro lugar, que uma intervenção vitoriosa contra a URSS poderia significar apenas uma coisa, a saber, a restauração do capitalismo, pois a intervenção dos estados burgueses não abrigaria outro interesse. E, finalmente, ele estava enfatizando que, por todas as razões anteriores, se não por outras razões, a revolução na URSS deveria considerar-se parte integral da revolução em outros países, "como um auxiliar e um meio de apressar-a vitória do proletariado em outros países" e não "como uma unidade em si própria".

Em resumo, era necessário construir o socialismo na URSS; por si, a União Soviética podia construir o socialismo com sucesso; era improvável que a URSS fosse deixada sozinha; uma intervenção vitoriosa significaria a restauração do capitalismo; e a única garantia contra a intervenção e para a consolidação do socialismo na URSS seria "a vitória da revolução ao menos em vários países".

Onde, então, estava a alegada "suposição de que a restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira", de Stalin? Em lugar nenhum. Está claro que essa 'suposição' é pura fabricação da imaginação de MF Stalin disse que uma intervenção, se vitoriosa, inevitavelmente significaria a restauração do capitalismo - o que estava correto. MF distorce esse registro e acusa Stalin da "suposição de que a restauração SOMENTE poderia ocorrer através de uma intervenção estrangeira", o que estava incorreto e era algo que Stalin nunca disse. Contudo, tudo isso nos é apresentado como uma análise da "origem e desenvolvimento do revisionismo na União Soviética"! O tipo de embuste burguês perfeito empregado por MF em sua 'análise' está claro para qualquer um ver.

Antes de seguir adiante, é necessário enfatizar um ponto, a saber, que a distorção de MF acerca da "suposição de Stalin de que a restauração poderia ocorrer somente através de uma intervenção estrangeira" está baseada, como se mostrou acima, em uma má interpretação deliberada de uma nota dos Fundamentos do Leninismo, de Stalin, que é uma coleção de leituras proferidas por Stalin na Universidade de Sverdlov, no começo de abril de 1924. Esta data é muito importante. Dizer com base do discurso de 1924 de Stalin, como fez MF, que de acordo com Stalin a "a restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira" é dizer que de acordo com Stalin a luta de classes interna tinha chegado ao fim em 1924. Isso é precisamente o que MF está de fato dizendo. Esta acusação corre como uma linha carmesim.por todo seu artigo. Tendo atribuído a Stalin, com base numa passagem dos Fundamentos do Leninismo, a "suposição de que a restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira", MF segue dizendo que "a posição de Stalin estava em acordo com as visões expressas por Lênin já em 1915". Somente uma conclusão pode ser extraída desse comentário de MF, a saber, que desde 1915 era de Lênin a "suposição de que a restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira"! Que estranho!

MF continua repetindo na página 16 de seu artigo essa acusação contra o camarada Stalin, nos seguintes termos:

"Emerge disso (a sessão do discurso do camarada Stalin ao 18° Congresso do PCUS(B).citada por MF) que a luta de classes interna estava no fim na União Soviética em 1939". O ano de 1939 é acrescentado para reforçar, como forma de astúcia militar, o propósito de fazer o leitor acreditar que MF está acusando Stalin da "suposição de que a restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira" apenas a partir de 1939. Quando de fato, como mostramos acima, a acusação de MF data do ano de 1924. A acusação é sem base em qualquer caso, mas é muito importante considerar o período de 1924 a 1939. Eis alguns fatos desse período relacionados à questão da luta de classes (e sua intensificação) no socialismo.

Se Stalin tivesse acreditado em 1924, como alegam MF e criaturas como esta, que a "a luta de classes interna estava no fim na União Soviética" e que a "restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira", então, sua luta contra as tendências burguesas - tendências que, se se permitisse ganhar ascendência, teriam levado à restauração do capitalismo contra o bukharinismo e o trotskismo seriam completamente inexplicáveis.


A luta de Stalin contra o trotskismo e o bukharinismo é explicável apenas com base em ter Stalin aderido à teoria da intensificação da luta de classes no socialismo

Quais são os fatos? Os fatos são que Stalin empreendeu uma luta será tréguas contra a tendência oportunista de 'esquerda', do trotskismo. Tivesse sido o trotskismo vitorioso na luta contra a política do Partido Bolchevique, o resultado inevitavelmente teria sido a restauração do capitalismo. Mostramos isso em nossos panfletos sobre o trotskismo1.

Stalin também levou o Partido a empreender uma luta feroz e impiedosa contra a tendência oportunista de direita do bukharinismo. Tivesse o bukharinismo sido vitorioso em sua luta contra a política do Partido Bolchevique, o resultado também inevitavelmente teria sido a restauração do capitalismo.

O bukharinismo, que defendia que a luta de classes no socialismo estava destinada a se extinguir, sustentava a teoria dos capitalistas da "conversão pacífica ao socialismo". A teoria de Bukharin era uma forma disfarçada e sofisticada de advogar a restauração do capitalismo na URSS.

Stalin empreendeu luta feroz contra a teoria dos kulaks de Bukharin. Eis algumas citações - citações que mostram não somente que Stalin não defendeu a visão de que "a restauração do capitalismo poderia ocorrer somente através de uma intervenção estrangeira", como também que ele aderiu firmemente à teoria marxista-leninista de intensificação da luta de classes no socialismo - de discursos do camarada Stalin em sua luta árdua, feroz, consistente e inclemente contra o bukharinismo:


"Uma vitória do desvio de direita em nosso Partido significaria um fortalecimento enorme dos elementos capitalistas em nosso país. E o que significaria o fortalecimento dos elementos capitalistas em nosso país? Significaria enfraquecimento da ditadura do proletariado e aumento das chances de restauração do capitalismo.

Consequentemente, uma vitória do desvio de direita em nosso Partido significaria um desenvolvimento das condições necessárias PARA A RESTAURAÇÃO do capitalismo em nosso país" (Collected Works, Vol. 11, p. 235 - ênfase minha).


Pode alguém que não tenha ainda perdido o senso encarar as citações acima como significando que Stalin defendia a visão de que a "restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira"? Não, tal conclusão não pode ser derivada por alguma pessoa sadia. Se MF extraiu essas conclusões, ele dificilmente necessitará dizer que sua cabeça precisa ser examinada.

A única conclusão que se pode extrair das afirmações acima de Stalin é que a restauração poderia também ter lugar através dos elementos capitalistas na URSS, que seria ao que uma vitória do desvio de direita inevitavelmente teria levado.

Além disso, comparando o desvio de direita com o desvio de 'esquerda" (trotskista) no PCUS(B) e enfatizando que ambos conduziam, embora por direções diferentes, ao mesmo resultado, a saber, a restauração do capitalismo, o camarada Stalin disse isto:

"Em que repousa o perigo do desvio de direita, francamente oportunista, em nosso Partido? No fato de que ele subestima a força de nossos inimigos, a força do capitalismo; ele não vê o perigo da restauração do capitalismo; ele não entende o mecanismo da luta de classes na ditadura do proletariado. E, portanto, concorda tão radicalmente em fazer concessões ao capitalismo, propondo uma redução da taxa de desenvolvimento de nossa indústria, propondo concessões aos elementos capitalistas na cidade e no campo, propondo que a questão das fazendas coletivas e fazendas estatais seja relegada ao atraso, propondo que o monopólio do comércio exterior seja relaxado, etc., etc.

Não há duvida de que o triunfo do desvio de direita em nosso Partido abriria caminho às forças do capitalismo, minaria as posições revolucionárias do proletariado e aumentaria as chances da restauração do capitalismo em nosso país.

Em que repousa o perigo do desvio de 'esquerda' (trotskista) em nosso Partido? No fato de que ele superestima a força de nossos inimigos, a força do capitalismo, mas não consegue ver a possibilidade de construção do socialismo pelos esforços de nosso país; abre caminho para o desespero e é obrigado a se consolar com o falatório sobre tendências de Termidor em nosso Partido.

Das palavras de Lênin de que 'enquanto vivermos em um país de pequenos camponeses, há uma base econômica mais segura na Rússia para o capitalismo do que para o comunismo', o desvio de 'esquerda' extrai a falsa conclusão de que é totalmente impossível construir o socialismo na URSS; que não chegaremos a lugar algum com o campesinato; que a idéia de uma aliança entre a classe operária e o campesinato é uma idéia obsoleta; que, a menos que uma revolução vitoriosa no Ocidente venha em nosso auxilio, a ditadura do proletariado deve cair ou degenerar; que, a menos que adotemos o fantástico plano de superindustrialização, mesmo ao custo de uma ruptura com, o campesinato, a causa do socialismo na URSS deve ser considerada perdida.

Daí o aventurèirismo na política do desvio de 'esquerda'. Daí seus saltos 'super-humanos' na esfera da política.

Não há duvida de que o triunfo do desvio de 'esquerda' em nosso Partido levaria a classe operária a separar-se de sua base camponesa, a vanguarda da classe operária a separar-se do resto das massas operárias e, conseqüentemente, à derrota do proletariado e a facilitar as condições para restauração do capitalismo.

Vocês vêem, portanto, que ambos os perigos, o de 'esquerda' e o de direita, ambos os desvios da linha leninista, o de direita eode 'esquerda', levam ao mesmo resultado, embora por caminhos diferentes" (Collected Works, Vol. 11, pp. 240-241).


Não fica claro no texto acima que Stalin era firmemente da visão de que a restauração do capitalismo poderia também ter lugar através da vitória do bukharinismo ou do trotskismo, isto é, sem intervenção estrangeira? Está perfeitamente claro. Onde, então, apoiar-se a "suposição de Stalin de que a restauração poderia ocorrer somente através da intervenção estrangeira"?

Além disso:


Stalin: "Até agora, nós, marxistas-leninistas, éramos da opinião de que entre os capitalistas da cidade e do campo, por um lado, e a classe operária, por outro, há um antagonismo de interesses inconciliável. Isso é o que sustenta a teoria marxista da luta de classes. Mas agora, de acordo com a teoria de Bukharin da conversão pacífica dos capitalistas ao socialismo, tudo isto é virado de ponta-cabeça,, o antagonismo irreconciliável dos interesses de classes entre os exploradores e os explorados desaparece, os exploradores se convertem ao socialismo".

Rosit: "Isso não é verdadeiro, a premissa é a ditadura do proletariado." Stalin: MAS A DITADURA DO PROLETARIADO ÉA FORMA MÀIS AGUDA DA LUTA DE CLASSES" (Collected Works, Vol. 12, p. 32 - ênfase em maiúsculas minha).

Continuando, o camarada Stalin perguntava:


"Podem os capitalistas ser expropriados e as raízes do capitalismo ser destruídas sem uma luta de classes feroz?" Ele respondia: "Não, não podem"(Ibid. p. 34).

"Podem as classes ser abolidas se a teoria e a prática da conversão dos capitalistas ao socialismo prevalecer? Não, não podem. Tais teoria e prática podem apenas cultivar e perpetuar as classes, pois e$sas teorias contradizem a teoria marxista da luta de classes" (Ibid., pp. 34-35).

"O que pode haver em comum entre a teoria de Bukharin do conversão dos kulaks ao socialismo e a teoria de Lênin da ditadura como uma luta de classes feroz? Obviamente, não há e nem pode haver nada em comum entre elas.

Bukharin pensa que na ditadura do proletariado a luta de classes deve ser abrandada e chegar no fim de tal forma que a abolição das classes possa ser levada a cabo. Lênin, ao contrário, ensinou-nos que as classes só podem ser abolidas por meio de uma luta de classes obstinada, que na ditadura do proletariado se tornaria mais feroz do que era antes da ditadura do proletariado" (Ibid., p. 35).

Mesmo antes da luta contra o desvio de direita - Bukharinismo - começar para valer, o camarada Stalin tinha tido ocasião de assinalar que o avanço total do socialismo ocorria através da luta de classes feroz. Pois o socialismo em desenvolvimento, que estava imprensando os inimigos capitalistas da classe operária, não podia senão trazer à tona a resistência das classes moribundas. Eis o que o camarada Stalin teve a dizer em seu discurso de 9 de julho de 1928 na Plenária do Comitê Central do PCUS(B):


"Nós muitas vezes dizemos que estamos promovendo formas socialistas da economia na esfera da indústria. Mas o que isso implica? Implica que, pelo nosso avanço do socialismo, estamos imprensando e arruinando, talvez sem que percebamos, milhares e milhares de produtores capitalistas pequenos e médios. E de se esperar que essas pessoas arruinadas guardem silêncio e não tentem organizar resistência? Certamente não.

Nós muitas vezes dizemos que é necessário restringir a propensão exploradora dos kulaks no campo, que eles devem ser duramente taxados e o direito ao arrendamento da terra limitado, que aos kulaks não deve ser permitido o direito de voto na eleição dos sovietes e assim por diante. Porém, o que isso implica? Implica que nós estamos gradualmente pressionando e imprensando os elementos capitalistas no campo, algumas vezes levando-os à ruína. E de se presumir que os kulaks serão gratos a nós por isso e não se esforçarão para organizarem parte dos camponeses pobres ou camponeses médios contra a política do governo soviético? Certamente não. Não é óbvio que todo nosso movimento adiante, todo nosso sucesso de alguma importância na esfera da construção socialista, é uma expressão e resultado da luta de classes em nosso país?

Contudo, segue-se de tudo isso que, quanto mais avançarmos, maior será a resistência dos elementos capitalistas e mais dura a luta de classes, enquanto o governo soviético, cuja força aumentará firmemente, perseguirá uma política de isolar esses elementos, uma política de desmorcdizar os inimigos da classe operária, uma política, finalmente, de quebrar a resistência dos exploradores, portanto criando uma base para o avanço maior da classe operária e da principal massa do campesinato.

Não se deve imaginar que aç formas socialistas se desenvolverão, imprensando os inimigos da classe operária, enquanto nossos inimigos se retirarão em silêncio e abrirão caminho para o nosso avanço, que então nós avançaremos outra vez e eles outra vez se retirarão até que, 'inesperadamente', todos os grupos sociais sem exceção, kulaks e camponeses pobres, trabalhadores e capitalistas, encontrar-se-ão 'repentinamente' e 'imperceptivelmente', sem luta ou comoção, no seio de uma sociedade socialista. Tais contos de fadas não acontecem e não podem acontecer em geral e nas condições da ditadura do proletariado em particular.

Nunca aconteceu e nunca acontecerá que as classes agonizantes rendam-se de suas posições voluntariamente, sem tentarem organizar a resistência. Nunca aconteceu e nunca acontecerá que a classe operária possa avançar para o socialismo em uma sociedade de classes sem luta ou comoção. Ao contrário, a avanço para o socialismo não se dá senão fazendo com que os elementos exploradores resistam ao avanço, e a resistência dos exploradores não se dá sem levar ao inevitável endurecimento da luta de classes.

Daí que a classe operária não deve iludir-se com a conversa fiada da luta de classes desempenhando um papel secundário" (Collected Works, Vol. 11 pp. 179-180).

Não contente com a distorçãp já aqui comentada, MF segue (página 15) citando a seguinte passagem do Relatório de Stalin ao 18° Congresso do PCUS(B), como 'prova' de sua afirmação de que Stalin acreditava "que a luta de classes interna chegara ao fim na União Soviética em 1939".

"A segunda fase foi o período da eliminação dos elementos capitalistas na cidade e no campo, para completar a vitória do sistema econômico socialista e a adoção da nova Constituição. A tarefa principal nesse período era estabelecer o sistema econômico socialista em todo o país e eliminar os últimos elementos capitalistas remanescentes, realizar uma revolução cultural e formar um exérçito completamente moderno para a defesa do país. E as funções de nosso Estado soviético alteradas adequadamente. A função da supressão militar dentro do país cessara, morrera; a exploração tinha sido abolida, não restaram mais exploradores, e assim, não havia mais o que suprimir. Em lugar dessa função de supressão o Estado adquiria a função de proteger a propriedade socialista de ladrões e saqueadores da propriedade do povo. A função de defender o país dos ataques estrangeiros permaneceu plenamente; consequentemente, o Exército Vermelho e a Marinha também permaneceram plenamente, assim como os órgãos punitivos e o serviço de inteligência, que são indispensáveis para a detecção e punição dos espiões, assassinos e traidores mandados ao nosso país por serviços de espionagem estrangeiros. A fun-ção da organização econômica e da educação cultural pelos órgãos do Estado também permaneceram e foram desenvolvidos em sua plenitude. Agora, a principal tarefa de nosso Estado dentro do país é o trabalho da organização econômica pacífica e a educação cultural. Quanto ao nosso Exército, órgãos punitivos e serviço de inteligência, suas finalidades não estão mais voltadas para o interior do país mas para o exterior, contra os inimigos externos.

Como vocês vêem, temos um Estado inteiramente novo, socialista, sem precedentes na história e consideravelmente diferente em forma e funções do Estado socialista da primeira fase."

Das citações anteriores do discurso de Stalin, MF conclui:


"Emerge disso que a luta de classe interna tinha chegado ao fim na União Soviética em 1939."

Em nossa visão, nenhuma conclusão como a extraída por MF é legítima. Os seguintes pontos são relevantes para entender o significado contido nas citações anteriores do camarada Stalin:


Primeiro, é essencial entender o contexto no qual o camarada Stalin fez tais observações. Havia certas pessoas no Partido que estavam propondo que o Estado soviético fosse relegado "ao museu das antiguidades", visto que as classes exploradoras já tinham sido abolidas. Stalin, em sua exposição, estava PRINCIPALMENTE interessado em mostrar a natureza equivocada de tais propostas, enfatizando a necessidade de manter a ditadura do proletariado. E "a ditadura do proletariado é a forma mais aguda da luta de classes".

"A ditadura do proletariado é a continuação da luta de classes em novas condições. A ditadura do proletariado é uma luta obstinada - sangrenta e sem sangue, violenta epacífica, militar e econômica, educacional e administrativa - contra as forças e tradições da velha sociedade, contra os inimigos capitalistas externos, contra os remanescentes das classes exploradoras no país, contra os rebentos de uma nova burguesia que surgem no solo da produção de mercadorias que ainda não foi eliminada" (do Programa do Comintern).

Como, então, podemos dizer, como faz MF, que "conclui-se disso que a luta de classes interna tinha chegado av fim na União Soviética em 1939?" Stalin afirmou que a ditadura do proletariado - esta "forma mais aguda da luta de classes - já tinha se tornado em 1939 desnecessária e antiquada? Ele disse que o terreno da produção de mercadorias tinha já em 1939 sido eliminado na União Soviética? Não, ele nunca disse. Ao contrário, ele enfatizou a necessidade de manter a ditadura do proletariado em 1939, em seu discurso ao 18° Congresso do PCUS(B). E a respeito da eliminação da produção de mercadorias - isto estava longe de ser realizado mesmo em 1952, nunca pensado em 1939. Têm-se apenas de ler o panfleto Problemas Econômicos do Socialismo na URSS, do camarada Stalin, para fazer esta 'descoberta' que se mostrou tão difícil para MF e criaturas como ele.

Stalin, contrariando as distorções oportunistas sobre os escritos de Lênin, certa vez disse:


"Mas tomar Lênin em parte, sem desejar tomar Lênin como um todo, é deturpar Lênin" (Collected Works, Vol. 11, p. 171).

Deve-se agora acrescentar: Mas tomar Stalin em parte, sem desejar tomá-lo como um todo, é deturpar Stalin.

Isso é precisamente o que fazem MF e pessoas como ele, cuja profissão é encontrar trechos dos escritos de Stalin, citá-los fora de contexto, ligar fragmentos que não admitem ligações e chegar a asneiras ecléticas. Eles tomam Stalin em parte, sem desejarem tomá-lo como um todo, precisamente porque querem distorcê-lo - deturpá-lo. E todas essas deturpações fraudulentas eles apresentam ao movimento em nome de 'análise' da Origem e Desenvolvimento do Revisionismo na União Soviética!


Segundo, ao enfatizar a necessidade de manter o Estado soviético, o camarada Stalin caracterizou as fases do seu desenvolvimento, caracterizou as mudanças na FORMA da luta de classes na URSS. É nesse contexto que as passagens citadas antes do discurso de Stalin no 18° Congresso do PCUS(B) aparecem; e são essas passagens que nosso deturpador, MF, tem feito tudo o que pode para distorcer. Nessas passagens, o camarada Stalin nã'o estava fazendo mais do que dar expressão à mudança real nas posições externa e interna da URSS; estava enfatizando que NAQUELA ÉPOCA o principal perigo para a União Soviética vinha do exterior, isto é, da Alemanha fascista, enquanto internamente a classe operária soviética tinha temporariamente emergido vitoriosa em sua luta contra os remanescentes das antigas classes exploradoras, o que levava de fato a um abrandamento TEMPORÁRIO, não obstante real, da luta de classes INTERNAMENTE, isto é, na URSS. O mesmo, entretanto, não era Verdadeiro da situação externa - a internacional - da URSS, que de fato apresentava um quadro de efervescente intensificação da luta de classes. Consequentemente, Stalin estava absolutamente justificado em enfatizar a luta de classes EXTERNAMENTE, cuja ênfase, nas circunstâncias, estava destinada a dar a impressão de ter sido feita às expensas da luta de classes internamente. Mas ela não era feita às expensas da luta de classes internamente. Stalin estava absolutamente certo em sustentar que, NAS CONDIÇÕES QUE PREVALECIAM NAQUELA ÉPOCA, o caminho para tratar-da luta de classes EXTERNAMENTE era preparação militar por parte da União Soviética, enquanto INTERNAMENTE o melhor método de tratar dela era a prisão, julgamento e punição dos inimigos do regime soviético - espiões, assassinos, destruidores, etc. Stalin de fato teria cometido um erro se tivesse deixado de mudar a ênfase da luta de classes internamente para a luta de classes externamente.

Justamente porque Stalin enfatizou as mudanças que tiveram lugar na FORMA da luta de classes, isso significava que ele, portanto, esposou a teoria do abrandamento da luta de classes no socialismo? Não, certamente não significava isso. Nem uma vez o camarada Stalin, durante todo o seu discurso no 18° Congresso, ou em qualquer oportunidade em que tratou do assunto, sustentou que nas condições do socialismo, isto é, nas condições da ditadura do proletariado, a luta de classes" estava caminhando para se abrandar. Era justamente o oposto. Stalin todas as vezes enfatizava a teoria marxista-leninista da intensificação da luta de classes nas condições da ditadura do proletariado. As formas de luta podem mudar, mas a luta como tal permanece pela época histórica inteira dessa ditadura. Eis, por exemplo, o que o camarada Stalin dizia em 1937 - apenas poucos meses após a adoção da Constituição de 1936, isto é, o período sob exame do discurso de Stalin no 18° Congresso:


"É necessário desbaratar e descartar a teoria podre que diz que a cada passo do progresso que fazemos a luta de classes está destinada a se abrandar cada vez mais, que em proporção ao crescimento de nossos sucessos o inimigo da classe ficará cada vez mais dócil.

Isso não é apenas uma teoria podre, é também uma teoria perigosa, pois apazigua o nosso povo, conduz-no a uma armadilha, enquanto permite ao inimigo da classe a possibilidade de unir-se contra o poder soviético.

Ao contrário, quanto maior o nosso progresso, quanto maiores os nossos

sucessos mais angustiados os remanescentes das esmagadas classes exploradoras

se tornarão e mais rapidamente eles recorrerão às formas mais agudas de luta,

mais eles tentarão prejudicar o Estado Soviético, mais eles recorrerão a meios desesperados de luta como o último recurso dos condenados. Devemos ter em mente que os remanescentes das classes derrotadas na URSS não estão sozinhos. Eles têm apoio direto de nossos inimigos além das fronteiras da URSS. Seria um erro supor que a esfera da luta de classes está limitada às fronteiras da URSS. Enquanto uma extremidade da luta de classes opera dentro da URSS, a outra extremidade se estende aos Estados burgueses que nos circundam. Os remanescentes das classes derrotadas não podem estar inconscientes disso. E justamente porque estão conscientes disso, seguirão com suas investidas desesperadas.

E isso que a história nos ensina. É isso que o leninismo nos ensina. Devemos recordar tudo isso e estarmos em guarda" (Sobre os Defeitos no Trabalho do Partido e as Medidas para Liquidar os Trotskistas e Outros Charlatões).

E adiante:


"Ê necessário desbaratar e descartar uma quinta teoria podre, que alega

que os traidores trotskistas não têm mais reservas, que alega que eles estão reunindo

seus últimos quadros.

Isso não é verdade, camaradas. Esta teoria pode ser inventada apenas por

pessoas ingênuas. Pois os traidores trotskistas têm suas reservas. Elas consistem

ACIMA DE TUDO DOS REMANESCENTES DAS CLASSES EXPLORADORAS DERROTADAS

NA URSS. Elas consistem de grupos e organizações além dos limites da

URSS que são hostis à União Soviética" (Ibid. - ênfase minha).


Agora, mesmo os cegos podem ver que Stalin manteve firmemente a teoria

da continuação e intensificação da luta de classes no socialismo. Essa teoria foi

colocada na prática pelo PCUS no período de Stalin, que foi anterior e posterior a

1937. Em 1937-38 foi adotada contra o Bloco dos Direitistas e Trotskistas. Foi

restabelecida muitas vezes nos períodos apropriados em 1920,1930 e 1940, e continuou a ser a posição básica do PCUS(B) até após a morte de Stalin. Somente no

20° Congresso do Partido foram os modernos revisionistas kruchevistas capazes de

pôr em prática a "teoria podre ... de que a cada passo do progresso ... a luta de

classes está destinada a se abrandar ...", Eles necessitavam de sua teoria podre e

perigosa a fim de apaziguar o povo soviético, a fim de levá-lo a uma armadilha,

enquanto seguem na sua tarefa de restaurar o capitalismo na URSS.

Assim, está perfeitamente claro que Stalin não defendeu a visão de que a

luta de classes DENTRO da URSS estava no fim; ao contrário, ele aderiu firmemente

à teoria marxista-leninista da intensificação da luta de classes no socialismo. O

que é mais, ele tinha profundo entendimento da relação da luta de classes dentro

da URSS e da "extensão desta luta nos Estados burgueses circundantes" da URSS;

da luta de classes interna e externa. Ele entendeu muito bem que a esfera da luta de

classes não tinha limites; "seria um erro", ele disse, "supor que a esfera da luta de

classes está limitada às fronteiras da URSS". E os remanescentes das classes exploradoras não podiam senão estar conscientes disso.

Embora os remanescentes das classes exploradoras mostrassem uma consciência

da grande verdade de que a luta de classes não tem limites, parece que um

certo marxista sem caráter, a saber, MF, está completamente inconsciente disso.

Por que, de outra forma, ele atacaria Stalin por mudar de ênfase, de acordo com as

mudanças reais na situação interna e externamente, da luta de classes interna para

a externa? Os MFs deste mundo não têm idéia de que "fenômeno desagradável",

não apenas uma frase vazia, é o cerco capitalista.

Talvez MF pensasse que, a despeito do real, se temporário, abrandamento

da luta de classes em 1939 na URSS, Stalin e o governo soviético e o Partido deveriam

estimular a luta de classes - incitar a luta de classes. Bem! Nem o Partido

soviético, nem o governo soviético nem Stalin eram estúpidos o bastante para perseguirem tal política. Não seria sua política incitar a luta de classes.


"Por certo nossa política não deve de forma alguma ser considerada uma

política de incitar a luta de classes. Por quê? Porque incitar a luta de classes leva à

guerra civil. Porque, na medida em que estamos no poder, na medida em que consolidamos nosso poder e as posições-chave estão nas mãos da classe operária, não

é de nosso interesse que a luta de classes assuma as formas de uma guerra civil.

Porém, isso não implica em que a luta de classes tenha sido abolida ou que ela não

tenda a endurecer. Ainda menos implica que a luta de classes não é o fator decisivo

em nosso avanço. Não, nãó é isso." (Collected Works, Vol. 11, p. 178).


A luta de classes no socialismo se intensifica não por ser incitada pelo

Partido e pelo governo, mas por causa da lei objetiva de desenvolvimento do socialismo; cada avanço do socialismo é realizado às expensas das classes exploradoras - interna e externa - e estas não podem senão recorrer a uma resistência desesperada. Mas é igualmente verdadeiro que, após a derrota das classes exploradoras em batalhas abertas, um alívio TEMPORÁRIO pode ser ganho; a luta de classe internamente e externamente pode TEMPORARIAMENTE abrandar. Após a derrota das forças intervencionistas, a União Soviética ganhou um alívio temporário em matéria da luta de classes externa.

Porém, a luta de classes interna se tornou cada vez mais feroz até 1939,

quando uma vez mais a ênfase teve de ser deslocada por causa das mudanças reais

na luta de classes no país e no exterior, para a luta de classe externa. Nada disso

implica "que a luta de classe interna estava no fim na União Soviética em 1939",

ainda menos que a derrota dos intervencionistas tivesse implicado o fim da luta de

classes externa.

MF deve ter imaginado que suas calúnias não seriam respondidas. Os escritos

de Stalin, para não falar da história do período em consideração, seriam mais do

que suficientes para refutar as calúnias de ME Assim, guiado por considerações desse

tipo, deve-se presumir, MF declarou em um trabalho subseqüente do MLQ (n° 4):


"Entender o revisionismo na União Soviética é entender' como e por que o

poder dos operários estabelecido em 1917 veio a ser derrotado. Nenhum entendimento é possível a menos que seja reconhecido que o período de transição para a sociedade sem classes é. no sentido histórico mundial e no caso de cada país particular, um período de intensa luta de classes. A natureza da ditadura do proletariado como um período de transição envolvendo agudo conflito de classes foi enfatizada por Lênin - particularmente em sua polêmica com Kautsky. A idéia de um

'establishment socialista' - do socialismo como um sistema completo, como distinto de uma sociedade transitional - tornou-se amplamente aceita no começo de 19302,

e, embora não houvesse disjuntura3 explícita entre os dois conceitos, a realidade

objetiva da sociedade soviética foi teorizada por Stalin de uma forma confusa e

contraditória [sic]. Nosso principal interesse não é determinar se ele reconheceu a

existência das classes e das contrações [sic] de classed entre as classes (às vezes ele

escreveu como se tivesse reconhecido; outras vezes, como se não tivesse reconhecido),

mas se as políticas perseguidas por Stalin e a direção soviética eram consistentemente

políticas proletárias perseguidas por direções proletárias.em luta contra a

classe inimiga. Não podemos nos ocupar de questões de política desligadas das

realidades do poder de classe. Quão real era o poder político da classe operária na

União Soviética entre a morte de Lênin e a morte de Stalin ?"5


Aqui se tem uma formulação completamente oportunista da questão - uma

formulação que, em todos os aspectos, é 'perfeita' no sentido de que fala sobre tudp

e ainda tem a 'vantagem' de não comprometer seu autor com nenhum ponto de

vista específico, de deixá-lo com espaço para manobras de forma a esquivar-se de

quaisquer dificuldades possíveis. MF é um homem que fala muito e, todavia, não

diz nada. Por um lado, ele diz, no parágrafo acilna, que é impossível entender o

triunfo do revisionismo na União Soviética "a menos que seja reconhecido que o

período de transição para a sociedade de classes... é um período de intensa luta de

classes"; por outro lado, um par de.sentenças mais adiante no mesmo parágrafo, o

mesmo MF diz: "nosso principal interesse não é determinar se ele [Stalin] reconheceu

a existência das classes e das contradições entre as classes [notemos como MF

desesperadamente está tentando aqui evitar o uso da expressão 'luta de classes']...",,

Não estamos mesmo interessados na questão das classes e das "contradições entre

as classes", Mr. MF? Como, então, é possível entender "revisionismo na União

Soviética" quando, de acordo com a sua própria receita, "Nenhum entendimento

[do revisionismo] é possível a menos que seja reconhecido que o período de transição

para a sociedade sem classes é ... um período de intensa luta de classes"? Por

que, então, tanto espalhafato acerca das classes e da luta de classes?

Tendo espalhado suas calúnias no número 2 do MLQ, MF, trotskista que é,

trota à maneira típica dos trots*, para mudar a ênfase no numero 4 do MLQ das

classes e da luta de classes para se as políticas de Stalin e do PCUS(B) foram ou

não "consistentemente políticas revolucionárias proletárias". Isso é o que se chama

'dialética'! E esta é a única aplicação da 'dialética' com que MF e outros oportunistas

estão familiarizados, na qual, com suas necessárias mudanças oportunistas,

são forçados a irem sempre mudando em suas alegações e posições que adotam. O

espetáculo dessas acrobacias 'dialéticas' desses oportunistas é muito divertido de fato.

E a confusão completa na qual MF se mete não impede de forma alguma

que MF afirme, com a audaciosa ignorância característica dele, que "a realidade

objetiva da sociedade soviética foi teorizada por Stalin de uma forma confusa e

contraditória". Não é engraçado? Deixemos ao leitor julgar sobre quem está teorizando "a realidade objetiva" de uma "forma confusa e contraditória"-MF ou Stalin?

A maneira completamente ilusória, difusa - e completamente oportunista

- das formulações acima de MF traz à memória a caracterização de Lênin dos oportunistas em geral. Esta caracterização é importante para nós não somente por causa de seu significado geral, mas também porque se ajusta perfeitamente a MF. Eis o que o camarada Lênin disse sobre os aspectos específicos do oportunismo e dos oportunistas:


"Quando falamos de oportunismo na luta, não devemos esquecer os aspectos

característicos de todo o oportunismo dos dias atuais [e é igualmente muito

verdadeiro em nosso tempo] em todas as esferas, a saber, indefinidamente,

difusamente, ilusoriamente. Um oportunista, por sua própria natureza, sempre foge

de formular um acontecimento decisivamente, ele busca um curso médio, ele se

move como uma serpente entre dois pontos de vista mutuamente excludentes, tentando 'concordar' com ambos e reduzir suas diferenças de opinião a emendas triviais, dúvidas, sugestões virtuosas e inocentes e assim por diante." (One Step Forward, Two Steps Back).


Aqui se tem a caracterização do oportunista que teme uma formulação

clara e definida dos acontecimentos, pois clareza e definição significam a derrota

para os oportunistas e para o seu oportunismo. Indefinições, difusão e ilusionismo,

por outro lado, fornecem precisamente o terreno e o clima para o crescimento

luxuriante do oportunismo. É dever dos revolucionários proletários lutarem não

somente contra o oportunismo do presente, mas também contra a forma que esse

oportunismo assume em sua aparência, nominalmente, em sua difusão, ilusionismo

e indefinição. Devemos continuar a insistir em uma formulação clara e definida de

desacordos, temas e questões de princípio. Somente tal insistência pode vir em ajuda

do movimento na tarefa de erradicar a confusão e esclarecer os acontecimentos.


Notas

1. Ver a série Algumas Questões Relativas à Luta do Trotskismo Contra-Revolucionário Contra o Leninismo Revolucionário, que aparece neste livro imediatamente após o Prefácio.

2. Esta calúnia"não impediu MF de dizer em MLQ 2 que Stalin "acreditava que era

possível construir o comunismo em um só país". O que é isso, Mr. MF? Ou Stalin acreditava que a sociedade soviética estava caminhando na direção do comunismo, em cujo caso era uma sociedade transicional - estava em um estado de transição - ou ele acreditava que ela não estava caminhando nêssa direção, isto é, era um "establishment socialista" - "um sistema completo, em contraste com uma sociedade transicional"?

3. O dicionário não contém esta palavra*. Isto apenas mostra que Mr. MF não está

apenas enriquecendo e .desenvolvendo o marxismo, ele está também enriquecendo e desenvolvendo a língua inglesa.

4. Como MF, não estamos de todo seguros se Stalin reconheceu 'contrações' de classe

em todos os sentidos da expressão. Se, entretanto, MF pretende dizer contradições de classe, isso o camarada Stalin certamente reconheceria, como se viu acima.

5. Quanto ao poder político da classe operária ser menos real na União Soviética entre

a morte de Lênin e a morte de Stalin, por um lado, e entre a Revolução de Outubro e a

morte de Lênin, por outro, deixamos ao leitor, que não pode ser, por mais longe que alcance a imaginação, mais ignorante do que MF com respeito à história do período sob consideração, julgar por si. De nossa parte, apenas dizemos isto: nosso entendimento é que o poder político da classe operária é maior após a eliminação das classes exploradoras do que antes; e esta eliminação teve lugar "entre a morte de Lênin e a morte de Stalin". Agora mesmo, MF deve, com toda a justiça, ser capaz de juntar 2 e 2 e encontrar 4, isto é, que o poder político da classe operária era mais real entre a morte de Lênin e a morte de Stalin.



4. O Comunismo em um Só País


MF elevou o nível da controvérsia em torno do socialismo para "o comunismo

em um só país". Eis o que ele tem a dizer sobre isso na continuação:

"E, voltando-se para o futuro, Stalin declarou:

'Mas o desenvolvimento não pode parar aí. Estamos seguindo adiante, para

o comunismo. Nosso Estado permanecerá também no período do comunismo?'

E respondeu:

'Sim, a menos que o cerco capitalista seja liquidado e a menos que o

perigo do ataque militar estrangeiro tenha desaparecido.'"


Eis o comentário de MF sobre as citações acima dp camarada Stalin:


"Depreende-se dessa parte do relatório de Stalin, acima citada, que ele acreditava

ser possível construir o comunismo em um só país. Tal proposição diverge

radicalmente de toda a discussão sobre o 'socialismo em um só país' que tinha sido

conduzida pelos trotskistas nos anos 1920. Também diverge do marxismo-leninismo.

Falar de um Estado perdurando em uma sociedade comunista é um absurdo, tornado

ainda mais absurdo pelas condições a respeito da possibilidade do cerco hostil.

A sociedade comunista pressupõe o fim das classes e o definhamento do Estado e é,

como disse Mao, dependente da 'abolição do sistema de exploração do homem pelo

homem em todo o niundo'. Só é possível falar da vitória final uma vez que se tenha

realizado o comunismo" (p. 16).

Não se pode senão rir do espetáculo absurdo de um dos 'teóricos' - um dos

luminares dirigentes - da CFB semimenshevique, semitrotskista (não se deve esquecer

de acrescentar - MF) presumivelmente para ensinar ao camarada Stalin

que "a sociedade comunista pressupõe o fim das classes e o definhamento do Estado".

Esta fórmula não é descoberta da CFB. Marx foi o único a fazer esta descoberta..

E Stalin, há longo tempo, mesmo sem o cuidado paternalísticoda CFB, tinha se

orientado pela essência dessa fórmula - não simplesmente decorada como fez a

CFB, o que não a impediu de fazer um esforço para converter Stalin ao seu método

de decorar frases e fórmulas.

O que dizia exatamente Stalin nas citações acima? Stalin estava ali levantando

a questão puramente abstrata, teórica, da POSSIBILIDADE da construção do

comunismo na URSS, enquanto o cerco capitalista não tivesse sido ainda liquidado.

Em abstrato, tal formulação da questão era muito possível e legítima. Em 1939,

conforme mencionado acima, as classes exploradoras tinham sido abolidas, mas o desenvolvimento não tinha parado aí. A sociedade soviética estava seguindo adiante

para o comunismo, como de fato deve fazer qualquer sociedade socialista

desde o dia da revolução. E se o desenvolvimento fosse continuar sem que os

países capitalistas atacassem militarmente a URSS? E se a URSS fosse continuar "

sozinha por décadas - talvez por séculos - no caminho para o comunismo sem ter

sido seguida pela revolução vitoriosa em outros países? E se no curso de seu desenvolvimento

fossem alcançadas as condições materiais e culturais cuja realizarão

a capacitaria a levar a efeito a fórmula: 'de cada um de acordo com sua capacidade

e para cada um de acordo com suas necessidades'? Em tal caso, a sociedade

soviética teria se tornado uma sociedade comunista, mas o Estado não poderia

ainda ser abolido, por causa do cerco capitalista. E não seria útil tentar aplicar à

única situação anterior, que temos descrito como correta, senão nessa situação

inaplicável, a fórmula "a sociedade comunista pressupõe o fim das classes e o

definhamento do Estado", pois esta fórmula não considera a situação que acabara

de ser postulada.

Simplesmente por que Stalin levantou a questão abstrata, puramente teórica,

da possibilidade de construir o comunismo na URSS enquanto ainda existia o

cerco capitalista, isso significa que era assim que ele pensava que aconteceria?

Não, certamente não. O reino da possibilidade é muito mais amplo do que o da

realidade. A possibilidade não é .nem probabilidade, que dizer da realidade. Enquanto

é possível pensar no abstrato, e isso foi o que o camarada Stalin fez, de uma

situação em que um país alcançasse o estágio comunista enquanto o cerco capitalista

ainda estava em volta, na prática as coisas são diferentes. Muito antes que

qualquer país alcance a fase mais elevada da sociedade comunista, o mais provável

é que a revolução se espalhe para outros países ou, EVENTUALMENTE, não havendo

revolução em outras partes, o socialismo será destruído naquele dado país

também pelo cerco dos Estados capitalistas, pois "com as forças isoladas de um só

país" é muito difícil de fato para o proletariado "assegurar uma vitória final e completa para o socialismo", para "finalmente consolidar o socialismo e garantir plenamente este país contra a intervenção, o que significa contra a restauração", como Stalin assinalou nos Fundamentos do Leninismo, muito antes de se ter pensado na CFB; pois "seria insensato pensar que o capital internacional nos deixaria em paz"

(Collected Works, vol. 11, p. 58).


Não há dúvida de que, numa-dada sociedade socialista, o desenvolvimento

segue na direção de uma sociedade completamente comunista, mas o desenvolvimento

segue nessa direção através de tais contradições - externas e internas - que,

ANTES que se realize o comunismo completo, haverá a revolução mundial ou o

avanço da sociedade na direção do comunismo se estancará.

Portanto, embora não se negue no abstrato, embora se admita no abstrato e

se pense de tal situação como concebida pelo camarada Stalin, não se deve contar

que aconteça, não se deve rejeitar as tarefas da luta de classes enfrentada pela

sociedade socialista, não se deve abstrair-se - desligar-se - da vida real em nome

dos sonhos. Não há nenhuma sombra de evidência para sugerir que o camarada

Stalin tenha rejeitado as tarefas da luta de classes com que se defrontava então a

sociedade soviética, em nome de sonhos. Ao contrário, não se deve esquecer que

suas citações foram tomadas daquela parte do seu discurso ao 18° Congresso no

qual ele censurava alguns camaradas do Partido, que estavam então propondo que

o Estado soviético fosse relegado ao "museu de antiguidades"; não se deve esque-cer que, nessa parte do seu discurso, como mostrado acima, ele estava PRINCIPALMENTE

interessado em enfatizar a necessidade da manutenção do Estado. As citações

sobre as quais MF fez tanto espalhafato tiveram a forma de uma formulação

abstrata, teórica, da questão, e não a forma de rejeição dos problemas da luta de

classes. Ele estava simplesmente dizendo aos camaradas que erroneamente propunham

a abolição do Estado: camaradas, de uma forma ou de outra, o Estado soviético

está destinado a permanecer por um período considerável; a tarefa de abolição

do Estado pertence ao futuro; continuemos mais com os problemas da luta de

classes e o combate aos inimigos externos e internos da sociedade soviética e menos

com o da abolição do Estado, por agora.

Antes de deixar a questão do 'comunismo em um único país', pensamos

que seria frutífero aqui fazer referência à visão de Lênin sobre a teoria de Kautsky

do 'ultra-imperialismo', pois ela tem alguma relação com a questão que estamos

tratando, a saber, a relação entre a possibilidade e a probabilidade. Rara que não

sejamos incompreendidos, repetimos que é apenas para revelar a relação da possibilidade

com a probabilidade que comparamos a teoria contra-revolucionária de

Kautsky do ultra-imperialismo com as referências do camarada Stalin à possibilidade

do comunismo na URSS. Afora isso, não há similaridade entre as duas coisas.

A hostilidade implacável de Lênin à teoria de Kautsky do ultra-imperialismo

'pacífico' é bem conhecida. Lênin defendia, de forma absolutamente correta,

que somente 'o rompimento aberto com o marxismo' de Kautsky podia ter levado

este a "sonhar com um 'capitalismopacífico'". Lênin atribuiu o ultra-imperialismo

de Kautsky ao desejo pequeno-burguês deste de recusar-se a enfrentar - de fugir -

dos "conflitos políticos, convulsões e transformações que caracterizavam a época

imperialista" e procurar refugiar-se em sonhos essencialmente pequeno-burgueses

e "contemplações inocentes a respeito do ultra-imperialismo 'pacífico'". Em outras

palavras, a base da teoria de Kautsky do ultra-imperialismo 'pacífico' nada era senão

o desejo reacionário de um filisteu de eliminar os conflitos que são mais desagradáveis,

mais perturbadores e ofensivos aos pequeno-burgueses, tais como as

guerras, as convulsões políticas, etc., "um desejo de dar as costas à época imperialista

já presente — uma época plena de conflitos, catástrofes, convulsões, guerras e

revoluções—e voltar-se para "sonhos inocentes de um ultra-imperialismo comparativamente

pacífico, comparativamente sem conflitos, comparativamente não catastrófico".

Na prática, a teoria do "ultra-imperialismopacífico" significava o abandono

das cansativas tarefas revolucionárias impostas pela época do imperialismo e a

colocação em seu lugar de ilusões sonhadoras acerca da morte da época atual, imperialista,

e sua substituição por uma "época comparativamente 'pacífica' do ultraimperialismo

que não propunha tais táticas 'duras'" por parte do proletariado.

Assim, pode-se ver que o leninismo é irreconciliavelmente oposto à teoria

inconseqüente de Kautsky do "ultra-imperialismopacífico", porque esSa teoria embalava

as massas proletárias para o sono, com sonhos essencialmente pequenoburgueses

em torno do enfoque do "ultra-imperialismo" que, alega-se, é comparativamente

pacífico, comparativamente livre de conflitos, comparativamente livre

de convulsões e dos levantes característicos da época atual - precisamente uma

época em que é necessário preparar as massas para enfrentar as tarefas impostas

pelo presente imperialista, época que está longe de ser pacífica. Da incompatibilidade

do leninismo com o entulho contido na teoria de Kautsky do "ultra-imperialismo",

não obstante, encontramos o seguinte parágrafo no mesmo artigo do cama-rada Lênin, denominado Prefácio a O Imperialismo e a Economia Mundial (NI) de

Bukharin, do qual as frases e expressões que aparecem nas citações no parágrafo

imediatamente precedente são extraídas:


"Pode-se negar, entretanto, que uma nova fase abstrata do capitalismo segue-

se ao imperialismo, a saber, uma fase do ultra-imperialismo é 'imaginável'?

Não. No abstrato, pode-se pensar uma tal fase. Na prática, aquele que rejeita as

, tarefas duras do presente em nome dos sonhos acerca de tarefas fáceis do futuro se

torna um oportunista. Teoricamente, significa deixar de basear-se nos acontecimentos

que têm lugar hoje, na vida real, distanciar-se deles em nome dos sonhos.

Não há dúvida de que os acontecimentos estão seguindo na direção de um único

monopólio mundial, que absorverá todas as empresas e todos os Estados sem exceção.

Mas o desenvolvimento nessa direção ocorre sob tal tensão, em tal ritmo, com

tais contradições, conflitos e convulsões - não apenas econômicas, mas também

políticas, nacionais, etc., etc.- que antes que se chegue a um único truste internacional,

antes que os respectivos capitais financeiros nacionais tenham formado uma

união mundial do 'ultra-imperialismo', o imperialismo inevitavelmente explodirá,

o capitalismo gerará o seu oposto."

Em outras palavras, NO ABSTRATO, Lênin não estava preparado para negar

MESMO uma nova fase do capitalismo a seguir-se ao imperialismo, a saber,

uma fase do ultra-imperialismo. Tal fase, disse Lênin, era concebível, pois o desenvolvimento

procedia "na direção de um único truste mundial que absorveria todas

as empresas e todos os Estados, sem exceção". Se tal fase era pensável, como Lênin

defendeu corretamente, porque seria então impensável NO ABSTRATO que o comunismo

em um só país (a URSS) era possível de acontecer (sem a abolição do

Estado, por causa do cerco capitalista), quando o desenvolvimento naquele país

estava se desenvolvendo "na direção do comunismo? Na prática real, entretanto,

com toda a PROBABILIDADE, nem o estágio do ultra-imperialismo nem aquele do

"comunismo em um só país" era alcançável. Muito antes, o capitalismo em todas

as partes chegaria ao seu oposto, o socialismo.

A questão do ultra-imperialismo foi assim resgatada para mostrar a relação

entre a possibilidade e a probabilidade; para mostrar que a relação entre a possibilidade

e a probabilidade é a mesma nos dois casos, isto é, o ultra-imperialismo e o

comunismo em um só país. A nogso ver, o ultra-imperialismo, embora imaginável

no abstrato, é impossível na PRÁTICA de realizar-se, como é 'o comunismo em um

único país', que é também imaginável no abstrato.

Há, entretanto, um aspecto significativo em que o abstrato da formulação

de Stalin da possibilidade do 'comunismo em um único país' difere da formulação

de Kautsky do ultra-imperialismo, a saber, enquanto Kautsky estava levando adiante

sua teoria no sentido de embalar o proletariado para o sono com sonhos essencialmente

pequeno-buigueses sobre o vindouro ultra-imperialismo pacífico, a

fim de escapar às tarefas da luta de classes, Stalin, por seu turno, ao enfatizar a

necessidade de não somente manter, senão fortalecer a ditadura do proletariado,

estava preparando o proletariado da URSS, assim como de todo o mundo, para a

luta de classes de hoje, enquanto, ao mesmo tempo, permitia-se pensar e, portanto,

não negar NO ABSTRATO a possibilidade do comunismo na URSS. Além disso,

Stalin, ao levantar a possibilidade teórica de construção do comunismo na URSS,

estava ajudando a marcha adiante do povo soviético para o comunismo. Na situação

em que a União Soviética se encontrava, quando ela tinha eliminado as classes exploradoras e a ela não tinha ainda se juntado a revolução vitoriosa em outros

países, apenas a POSSIBILIDADE de construir uma sociedade comunista, de marchar

na direção de uma sociedade comunista com passos de sete léguas, poderia

ser a base para os desenvolvimentos adiante da sociedade soviética. A única alternativa

teria sido negar esta POSSIBILIDADE e assim vegetar e estagnar, enquanto

se esperava a revolução mundial antes de avançar mais naquela direção, pois

não se pode avançar naquela direção se se nega ATÉ MESMO A POSSIBILIDADE

DE fazê-lo.

Assim, pode-se ver que o contexto no qual Stalin levantou sua possibilidade

(isto é, a possibilidade de construir o comunismo completo na URSS) é

diametralmente oposta ao contexto em que Kautsky levantou sua possibilidade (a

possibilidade do ultra-imperialismo pacífico). Enquanto o efeito de Stalin levantar

a POSSIBILIDADE de construir o comunismo (enquanto ao mesmo tempo se preparando

para uma gigantesca luta de* classes externa e interna e a enfrentando,

enquanto fortalecendo a ditadura do proletariado - esta forma mais aguda da luta

de classes) era ajudar a consolidar e seguir adiante com a construção do socialismo

e o movimento em direção ao comunismo; portanto, nenhuma crítica a Stalin por

levantar tal possibilidade é justificável.

Kautsky, por outro lado, ao levantar a possibilidade de um ultra-imperialismo

pacífico, estava espalhando o oportunismo, embalando as massas para o sono,

ocultando os aspectos da época imperialista - nada pacífica - e escapando às tarefas

enfrentadas pelo proletariado na época. Daí Lênin estar perfeitamente justificado

em atacar Kautsky por levantar a possibilidade (uma possibilidade que o próprio

Lênin não negava no abstrato), pois essa possibilidade tinha sido levantada

por Kautsky como uma forma de diversionismo, como uma forma de repúdio às

tarefas revolucionárias com que se defrontava a revolução.


5."Degeneração Nacionalista"


A segunda alegação é a da 'degeneração nacionalista' na União Soviética.

Há alguma evidência para provar que a degeneração nacionalista tinha subjugado

a União Soviética durante o tempo de Stalin? Não há tal evidência sequer para

apoiar, sem falar de provar, que a União Soviética durante aquele período foi guiada

por normas do nacionalismo burguês mais do que por aquelas do proletariado

internacionalista. Quais são, então, os fatos sobre os quais MF baseia suas alegações?

Os fatos de MF (que são literalmente os fatos de MF, pois ele é o único fabricante

deles) são os seguintes:

Na página 18 de seu artigo ele escreve: "Aproximadamente desde o tempo

do lançamento do movimento da Frente Popular, pode-se dizer que o interesse com

a posição nacional da URSS teve precedência na política sobre os interesses do

movimento comunista e operário internacional."

Pode-se mesmo?

Ao ligar-se essa alegação geral não substantiva com algo anterior (nas páginas

10, 12 e 13) sobre "a relação enviesada que veio a prevalecer no Comintern"

entre o Partido Bolchevique "e os partidos mais fracos no exterior, que passaram a

existir basicamente por iniciativa dos bolcheviques", não se pode senão chegar à

conclusão de que, de acordo com MF, durante todo o período sob consideração, o

Partido Bolchevique USOU (no pior sentido da expressão) o Comintern e abusou

da confiança e responsabilidade dos partidos irmãos fraternos, no interesse nacional

da URSS e às expensas da revolução em toda a parte. Como MF prova esta

alegação? Por afirmá-la. Que prova ele forneceu para a sua alegação? Nenhuma,

pois nenhuma existe. MF não apresentou um fato isolado - um único caso - para

provar que o Comintern era um mero instrumento, uma marionete, para a perseguição

dos interesses nacionais da URSS; ele não apresentou evidência alguma

para mostrar que as delegações de outros partidos simplesmente aceitavam

"acriticamente" as "diretivas" baixadas pelo PCUS. Ele não apresentou prova alguma,

nem poderia ter fornecido, pois tais provas eram inexistentes.

Provas do contrário, entretanto, existem em abundância, mostrando que as

questões no Comintern eram decididas após debate livre e completo. As provas

mostram que o Comintern não era um ajuntamento pacífico e tedioso de fanáticos

que se juntavam de tempos em tempos para receber as ordens (diretivas, se quiserem)

dos bolcheviques (que MF sarcasticamente caracteriza como "repositórios de

toda a sabedoria") e sair para defender os interesses nacionais soviéticos à custa do abandono da revolução em todas as outras partes. As provas mostram que as

polêmicas nos debates do Comintern, longe de estarem ausentes, eram muito comuns

e, o que é mais, que essas polêmicas não se limitavam de modo algum àquelas

entre a delegação soviética de um lado e alguns outros delegados do outro. As

provas mostram que havia vezes em que a delegação soviética encontrava-se na

posição nada invejável de ter de introduzir emendas às teses assinadas e distribuídas

por um membro altamente posicionado do PCUS(B).

t

Certamente houve várias ocasiões em que as teses expostas pelo PCUS(B)

eram aceitas por outros partidos, aceitas não por outras razões, mas porque eram

teses corretas. O que havia de errado nisso? Talvez MF pense que nos interesses da

'democracia' e a fim de não parecer estarem simplesmente recebendo "diretivas do

Partido Bolchevique", as delegações dos outros partidos no Comintern às vezes

rejeitavam teses corretas propostas pelo PCUS(B)? Uma 'democracia' desse tipo,,

entretanto, seria contra-revolucionáría na essência e oposta aos interesses do proletariado

internacional.

Na medida superficial em que MF examinq as políticas do Comintern, ele é

incapaz de encontrar qualquer erro nelas; mas isso não o impede de afirmar que

seria uma "suposição precipitada" que as políticas do Comintern eram geralmente

corretas.

Toda vez que ele examina as políticas do Comintern, acautela-se, entendendo

que as políticas do Comintern estavam corretas e que, acima de tudo, era

impossível atacar essas políticas, exceto de forma muito geral e não substantiva -

por exemplo, entoando que "seria uma suposição precipitada admitir que as políticas

do Comintern estavam geralmente corretas". Toda vez que MF é forçado a deixar

a esfera das acusações gerais e entrar em uma discussão de políticas reais do

Comintern, ele é forçado também a bater em retirada. Volta e meia ele foge, admitindo

que as políticas do Comintern eram "ditadaspor considerações reais. As condições

da luta internacional tinham mudado, e em muitos países os social-democratas

tinham se revelado a cada hora da crise capitalista como defensores firmes

do status quo cambaleante" (p. 12); e que "o conceito de Rente Única, como definido

por Dimitrov, estava, de modo geral, correto" (p. 13); que "Dimitrov tinha ressaltado

que a defesa da democracia burguesa contra o fascismo era apenas parte da

luta de longo prazo para pôr fim à democracia burguesa e estabelecer o poder operário

e a democracia operária" (p. 14) e assim por diante.

Conclui-se, então, que as políticas perseguidas pelo Comintern estavam

corretas. Contudo, seria uma "suposição precipitada" admitir que as políticas do

Comintern estavam corretas! No entanto, outros partidos que não o PCUS(B) não

teriam aceitado essas políticas, pois ao fazerem isso implicariam estar aceitando

"diretivas" do PCUS(B). Conclui-se, então, que o Comintern estava perseguindo

uma política baseada "nas condições da luta internacional". Contudo, estava

errado perseguir tal política, pois à parte ajudar a luta do proletariado em outros

países, podia também ajudar a posição da URSS e isto de fato seria um crime, o que

seria equivalente a usar o Comintern para servir aos interesses da URSS. Conclui-

se... Basta!

MF não foi capaz de apresentar um único fato para provar sua afirmação.

Quando, onde e em que a União Soviética, durante o período sob consideração,

usou o Comintern para promover seus interesses nacionalistas? Quando, onde e em que a União Soviética, durante o período sob consideração, traiu o "movimento

comunista e operário internacional a fim de salvaguardar seus interesses

nacionalistas"?

Se não há fatos - e como se viu acima, não há fato algum - para provar a

alegação de MF, qual então a base disso? Sondando a fundo os artigos superficiais

de MF, o que fica claro é que a base de suas acusações maliciosas, caluniosas e sem

fundamento não é seu suposto interesse pela revolução mundial, mas seu desinteresse

real pela revolução soviética. Está perfeitamente visível em seu artigo que ele

não podia dar importância a se a União Soviética deveria ou não ter sua existência

em perigo se não tivesse seguido a política complicada, mas totalmente científica,

totalmente revolucionária que ela realmente seguiu. Está perfeitamente claro que

MF não entendeu a relação da revolução soviética com a revolução mundial. Está

perfeitamente claro, apesar das acusações caluniosas de MF contra Stalin, no sentido

de que ele não considerava a revolução soviética como uma auxiliar - uma

parte - da revolução mundial, que foi MF, e outros como ele, que sempre consideraram

a revolução mundial isolada da URSS revolucionária daqueles dias, como se

a revolução mundial nada tivesse a ver com o único Estado (naquela época) da

classe operária. Eles continuavam a contrapor os interesses da revolução mundial

aos interesses revolucionários da União Soviética. Eles exigiam tudo da União Soviética,

até que ela deveria ter feito as revoluções de outros povos, mas consideravam

que o proletariado dos outros países nada deviam à revolução soviética. Nunca

houve qualquer carência de 'internacionalismo' do tipo pregado pelos MFs deste

mundo, que nunca entenderam e nunca entenderão a relação entre a revolução

soviética e a revolução mundial e que, portanto, na forma trotskista, seguirão denunciando

a União Soviética por perseguir uma política 'nacionalista', sem entender

que a luta do proletariado mundial em defesa da URSS socialista não era menos

ajuda ao "movimento comunista e operário internacional" do que era para a

revolução soviética. Do mesmo modo, a ajuda dada pela URSS (e houve muita) aos

movimentos revolucionários estrangeiros não foi menor do que a assistência à revolução

soviética dada por aqueles movimentos. De fato, o que seria do "movimento

comunista e operário internacional" daqueles dias se não fosse a revolução soviética,

se abstraíssemos, de forma arbitrária, os interesses da revolução soviética?

MF não é a primeira pessoa, nem será a última, a levantar essa questão.

Nos dias de Stalin também havia muitos, em alguns círculos em torno do Comintem,

'internacionalistas' do tipo de MF, que consideravam que o programa do Comintem

em seu âmago não era muito internacional — que era de caráter 'russo demais'. E

extremamente útil ser capaz de reproduzir aqui a contestação de Stalin a esse falso

internacionalismo dessas pessoas. Eis o que o camarada Stalin disse:

"O que poderia ter fornecido terreno para tal opinião (de que o programa

do Comintem era 'russo demais']?

Terá sido talvez o fato de que o projeto do programa contém um capítulo

especial sobre a URSS? Porém, em que isso pode ser mau? Será nossa revolução,

em seu caráterr uma revolução nacional e apenas uma revolução nacional, e não

uma revolução eminentemente internacional? Se é assim, porque nós a chamamos

de uma base do movimento revolucionário mundial, um instrumento para o desenvolvimento

revolucionário de todos os países, a pátria do proletariado mundial? Há pessoas entre nós - nossos oposicionistas, por exemplo - que consideram

que a revolução na URSS era exclusivamente ou principalmente uma revolução

nacional. E nesse ponto que eles se enganam. E estranho que haja pessoas

em volta do Comintern, parece, que estão preparadas para seguir as pegadas dos

oposicionistas.

Talvez nossa revolução seja, no tipo, uma revolução nacional e apenas nacional?

Mas nossa revolução é uma revolução soviética, a forma soviética do Estado

proletário ê mais ou menos obrigatória para a ditadura do proletariado em outros

países. Não foi sem motivo que Lênin disse que a revolução na URSS inaugurou

uma nova era na história do desenvolvimento, a era dos sovietes. Não se segue

disso que, não apenas quando considerado seu caráter mas também quando considerado

seu tipo, nossa revolução é uma revolução eminentemente internacional,

que apresenta um modelo que, no principal, uma revolução proletária deveria seguir

em qualquer país?

Indubitavelmente, o caráter internacional de nossa revolução impõe à ditadura

do proletariado, na URSS, certos 'deveres para com as massas proletárias e

oprimidas de todo o mundo. Era isso que Lênin tinfra em mente quando disse que a

ditadura do proletariado na URSS existe para fazer todo o possível para o desenvolvimento

e a vitória da revolução proletária em outros países. Mas o que se segue

disso? Segue-se, no mínimo, que nossa revolução é parte da revolução mundial,

uma base e um instrumento do movimento revolucionário mundial.

Indubitavelmente, também, não apenas a revolução na URSS tem deveres

para com os proletários de todos os países, deveres dos quais está se desincumbindo,

mas os proletários de todos os países têm certos deveres bastante importantes para

com a ditadura do proletariado na URSS. Esses deveres consistem em apoiar o

proletariado da URSS em sua luta contra inimigos internos e externos, na guerra

contra os que pretendem sufocar a ditadura do proletariado na URSS, em advogar

que os exércitos imperialistas deveriam imediatamente tomar o lado da ditadura

do proletariado na URSS no caso de um ataque à URSS. Mas não se segue disto que

a revolução na URSS é inseparável do movimento revolucionário em outros países,

que o triunfo da revolução na URSS ê um triunfo da revolução em todo o mundo?

É possível, após tudo isso, falar da revolução na URSS como sendo unicamente

uma revolução nacional, isolada e não tendo conexão com o movimento

revolucionário em todo o mundo?

E, por outro lado, é possível, após tudo isso, entender qualquer coisa a respeito

do movimento revolucionário mundial, se ele for considerado desvinculado

da revolução proletária na URSS?

Qual seria o valor do programa do Comintern, que trata da revolução proletária

mundial, se ele ignorasse a questão fundamental do caráter e das tarefas da

revolução proletária na URSS, seus deveres para com os proletários de todos os

países e os deveres dos proletários de todos os países para com a ditadura proletária

da URSS?" (The Programme ofthe Comintern, discurso proferido em 5 de julho

de 1928, Collected Works, Vol. 11 pp. 157-159).

Assim, está perfeitamente claro que MF não entendeu coisa alguma do

movimento revolucionário mundial do período em consideração, pois ele o considera

desligado da revolução proletária da URSS. Está também perfeitamente claro para aqueles que, ao contrário do nosso

pobre mas pomposo MF, têm conhecimento real da história daquele tempo, em

particular da história do Comintem, que o programa, assim como as políticas, do

Comintern não eram o programa e a as políticas de qualquer partido nacional. Não

eram programas e políticas apenas de nações 'civilizadas', para usar uma expressão

do camarada Stalin. Ao contrário, cobriam todos os Partidos Comunistas do

mundo, de todas as nações, de todas as populações, negras e brancas.

Tendo expressado um amontoado de distorções sobre o Comintern, MF

trota, à maneira típica dos trots, para expressar umas poucas distorções, que não

são menos do que distorções trotskistas contra-revolucionárias, acerca do Pacto

Germano-Soviético de Não-Agressão. Ele diz na página 18 de seu artigo:

"Enquanto, nas circunstâncias prevalecentes, o governo soviético não teve

alternativa senão assinar tal pacto, a condução da política soviética e do Comintem,

entre novembro de 1939 e junho de 1941, pode ser considerada como nada mais do

que o abandono do internacionalismo proletário."

Como MF prova a alegação acima? Por afirmá-la. Não há literalmente uma

palavra em seu artigo em prova dessa alegação.

Na realidade, as únicas pessoas que tinham até então atacado Stalin pelo

Pacto Germano-Soviético de-Não-Agressão e pela condução da política soviética

durante o período mencionado por MF tinham sido os trotskistas e os imperialistas.

Que essas pessoas atacassem a política soviética é perfeitamente compreensível.

A política soviética derrotou o imperialismo, quando este esperava esmagar o

bolchevismo, mas agora encontrava-se travando uma guerra severa contra si próprio.

Os imperialistas da Inglaterra, que tinham ajudado a Alemanha nazista contra

a Rússia soviética, eram agora obrigados a lutar contra a Alemanha nazista. A

condução da política soviética e do Comintern contribuiu em medida nada pequena

para produzir a situação na qual os imperialistas dos diferentes países eram

forçados a empreender uma guerra de destruição de uns contra os outros, em lugar

de se unirem em uma guerra de extermínio contra a URSS SOCIALISTA. À luz

disso, será surpreendente que os imperialistas tenham atacado o camarada Stalin,

o PCUS(B) e o Comintern? Podemos "esperar que os imperialistas sejam gratos ao

PCUS(B), ao Comintern e a Stalin pelo enfraquecimento do imperialismo? Quanto

aos trotskistas, mostramos em nossas publicações anteriores2 que, nos anos 1930,

eles tinham se tomado uma agência do fascismo e trabalhado pela derrota da URSS.

Não seria, portanto, surpreendente que os trotskistas atacassem a "burocracia

stalinista" por esta frustrar os planos dos agentes trotskistas do fascismo. Até então,

entretanto, os marxistas-leninistas e os progressistas de todo o mundo tinham

considerado a condução da política soviética e do Comintern, durante o período

em discussão, como um modelo para a aplicação das táticas do leninismo a uma

situação internacional extremamente complicada e perigosa, que levou à derrota

do fascismo e ao enfraquecimento do imperialismo internacional. Agora, parece

terem surgido marxistas-leninistas no movimento anti-revisionista na Inglaterra

que consideram "a condução da política soviética e do Comintern entre novembro

de 1939 e junho de 1941... como nada mais do que o abandono do internacionalismo

proletário". Pode-se apenas concluir que esses marxistas-leninistas não são realmente

marxistas-leninistas de forma alguma, mas trotskistas camuflados e agentes do imperialismo no movimento anti-revisionista, que estão ainda furiosos e que

ainda não esqueceram o camarada Stalin por ter dirigido a luta contra o imperialismo

e pelo enfraquecimento do imperialismo. Resumo dos fatos sobre o Pacto Germano-Soviético de Nao-Agressão

Aqui estão os fatos incontroversos, num resumo muito breve, sobre a posição

da URSS na questão da guerra com o imperialismo.

Primeiro, a União Soviética esforçou-se por não se enredar em uma guerra

com o imperialismo.

Segundo, desde que fosse inteiramente impossível para ela evitar tal guerra,

então, se o imperialismo se inclinasse a empreender uma guerra contra a União

Soviética, esta NAO deveria se encontrar na posição de ter de lutar sozinha, muito

menos enfrentar sozinha o furioso assalto combinado dos principais países imperialistas

- Alemanha, Inglaterra, França, EUA, Idália e Japão.

Terceiro, para esse fim, as divisões entre os Estados imperialistas fascistas

por um lado e os Estados imperialistas democráticos, por outro, deveriam ser exploradas

ao máximo. Essas divisões entre os dois grupos de imperialismo não foram

criações da imaginação de Stalin. Elas eram reais, baseadas nos interesses

materiais dos dois grupos de Estados em consideração. O desenvolvimento desi-

' gual do capitalismo leva alguns estados a dispararem na frente e outros a ficarem

para trás. A velha divisão do mundo não correspondia mais ao equilíbrio das forças,

tornando assim necessária uma nova divisão do mundo. Era precisamente

disso que se tratava na Primeira Guerra Mundial; e era precisamente por isso que

Alemanha, Itália e Japão, que tinham saído à frejrte no desenvolvimento capitalista

de suas economias, estavam bradando; enquanto os velhos países imperialistas,

notadamente a Inglaterra e a França, tendo ficado para trás no desenvolvimento

capitalista de suas economias em comparação com os recém-chegados, notadamente

a Alemanha, estavam muito felizes com a velha divisão do mundo. Exigindo uma

nova divisão, os Estados fascistas estavam usurpando os interesses materiais dos

Estados imperialistas democráticos. Havia assim nesses conflitos de interesses vim

campo a ser explorado pela URSS. ,

Quarto, para esse fim, a URSS, perseguindo uma política exterior muito

complicada, fez o que pôde para concluir vim pacto de segurança coletivo com os

Estados imperialistas democráticos para deter a agressão pelos Estados fascistas,

prevendo, na hipótese de tal agressão, ação coletiva contra os agressores.

Quinto, quando os Estados imperialistas democráticos, dominados por seu

ódio ao comunismo, recusaram-se a assinar um pacto de segurança coletiva com a

URSS e continuaram sua política de conciliação com os Estados fascistas, em particular

com a Alemanha nazista, em um esforço para dirigir sua agressão em direção

ao leste, contra a União Soviética, esta foi forçada a tentar algum outro método

de proteger os interesses da pátria socialista do proletariado internacional. A URSS

deu um golpe na política estrangeira dos Estados imperialistas democráticos, assinando

a 23 de agosto de 1939 o Pacto Germano-Soviético de Não-Agressão.

Sexto, ao assinar esse pacto, a URSS, não somente assegurou que não lutaria

com a Alemanha sozinha, mas também que esta estaria lutando contra as pró-prias potências que tinham estado tentando, por sua recusa em concordar com a

segurança coletiva, enredar a URSS em uma guerra com a Alemanha. A Io de

Setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia. Dois dias mais tarde, o ultimato

anglo-francês expirou, e a Inglaterra e a Ftança encontraram-se em guerra contra a

Alemanha.

Sétimo, as previsões do protocolo secreto adicional foram longe o bastante

para salvaguardar as 'esferas de interesse' soviético, que, como se verá, foram vitais

para as defesas soviéticas quando a guerra realmente alcançou-a.

Finalmente, o Pacto Germano-Soviético de Não-Agressão ensejou à União

Soviética um período extremamente valioso de dois anos para fortalecer sua preparação

de defesa antes de entrar numa guerra da qual ela sabia que não poderia

permanecer de fora para sempre.

Quando a guerra foi finalmente'forçada sobre a União Soviética, ela deu a

mais heróica contribuição na vitória triunfal e gloriosa dos aliados contra a Alemanha

nazista e seus aliados. O Exército Vermelho e o povo soviético mostraram sua

tenacidade e a tenacidade e superioridade do sistema socialista, ao derrotarem os

nazistas na URSS e perseguirem-nos por todo o caminho até Berlim, liberando no

processo país após país da ocupação das botas nazistas e levando o socialismo ao

leste europeu.

Todos os historiadores burgueses revolucionários e honestos concordam

com esse resumo. Somente os anticomunistas mais teimosos, particularmente os trotskistas,

ousam discordar disso. O que se segue é uma comprovação do resumo acima.


A União Soviética bem consciente da guerra vindoura

Certamente, é o maior contra-senso dizer que Stalin e o PCUS não acreditavam

que a União Soviética poderia ter de lutar contra a Alemanha e que ela

confiava na boa vontade nazista. O fato era que "a União Soviética estava ameaçada

ao leste e ao oeste e a conduta das relações exteriores tornou-se mais complexa e

exigente quando ele [Staliú] buscou desviar-se ou, ao menos, adiar a guerra inevitável.

Ele tinha enormes responsabilidades, e somente um homem de resistência

física excepcional, inteligência firme e disciplinada e autocontrole férreo poderia

ter atendido a tais exigências." (Ian Grey, op. cit., p. 293).

"Fundamental para as políticas de Stalin, interna e externa, era a convicção

de que a guerra era iminente e podia devastar a Rússia Soviética antes que

ela fosse capaz de reunir forças. Foi este pensamento que reclamou a coletivização

imediata e a industrialização pesada. Não havia tempo a perder..." (Ibid.

pp. 295-296).

Já em janeiro de 1925, dirigindo-se ao Comitê Central, Stalin tinha*dito que

"Aspré-condições da guerra estão amadurecendo..." e admitindo a seguir: "Nossa

bandeira é ainda a bandeira da paz. Mas se a guerra começa, não ficaremos de

braços cruzados. Teremos de entrar nela, mas devemos ser os últimos a entrar nela.

E devemos entrar para lançar o peso decisivo na balança, o peso que fará a balança

pender para um lado (Stalin, Collected Works, Vol. 7, p. 13-14).

Todos, certamente, estão conscientes de seu discurso de 1931, contendo a

seguinte declaração, que mesmo Deutscher chamou de "uma profecia brilhantemente

cumprida":

"Estamos cinqüenta ou cem anos atrás dos países avançados. Devemos cobrir

essa distância em dez anos. Faremos isso ou cairemos." (Stalin, The Tasks of

Business Executives, Collected Works, Vol. 13, p. 41).

Em sua autobiografia, Minha Luta, Hitler clara e francamente formulou a

política exterior dos nazistas:

"Nós, Nacional-Socialistas, conscientemente pomos um fim à tendência da

.política exterior de nosso período pré-guerra... Detemos o interminável movimento

alemão para o sul e voltamos nossos olhos para a terra do leste...

Se falamos de solo na Europa de hoje, só podemos primordialmente ter em

mente a Rússia" (Adolf Hitler, Mein Kampf, London, 1984, pp. 598 e 604).


Os esforços soviéticos para alcançar a segurança coletiva e a política de conciliação dos Estados imperialistas não agressivos

A União Soviética dificilmente apreciou o espetáculo da ascensão nazista

ao poder, em janeiro de 1933, que criava para a URSS uma situação perigosa sem

precedentes. Daí a ênfase da política exterior soviética nesse período na preservação

da paz mundial e os esforços para concluir um pacto de segurança coletiva

com os países imperialistas democráticos que tinham, como já mencionado, um

interesse objetivo na manutenção da divisão do mundo então existente.

"Na condução da política externa, Stalin mostrou grande precaução, limitação

e realismo. Ele necessitava de tempo para construir a indústria da Rússia e a

força militar. Ele era constantemente provocado no leste e no oeste, e de maneira

que deve ter-lhe injuriado, mas ele nunca perdeu de vista a necessidade dominante

de adiar o mais possível a deflagração da guerra. Foi por essa razão que ele pôs a

maior ênfase na paz e no desarmamento nas questões mundiais.

Ao mesmo tempo, ele perseguiu uma política de segurança coletiva..." (Ian

Grey, op. cit, p. 296).

A política de segurança coletiva foi perseguida porque a União Soviética

socialista tinha todo interesse em evitar a guerra e seguir com a tarefa de construção

socialista, que requeria paz, e porque os países imperialistas não agressivos

tinham interesse em evitar uma guerra com os Estados agressivos ou em assegurar

sua derrota inicial.

Dirigindo-se ao 18° Congresso do PCUS, em março de 1939, e argüindo

que a guerra já tinha começado, Stalin disse:

"A guerra está sendo empreendida por Estados agressivos que de todas as

formas infringem os interesses dos Estados não agressivos, basicamente a Inglaterra,

a França e os EUA. Enquanto o último retrocede e recua, fazendo concessão

após concessão aos agressores.

Assim, estamos testemunhando uma redivisão aberta do mundo e das esferas

de influência às custas dos Estados não agressivos, sem a menor tentativa de

resistência, e mesmo com certa conivência de sua parte" (Stalin, Problems of

Leninism, Moscou, 1953, p. 753).

Embora tendo um interesse objetivo em chegar a um acordo coletivo de

segurança com a URSS, contudo, dominados por seu ódio ao comunismo, a Alemanha

e a Ftança, dirigidos pelos governos de Neville Chamberlain e Edouard

Baladier, respectivamente, recusaram-se a concluir tal aliança.

"Deve-se atribuir [a política de apaziguamento pelos Estados não agressivos]

à fraqueza dos estados não agressivos?", perguntou Stalin. Ele próprio respondeu

assim:

"Certamente, não! Os Estados democráticos não agressivos, combinados,

são inquestionavelmente mais fortes do que os Estados fascistas, econômica e

militarmente.

...A principal razão é que a maioria dos países não agressivos, particularmente

Inglaterra e França, tem rejeitados política da segurança coletiva, da resistência

coletiva aos agressores, e assumiram uma posição de não-intervenção, uma

posição de neutralidade.

A política de não-intervenção revela uma avidez, um desejo ... de não impedir

a Alemanha, digamos,... de envolvesse em uma guerra com a União Soviética,

para permitir a todos os beligerantes afundarem no pantanal da guerra, para

encorajá-los sub-repticiamente a isso; permitir-lhes que se enfraqueçam e esgotem

um ao outro; e, então, quando eles se tornarem suficientemente fracos, entrarem

em cena revigorados, entrarem, é claro, 'no interesse da paz', e ditarem as condições

aos beligerantes debilitados.

Simples e fácil!" (Ibid. p. 754).

Mais adiante, referindo-se ao acordo de Munique, que submeteu a

Checoslováquia aos nazistas, Stalin continuava:

"Pode-se pensar que os distritos dd Checoslováquia foram cedidos à Alemanha

como o preço de um empreendimento para lançar a guerra contra a União

Soviética..." (Ibid. p. 756).

Esboçando as tarefas da política externa soviética, Stalin enfatizou a necessidade

de "ser cauteloso e não perçiitir que nosso país seja lançado no conflito

por provocadores que estão acostumados a deixar que outros se arrisquem por eles"

(Ibid. p. 759).

O governo soviético não foi sequer consultado, muito menos incluído na

Conferência de Munique que, reunida de 28 a 30 de setembro de 1928, submeteu a

Checoslováquia à mercê da Alemanha fascista. Ao mesmo tempo, os poderes ocidentais

recusavam-se a responder às propostas soviéticas para uma grande segurança

coletiva sob a égide da Liga das Nações. Eis o que Churchill teve a dizer a

esse respeito:

"A oferta soviética foi com efeito ignorada. Eles não foram postos na balança

contra Hitler e foram tratados com uma indiferença - para não dizer desdém -

que deixou uma marca no pensamento de Stalin. Os acontecimentos decorreram

como se a União Soviética não existisse. Por isso nós depois pagamos caro" (W. S.

Churchill, The Second World War, Vol. 1, p. 104).

No mesmo volume, Churchill admite que o plano soviético teria evitado,

ou ao menos adiado, a guerra por um tempo considerável e era com o tempo que a

União Soviética estava jogando (ver págs. 234-251).

Mas o anticomunismo dos Estados não agressivos teve uma vitória temporária.

Lord Halifax, o secretário do Exterior britânico, disse a Hitler em novembro

de 1937 que "...ele e outros membros do governo britânico estavam bem conscientes

de que o Fuehrer tinha alcançado um grande feito... Tendo destruído o comunismo

em seu país, ele tinha barrado o caminho dele para a Europa Ocidental, e a

Alemanha estava portanto capacitada a ser considerada como um baluarte do Ocidente

contra o bolchevismo...

' Quando o terreno tiver sido preparado para uma aproximação anglogermânica,

as quatro grandes potências da Europa Ocidental devem em conjunto

estabelecer o fundamento de uma paz duradoura na Europa" (Documents on German

Foreign Policy: 1918-45, Vol. 1, London 1954, p. 55).


A União Soviética persiste em sua política

Sabendo, como a direção do PCUS sabia, que a política de conciliação, que

estava em conflito com os interesses do imperialismo inglês e francês, mais cedo

ou mais tarde seria contestada pelos representantes poderosos do imperialismo

nesses países, ela persistiu em seus esforços para concluir uma aliança de segurança

coletiva.

A 15 de março de 1939, Hitler marchou contra a Checoslováquia. A opinião

pública no Ocidente ficou ultrajada com a invasão da Checoslováquia.

Chamberlain ficou visivelmente abalado pela irada reação pública e parlamentar.

Sob instruções do governo britânico, o embaixador da Inglaterra em Moscou chamou

o ministro do Exterior soviético para perguntar qual seria a reação da União

Soviética se a Alemanha atacasse a Romênia. Litvinov respondeu a essa iniciativa

com a proposta de que os representantes da Inglaterra, Ftança, URSS, Polônia e

Romênia se encontrassem ingentemente para evitar aquele perigo. O governo britânico

rejeitou essa proposta e em lugar dela propôs vima declaração de que, na

hipótese de mais uma agressão, os quatro países se consultariam uns aos outros.

Embora aborrecido com esta resposta, o governo soviético concordou com ela, desde

que a Polônia fosse também signatária. O ministro do Exterior da Polônia, Col

Beck, tão anti-soviético quanto Chamberlain, recusou-se a assinar, propondo em

vez disso um pacto de assistência mutua Polonês-Britânico.

Em 31 de março de 1939, sem consulta prévia à União Soviética, foi anunciado

o Pacto Polonês-Britânico, dando uma garantia unilateral Britânica à defesa

da Polônia contra agressão. A 13 de abril foi estendido para incluir a Grécia e a

Romênia. Como Ian Grey corretamente observou: "Se a Alemanha atacasse a Polônia

ou a Romênia, a Inglaterra não poderia fazer nada sem o apoio da União Soviética,

e de tal forma que foi gratuitamente insultuosa, ambos os governos cuidadosamente

ignoraram o governo soviético. Churchill, Eden e outros prontamente apontaram

a estupidez da política de Chamberlain" (Ian Grey, op. cit. p. 306).

Sob extrema pressão doméstica, o governo britânico» a 15 de Abril, propôs

à União Soviética que esta desse garantias unilaterais. O governo soviético rejeitou

essa proposta, já que ela não previa nenhuma assistência à URSS na hipótese de

um ataque alemão. A 17 de abril, o governo soviético propôs vim pacto britânicofrancês-

soviético de assistência mútua, que deveria incluir uma convenção militar

e uma garantia da independência de todos os Estados fronteiriços à União Sovié-tica, do Mar Báltico ao Mar Negro. Chamberlain e Halifax rejeitaram-no, sob o

espúrio argumento de que poderia ofender a Polônia e a Alemanha e porque comprometeria

a Inglaterra com a defesa da Finlândia e dos Estados bálticos.

"Para Stalin,. a inescapável conclusão era que os dirigentes do governo britânico

estavam tão cegos pela hostilidade para com o regime soviético que nem

mesmo diante dos horrores da guerra consideraram uma aliança com a Rússia

soviética contra a Alemanha" (Ian Grey, p. 307).

"E estava evidente que, para os círculos dirigentes britânicos e franceses, o

pensamento de uma coalizão com os soviéticos era ainda repugnante ...; que alguns

estadistas de destaque no Ocidente encaravam o nazismo como uma barreira

confiável contra o bolchevismo; que uns poucos entre eles especulavam com a idéia

de transformar esta barreira em um aríete; e que, finalmente, mesmo entre aqueles

que viam a necessidade inescapável de uma aliança com a Rússia, alguns se perguntavam

senão seria uma boa política deixar que a Alemanha encarasse primeiro

a Rússia" (Deutscher, op. cit., pp. 413-414).

A 3 de Maio, Litvinov foi substituído como Comissário para Assuntos Exteriores

por Molotov. Isso deveria ter servido como um aviso prévio claro para a

Inglaterra e a Ftança, pois o nome de Litvinov estava muito estreitamente associado

aos esforços da segurança coletiva. Mesmo assim, a URSS persistiu em sua

política de trabalhar por uma aliança de segurança coletiva. O governo britânico

estava sob crescente pressão pública para negociar com a União Soviética. Em 2 de

junho, o governo soviético submeteu uma nova proposta de acordo, especificando

os países a serem protegidos e a extensão do compromisso dos três signatários.

Expressando interesse na proposta soviética, o governo britânico decidiu enviar

um representante a Moscou para apressar as negociações. Embora Chamberlain e

Halifax tivessem pessoalmente ido a Berlim, eles enviaram um oficial subalterno

do Ministério do Exterior a Moscou, uma afronta deliberada que causou uma "verdadeira

ofensa" (Churchill, ibid., p. 304)3.

A17 de julho, Molotov anunciou que de pouco valia prosseguir na discussão

sobre o tratado político ,'na ausência de uma convenção militar a ser concluída.

O governo britânico respondeu ao anúncio de Molotov concordando em enviar

uma missão militar a Moscou. Em lugar de enviarem Lord Gort, chefe do staff

imperial, como o governo soviético esperava, Chamberlain indicou um velho almirante

aposentado, Reginald Plunkett-Emie-Erle-Drax, que partiu a 23 de julho fazendo

uso dos meios mais demorados de transporte e a rota mais lenta (e para

piorar, tendo sido instruído "para ir muito lentamente com as conversações"), chegando

a Moscou a 11 de agosto. O que é mais, o lado soviético descobriu, para sua

surpresa, que a delegação britânica tinha ido meramente para 'manter conversas',

sem autoridade para negociar.

"O certo é que, se os governos ocidentais tinham desejado lançá-lo [a Stalin]

nos braços de Hitler, eles não podiam ter feito isso mais efetivamente do que fizeram.

A missão militar anglo-francesa adiou sua partida por onze preciosos dias.

Gastou cinco dias mais em trânsito, viajando pelo meio mais lento, denavio. Quando

chegou em Moscou, suas credenciais e poderes não eram claros. Os governos,

cujos primeiros-ministros não tinham considerado indigno voarem a Munique quase

a um aceno de Hitler, recusaram-se a enviar algum oficial de posição ministerial

para negociar a aliança com a Rússia. Os oficiais enviados para as tarefas militares eram de patente inferior à daqueles que foram enviados, por exemplo, à Polônia e à

Turquia. Se Stalin pretendia fazer uma aliança, a forma com que ele foi tratado

parecia calculada para fazê-lo abandonar sua intenção" (Deutscher, ibid., p. 425).

Assim mesmo, a 12 de agosto começaram as conversações para uma convenção

militar. O marechal Voroshilov, chefe da delegação soviética, informou aos

delegados que, se as tropas soviéticas não pudessem entrar na Polônia, seria impossível

para eles defendê-la. Os poloneses declararam que não necessitavam e

não aceitavam a ajuda soviética.

"Se Stalin tiver de ser julgado por sua conduta na época [por volta de setembro

de 1938] não há nada por que ele possa ser reprovado" (Ibid. p. 419). .

E adiante: "A máxima não escrita de Munique era manter a Rússia fora da

Europa. Não apenas as potências grandes e aparentemente grandes do Ocidente

desejavam excluir a Rússia. Também os governos das pequenas nações, gritaram

para o grande urso: 'Fique onde estái fique em sua toca.' Algum tempo antes de

Munique, quando os franceses e russos estavam discutindo ações conjuntas na defesa

da Checoslováquia, os governos polonês e romeno categoricamente se recusaram

a concordar com a passagem das tropas russas para a Checoslováquia. Eles

negaram ao Exército Vermelho - e mesmo à Força Aérea Vermelha - o direito de

passagem, não simplesmente porque tinham medo do comunismo; eles cortejavam

Hitler.

Deve ter sido logo após Munique que a idéia de uma nova tentativa de

aproximação com a Alemanha tomou forma no pensamento de Stalin..." (Ibid. p. 419).

Os governos francês e britânico também rejeitaram essa cláusula. Nas circunstâncias,

não fazia sentido continuar nas discussões, que foram suspensas indefinidamente

em 21 de agosto. Depois disso, o governo soviético, percebendo a persistência

obstinada dos governos britânico e francês em sua recusa a concluir uma

aliança com a URSS, resolveu assinar o pacto de não-agressão com a Alemanha.

"Seu [de Stalin] interesse principal era ainda ganhar tempo, para que a

indústria e as forças armadas soviéticas pudessem reunir forças. Relutantemente,

ele voltou-se agora para a possibilidade de um acordo com Hitler" (Ian Grey, op. cit.

p. 309 e Churchill, op. cit. p. 306).

Quanto a por que Stalin concordou com o pacto de não-agressão com a

Alemanha, Deutscher disse:

"Que ele [Stalin] tinha pouca confiança na vitória de Hitler, é igualmente

certo. Seu propósito agora era ganhar tempo, tempo e cada vez mais tempo, para

seguir com seus planos econômicos, para construir o poderio da Rússia e então

lançar esse poderio na balança quando os outros beligerantes estivessem exauridos"

(Ibid., p. 430).


Assinado o Pacto de Não-Agressão Soviético-Alemáo

Embora a Alemanha tivesse se aproximado da União Soviética já em 17 de

abril de 1939, para uma normalização das relações Germano-Soviéticas e subseqüentemente se aproximado de novo do governo soviético através da embaixada alemã em Moscou, o embaixador alemão, conde Fritz von der Schulenburg, relatou ainda em 4 de agosto:

"Minha impressão geral é de que o governo soviético está no momento determinado

a assinar com a Inglaterra e a França, se eles atenderem a todos os

desejos soviéticos... Exigirá um considerável esforço de nossa parte fazer com que

o governo soviético, mude de idéia" (Churchill, op. cit., p. 305).

A 14 de agosto, Joachin von Ribbentrop, o ministro do Exterior Alemão,

instruiu Schulenbuig, por telegrama, a chamar Molotov e ler para ele o seguinte

comunicado:

"Não há questão referente ao Mar Báltico e o Mar Negro que não possa ser

resolvida de modo inteiramente satisfatório para ambos os países... Eu estou preparado

para fazer uma rápida visita a Moscou ... para transmitir a visão do Fuehrer

ao marechal Stalin ... somente através de tal discussão pode-se conseguir uma mudança..."

(Documents on German ForeignPolicy 1918-45, Série D, Vol. 7, Londres,

1956, p. 63).

A 16 de agosto, Schulenburg avistou-se com Molotov e leu para ele a comunicação

de Ribbentrop. Na mesma noite ele relatou para Berlim o "grande interesse"

de Molotov com a comunicação, acrescentando que Molotov "estava interessado

na questão de como o governo alemão encarava a idéia de concluir um

pacto de não-agressão com a União Soviética" (Ibid., p. 77).

Ribbentrop respondeu no mesmo dia, instruindo Schulenburg a ver Molotov

outra vez e transmitir-lhe que:

"A Alemanha está preparada para concluir um pacto de não-agressão com

a União Soviética.

Eu estou preparado para ir de avião a Moscou em qualquer época após

sexta-feira, 18 de agosto, para tratar, à base de plenos poderes do Fuehrer, de todas

as complexas relações germano-soviéticas e, se surgir a oportunidade, assinar os

tratados apropriados" (Ibid., p. 84).

A 17 de agosto, Molotov transmitiu uma resposta escrita a Schulenburg

propondo um acordo de comércio para começar, a ser seguido "logo depois" pela

conclusão de um pacto dfe não-agressão. A 18 de agosto, Ribbentrop informou a

Schulenburg telegraficamente que o "primeiro estágio", o da assinatura de um acordo

de comércio, tinha sido completado e requeria que lhe fosse permitido fazer uma

viagem "imediata" a Moscou.

A 19 de agosto, Schulenburg respondeu que Molotov tinha concordado

em que:

"...o ministro do Exterior do Reich chegasse em Moscou a 16 ou 17 de agosto.

Molotov transmitiu-me um rascunho de um pacto de não-agressão" (Ibid,

p. 134).

A 20 de agosto, Hitler enviou um telegrama pessoal urgente a Stalin, aceitando

a proposta do pacto de não-agressão, com o pedido de que Ribbentrop fosse

recebido em Moscou a 22 de agosto ou o mais tardar a 23 de agosto.

Stalin respondeu em 21 de agosto, concordando com a visita:

"O governo soviético instruiu-me a informar-lhe que concorda em que Herr

Von Ribbentrop chegue a Moscou a 23 de agosto" (Ibid. p. 168).

Ribbentrop chegou a Moscou, chefiando uma delegação, a 23 de agosto. Na

mesma noite foi recebido por Stalin. De acordo com um registro confiável, o en-contro foi frio e longe de ser amigável. Gausse, assessor-chefe de Ribbentrop, que o

acompanhou, relatou:

"O próprio Ribbentrop tinha inserido no preâmbulo uma frase de alcance

bastante longo no tocante às relações amistosas germano-soviéticas. A isso Stalin

objetou, dizendo que o governo soviético não podia repentinamente apresentar a

seu público uma declaração germano-soviética de amizade depois de ter sido objeto

de opróbrio por parte do governo nazista por seis anos. Por isso, aquela frase foi

retirada do preâmbulo" (Churchill, op.cit., p. 306).

O pacto foi assinado. Sob o protocolo secreto, foi acordado que no Báltico

"a fronteira do nordeste da Lituânia representaria a fronteira das esferas de interesse

da Alemanha e da URSS..." e no caso da Polônia, "...as esferas de interesse da

Alemanha e da URSS seriam limitadas aproximadamente pela linha dos rios Narew,

Vístula e Sau". (Documents on German Foreign Policy, op. cit., p. 164).

Em outras palavras, a linha Curzon seria esse limite e, na área leste dele,

que tinha sido capturada da União Soviética pela Polônia, após a Revolução de

Outubro, a Alemanha concordava que a URSS tomasse a ação que desejasse.


Por que a União Soviética assinou o pacto de 23 de agosto

Dirigindo-se ao Soviete Supremo a 31 de agosto, Molotov refutou a "ficção

de que a conclusão do tratado de Não-Agressão Germano-Soviético tivesse perturbado

as negociações Anglo-Irancesa-Soviéticas:

"Estão sendo feitas tentativas de propagar a ficção de que a conclusão do

pacto soviético-alemão rompeu as negociações com a Inglaterra e a França para

um pacto de assistência mútua ... Em realidade, como vocês sabem, a verdade é o

completo oposto ... A União Soviética assinou o-pacto de não-agressão com a Alemanha,

entre outras coisas, porque as negociações com a França e a Grã-Bretanha

tinham ... terminado em fracasso, por culpa dos círculos dirigentes da Inglaterra e

da França" (Molotov, Soviet Peace Policy, Lawrence & Wishart, Londres, p. 20).

Mesmo o historiador Edward Carr, decididamente um escritor anti-soviético,

é obrigado a admitir que a decisão da União Soviética de assinar o pacto de nãoagressão

com a Alemanha foi uma segunda escolha muito relutante e forçada:

"O aspecto surpreendente das negociações soviético-germânicas... é a extrema

precaução com a qual elas foram conduzidas do lado soviético e a prolongada

resistência soviética para fechar as portas às negociações com o Ocidente" (E. H.

Carr, From Munich to Moscow: II, in Soviet Studies, Vol. I, October 1949, p. 104).

O mesmo Edward Carr, notando que o governo Chamberlain "como defensor

do capitalismo" rejeitou uma aliança com a URSS contra a Alemanha, fez a

seguinte estimativa dos ganhos obtidos pela União Soviética como resultado da

assinatura do tratado de não-agressão com a Alemanha:

"No pacto de 23 de agosto de 1939, eles (o govemò soviético) asseguraram:

a) um espaço de proteção contra um ataque; b) assistência alemã para mitigar a

pressão japonesa no lado leste; c) concordância da Alemanha no estabelecimento

de uma fortaleza avançada além das fronteiras existentes na Europa Oriental; era

significativo que essa fortaleza era, e só poderia ser, uma linha de defesa contra um

ataque alemão potencial, perspectiva eventual do que nunca esteve longe dos cál-culos soviéticos. Mas o principal de tudo que foi conseguido com o pacto foi a segurança

de que, se a URSS tivesse eventualmente de lutar contra Hitler, as potências

ocidentais já estariam envolvidas" (Ibid., p. 103).

Após as vantagens obtidas pela União Soviética acima resumidas correta,

sucinta e brilhantemente, conseqüentes da assinatura do pacto de 23 de agosto, é

difícil imaginar que ainda existem pessoas que assegurem que, ao assinar esse

pacto de não-agressão com a Alemanha, a União Soviética foi culpada de "abandonar

o internacionalismo proletário". Infelizmente, ainda existem pessoas assim. É

difícil dizer se é ignorância ou malícia que as fazem pensar e formular tais pensamentos

perversos. Tudo que podemos dizer é que não há pior surdo do que quem

não quer ouvir.

Hostil como é, mesmo Deutscher é obrigado a admitir outra vantagem, isto

é, a vantagem moral conquistada pelá União Soviética com a assinatura do pacto

de 23 de agosto com a Alemanha Hitlerista:

"Seu [da URSS] ganho moral consistiu na consciência clara de sua população

de que a Alemanha era a agressora e que seu próprio governo tinha perseguido

a paz até o fim."

De nossa parte, sempre olharemos para trás com admiração e gratidão para

essa proeza máxima da política externa soviética, que contribuiu significativamente

para a libertação da humanidade dos horrores da Alemanha nazista. Os resultados

foram justamente o que a União Soviética esperava. Apenas uma semana após

a assinatura do pacto, isto é, a I o de setembro, os nazistas invadiram a Polônia.

Dois dias mais tarde, seu ultimato tendo expirado, a Inglaterra e a França declararam

guerra à Alemanha. Enquanto os imperialistas, todos os que tinham planejado

estrangular a União Soviética, lutavam uns contra os outros, ela se assegurou dois

anos valiosos para se preparar para a eventual guerra, que veio em 22 de junho de

1941, com a invasão alemã na forma da Operação Barbarossa, lançada por Hitler

com 162 divisões, 3.400 tanques e 7.000 canhões. A heróica defesa soviética, as

titânicas batalhas que eía enfrentou, suas lendárias vitórias, passaram a integrar o

folclore e não requerem maiores comentários aqui.

Uma observação final: os círculos hostis à União Soviética sempre equipararam

a marcha soviética na Polônia, a leste da linha Curzon, com a invasão nazista

e a ocupação do resto da Polônia. As duas são qualitativamente diferentes. Primeiro,

as forças soviéticas avançaram sobre um território que fora seu antes de ter

sido capturado pela Polônia, após a Revolução de Outubro. Segundo, e muito mais

importante, a União Soviética esperou 16 dias após a invasão nazista da Polônia.

"Quando, em setembro (1939), Ribbentrop começou a pressionar os russos

a marcharem sobre sua parte da Polônia, Stalin ainda não estava pronto para dar

as ordens de marcha ... Ele não ...levantaria uma mão em defesa da Polônia e

recusou-se a mexer-se antes que o colapso da Polônia estivesse completo além de

qualquer dúvida" (Deutscher, op. cif., p. 432).

Quando se tornou absolutamente claro que o Estado polonês tinha entrado

em colapso, então as forças soviéticas entraram na Polônia (a 17 de setembro), a

fim de salvaguardar suas defesas, assim como as populações dos territórios invadidos

pelas forças soviéticas. A verdade é que o exército soviético foi saudado pela

população local como libertadores e heróis.

Em seu discurso ao Soviete Supremo a 31 de outubro de 1939, Molotov disse:

"Nossas tropas entraram no território da Polônia somente após o Estado

polonês ter entrado em colapso e realmente cessado de exibir. Naturalmente, não

poderíamos permanecer neutros em relação a esses fatos, visto que, em resultado

desses acontecimentos nos encontramos confrontados com problemas urgentes de

segurança de nosso Estado. Além disso, o governo soviético não podia senão contar

com a situação excepcional criada por nossos irmãos da Ucrânia Ocidental e da

Bielo-Rússia Ocidental, que foram abandonados à sua sorte como um resultado do

colapso da Polônia" (Molotov, op. cit., pp. 31-32).

E adiante:

"Quando o Exército Vermelho entrou nessas regiões, foi saudado com simpatia

geral pela população ucraniana e bielo-russa, que deram as boas-vindas a.

nossas tropas como libertadoras do jugo das elites, do jugo dos senhores de terra e

dos capitalistas poloneses" (Ibid. p. 33).

A marcha soviética nessas áreas teve o efeito de libertar 13 milhões de

pessoas, incluindo um milhão de judeus, dos horrores da ocupação e do extermínio

nazistas. Só se pode inferir que, aqueles que se opõem à entrada dos soviéticos

nos territórios a leste da linha de Curzon deveriam antes ter visto estas áreas devastadas

pelos nazistas! Um 'internacionalismo' muito estranho, de fato! Tais pessoas

estão realmente à direita mesmo de alguns conservadores. Que as seguintes

pálavras, proferidas na Casa dos Comuns, em 20 de setembro de 1939, pelo membro

do Parlamento conservador Robert Boothby, lancem veigonha eterna sobre tais

'socialistas' e 'internacionalistas':

"Penso que é legítimo supor que essa ação da parte do governo soviético foi

tomada ... do ponto de vista da autopreservaçãq e autodefesa... A ação tomada

pelas tropas russas empurrou a fronteira alemã consideravelmente para o oeste...

Dou graças por estarem as tropas russas agora na fronteira polonesa-romena.

Antes as tropas russas do que as tropas alemãs" (Citado por Bill Bland em seu

The German-Soviet Non-Agression Pact of 1939, um excelente artigo apresentado

na Sociedade Stalin, em 1992).


Stalin acusado de nacionalismo burguês

Mas MF, como em todas as outras questões, encontra-se atraído por uma

linha semitrotskista de hostilidade a Stalin, cujos cálculos ele provavelmente não

poderia nem ter começado a entender, mesmo que tivesse tentado. Na página 19 de

seu artigo ele continua a fulminar Stalin:

"Durante a guerra, havia, compreensivelmente, uma onda de sentimento

nacional contra os agressores nazistas, mas Stalin a encorajou até um ponto além

do compatível com os princípios internacionalistas proletários sobre os quais o Estado

soviético era baseado. Ele invocou o espírito do passado imperial da Rússia

nos dias iniciais da guerra:

'Que as imagens másculas de nossos grandes antepassados - Alexander

Nevsky, Dimitry Bonskoy, Kazuma Minin, Dimitry Pozharsky, Alexander Suvorov

e Mikhail Kutzov - os inspirem nesta guerra! Que a bandeira vitoriosa do grande

Lênin seja sua estrela guia!'"

Essas frases que MF cita foram tomadas do discurso de Stalin na Parada do

Exército Vermelho, na Praga Vermelha, em Moscou, a 7 de Novembro de 1941. O

contexto em que essas citações foram feitas era este: que a União Soviética estava

destinada a ganhar por causa de sua força material e pela justiça de sua causa,

porque ela estava empreendendo uma guerra de libertação não apenas do povo

soviético mas também dos povos escravizados da Europa, que tinham caído sob o

jugo dos opressores fascistas. Aqui está o contexto no qual o camarada Stalin fez

essas citações:

"Camaradas, homens do Exército Vermelho e da Marinha Vermelha, comandantes

e instrutores políticos, homens e mulheres das guerrilhas, o mundo todo

os encara como as forças capazes de destruir as hordas saqueadoras dos invasores

alemães. OS POVOS ESCRAVIZADOS DA EUROPA QUE CAÍRAM SOB O JUGO DOS

INVASORES ALEMÃES, OS CONSIDERAM SEUS LIBERTADORES. Uma grande missão

libertadora tornou-se seu destino. Sejam merecedores dessa missão! A GUERRA

QUE VOCÊS ESTÃO EMPREENDENDO É UMA GUERRA DE LIBERTAÇÃO, UMA

GUERRA JUSTA. Que as imagens másculas de nossos grandes antepassados,

Alexander Nevsky, Dimitry Donskoy, Kazuma Minin, Dimitry Pozharsky, Alexander

Suvorov e Mikhail Kutzov - os inspirem nessa guerra! Que a bandeira vitoriosa do

grande Lênin seja sua estrela guia!" (Ênfase minha).

As citações de Stalin acima permitem concluir que ele encorajou um surto

de sentimentos nacionais "além de um ponto compatível com os princípios

internacionalistas proletários"? Não, não é assim. O primeiro item que deve ser

lembrado - e esse é um item que todos os 'socialistas' do tipo de MF esquecem - é

que a nação a ser defendida era uma nação socialista. Segundo, Stalin está falando

aí acerca da União Soviética empreendendo uma guerra justa, uma guerra de libertação

contra a agressão estrangeira. Foi nesse contexto que os nomes dos grandes

patriotas russos ("os espíritos do passado imperial da Rússia", MF prefere chamálos)

foram mencionados. Pois esses "grandes antepassados" tinham também em

seu tempo lutado na defesa da Rússia, contra a agressão externa. No contexto da

grande guerra patriótica do povo da URSS, era perfeitamente legítimo invocar os

nomes dos "grandes antepassados" que tinham em sua época mostrado seu patriotismo

em defesa de seu país. O Partido Trabalhista da Albânia e todo o povo

albanês continuam a "invocar o espírito" de Scanderberg, um senhor feudal que

lutou pela independência da Albânia. Isso faz MF considerar que o Partido Trabalhista

da Albânia encoraja o nacionalismo albanês "além de um ponto compatível

com os princípios internacionalistas proletários"? Terceiro, o camarada Stalin estava

fazendo um apelo aos homens e mulheres das forças armadas soviéticas e das

unidades guerrilheiras para lutarem pela libertação não só do povo soviético isoladamente,

mas também pela libertação dos "povos escravizados da Europa" - um

nacionalismo muito estranho, este! E, quarto, MF 'esquece' de comentar o fato de

que Stalin nesse discurso não somente invocou o "espírito do passado imperial da

Rússia "; ele também invocou o espírito do grande Lênin:

"O espírito do grande Lênin e sua bandeira vitoriosa nos animam agora,

nesta guerra patriótica, justamente como ele fez há vinte e três anos [isto é, durante

a Guerra Civil e a Guerra de Intervenção de 1918],

Que a bandeira vitoriosa do grande Lênin seja sua estrela guia!

Sob a bandeira de Lênin, avante para a vitória!"


Sobre a invocação do espírito de Lênin, MF não diz uma palavra. Ele evita

esta parte do discurso do camarada Stalin como o demônio evita a água benta5. Ou

talvez MF considere o espírito de Lênin como um dos espíritos do "passado imperial

russo"?

Finalmente, ao ler-se esse discurso do camarada Stalin no contexto de todos

os seus discursos sobre a grande guerra patriótica, pode-se chegar a uma, e

somente uma, conclusão, a saber, que se os discursos de Stalin contêm algum

apelo ao sentimento nacional, tal apelo nunca vai "além de um ponto compatível

com os princípios internacionalistas proletários". O patriotismo proletário'genuíno,

o amor por uma pátria socialista, nunca foi e nunca será incompatível com o

internacionalismo proletário.

Os MFs deste mundo, entretanto, estão habituados a aprender frases e fórmulas

de cor. Eles nunca ponderam por um momento sobre seu significado. Evidentemente,

devem ter escutado que, durante*a primeira guerra imperialista, Lênin

denunciou a bandeira de defesa da pátria como uma desgraçada traição ao socialismo.

Pensam, portanto, que Lênin se opunha todo o tempo, e sob todas as condições,

à defesa da pátria, independente de ser a pátria socialista ou imperialista,

uma pátria opressora ou oprimida. Eles são incapazes de diferenciar guerras justas

de guerras injustas, guerras interimperialistas de guerras contra o imperialismo.

Daí suas denúncias histéricas de Stalin, por encorajar a defesa da pátria socialista.

Se a defesa da pátria em todas as circunstâncias deva ser considerada um mal,

como é para certos 'marxistas' de meia tigela como MF, então as guerras de libertação

nacional (por exemplo, como a luta do povo vietnamita) contra o imperialismo

e as guerras de defesa da revolução proletária contra a intervenção imperialista

(tais como a guerra da URSS contra a intervenção e agressão) deveriam ser denunciadas

como traidoras do socialismo. Esta é precisamente a conclusão a que os

MFs explicitamente, intencionalmente ou não, chegam - e chegando a tal conclusão,

eles rompem com o marxismo-leninismo, total, absoluta e irrevogavelmente.

Ao se ler os discursos do camarada Stalin e a história da época, torna-se

perfeitamente claro que o povo soviético foi mobilizado com bandeiras de luta

contra o fascismo para a defesa e'a Uberdade da pátria socialista e para a defesa do

jugo dos agressores fascistas. A acusação de nacionalismo levantada por MF, portanto,

não passa na prova da confirmação.

Em apoio a sua alegação a respeito da "degeneraçãonacionalista" da União

Soviética, MF, à página 20, recorre ainda a outro item de 'prova'. Essa 'prova' consiste

em MF citar Ilya Ehrenburg, que dizia não ter esperança de um levante popular

na Alemanha porque:

"Para um levante popular você necessita de povo. Mas o que temos na Alemanha

são milhões de Fritzes e Gretchens, uma massa gananciosa e estúpida, alguns

impudentes, outros temerosos, mas ainda incapazes de pensar ou sentir."

Tem isso algo a ver com a política do PCUS(B), do governo soviético ou

aquela de Stalin? Nada tem a ver com nenhuma delas. Ehrenburg pertencia a uma

organização judaica russa e reagiu de uma forma muito emocional à perseguição

dos judeus pelos fascistas alemães. Ehrenburg não era membro do PCUS(B).

No que se refere ao PCUS(B) e a Stalin, o povo alemão, longe de ser considerado

como "uma massa gananciosa e estúpida ... incapaz de pensar ou sentir",

era, ao contrário, considerado tuna força revolucionária que estava destinada a romper e "arrasar" a retaguarda dos fascistas hitleristas. A propaganda oficial soviética

durante a guerra refletiu essa posição correta do PCUS e de Stalin. Eis um

exemplo - de muitos a que se pode aludir sobre isso - das referências de Stalin ao

papel revolucionário do proletariado alemão:

"Somente os tolos hitleristas não entendem que não apenas a retaguarda

européia MAS TAMBÉM A RETAGUARDA ALEMÃ DAS TROPAS ALEMÃS REPRESENTAM

UM VULCÃO QUE ESTÁ PRONTO A ENTRAR EM ERUPÇÃO E ARRASAR

COM OS AVENTUREIROS HITLERISTAS" (Discurso proferido em 6 de novembro

de 1941 - Ênfase minha).

Há inúmeros exemplos em discursos de Stalin sobre a Grande Guerra Patriótica,

assim como na propaganda (soviética, em que o sentimento anterior está

repetido várias vezes. Quem, senão os mais descarados professores mentirosos e

caluniadores (tais como MF), poderia, à luz de tudo isso, afirmar que a "repetição

constante" da "linha de propaganda soviética que encara todos os alemães como

sádicos brutais não podia senão evitar qualquer entendimento real do fascismo"?

O truque de MF de criticar Stalin pelos pecados de Ilya Ehrenburg pode

agora ser claramente visto pelo que é, isto é, um truque burguês e por sinal um

truque desonesto. Isso nãa funciona, Mr. MF - certamente não fora dos círculos semitrotskistas

e semi-revisionistas do CFB e de organizações "marxistas" similares!

A próxima 'prova' produzida por MF:

"Presumivelmente afim de proporcionar alguma dignidade ao nacionalismo

burguês, Stalin expressou a opinião peculiar de que os nazistas não eram regimenta

nacionalistas: 'Podem os hitleristas ser considerados nacionalistas?Não, não

podem. Realmente, os hitleristas não são agora nacionalistas, mas imperialistas'."

Mais uma vez, caindo tãobaixb que faz parecer decentes os padrões e práticas

do pior jornalismo marrom, MF tira a citação acima de Stalin do seu contexto.

Os fascistas hitleristas estavam invadindo país após país, sujeitando os povos a

saques, assassinatos, espoliações, pilhagens e pogroms - tudo no interesse do imperialismo

alemão, a fim de criar um 'grande império alemão'. Piara ocultar sua essência

"Black hundreds"* imperialista, reacionária dos povos alemães e outros, os fascistas

continuavam a cometer seus crimes hediondos - a subjugação dos povos estrangeiros

e do povo alemão em casa - chamando a si próprios de 'nacional-socialistas'.

Stalin, em seu discurso, rechaça a reivindicação desses fascistas de serem

chamados de socialistas ou nacionalistas. Os fascistas, disse ele, não eram socialistas,

pois eram os mais perniciosos inimigos da classe operária da Alemanha e de outros

países. Nem eram nacionalistas, pois não estavam engajados na defesa da Alemanha,

mas, ao contrário, em subjugar outros povos no interesse do imperialismo

alemão. Os hitleristas, ele disse, deveriam ser chamados, portanto, por seVi nome certo,

isto é, imperialistas. O espaço não permite reproduzir uma seção inteira do discurso

do camarada Stalin, do qual MF retirou a citação anterior, mas o seguinte parágrafo

importante será suficiente para restaurá-la em seu próprio e legítimo contexto:

"Quem são os 'nacional-socialistas'?

Em nosso pais, os invasores alemães, isto é, os hitieristas, são usualmente

chamados fascistas. Os hitleristas, parece, consideram isso errado e obstinadamente

continuam a chamar-se de 'nacional-socialistas'. Dai, os alemães querem asse-gurar-nos que o Partido Hitlerista dos invasores alemães, que está espoliando a

Europa e tem organizado ataques vis ao nosso Estado socialista, é um partido socialista.

É possível? O que pode haver de comum entre o socialismo e os bestiais

invasores hitleristas que estão saqueando e oprimindo as nações da Europa?

Podem os Hitleristas ser considerados como nacionalistas? Não, não podem.

Realmente, os hitleristas não são agora nacionalistas, mas imperialistas. Enquanto

os hitleristas estavam engajados em reunir as terras alemãs e reunir o distrito

do Reno, a Áustria, etc., era POSSÍVEL com algum fundamento chamá-los de

nacionalistas. Mas depois que eles capturaram territórios e escravizaram as nações

européias - checos, eslovacos, poloneses, noruegueses, dinamarqueses, holandeses,

belgas, franceses, sérvios, gregos, ucranianos, bielo-russos, os habitantes dos

países bálticos, etc. - e começaram a buscar a dominação mundial, o Partido

Hitlerista cessou de ser um partido nacionalista, porque a partir daquele momentoele

se tornou um partido imperialista, um partido de anexação e opressão.

O Partido Hitlerista é um partido de imperialistasr e os imperialistas mais

vorazes e predatórios entre todos ns imperialistas cjn mundo.

Podem os hitleristas ser considerados socialistas? Não, não podem. Na realidade,

os hitleristas são os inimigos jurados do socialismo, reacionários velhacos e

anti-semitas que retiraram da classe operária e dos povos da Europa as liberdades

democráticas mais elementares.

...Na realidade, o regime de Hitler é uma cópia do regime reacionário que

existia na Rússia sob o tzarismo. É bem sabido que os hitleristas suprimem os direitos

dos operários, os direitos dos intelectuais e os direitos das nações tão duramente

como os regimes tzaristas os suprimiam, e que eles organizam pogroms medievais

contra os judeus tão duramente como o regime tzarista6 o fazia.

O Partido Hitlerista é um partido de inimigos das liberdades democráticas.

um partido de mação medieva] e de pogroms anti-semitas" (Ênfase minha).

O que, então, está errado no contexto anterior, com Stalin negando aos

fascistas o título de 'nacional-socialistas'? Talvez MF não gostasse de contestar o

direito dos hitleristas bestiais de serem chamados de 'nacional-socialistas'? Se for

assim, MF deveria ter tido a coragem abertamente de proclamar esse direito dos

fascistas, mais do que admitir esse direito apenas dissimuladamente, imperceptivelmente

e implicitamente sob a cobertura de uma barragem de injúrias lançadas

contra o camarada Stalin. Se essa é a posição de MF - e parece ser - então deveria

ser perguntado a ele: Mr. MF: de que lado você está? Está do lado das forças do

fascismo e da reação obscura, ou está do lado das forças da revolução proletária e

de libertação nacional?

Em vista do que foi estabelecido antes, pode-se, sem sombra de dúvida,

concluir que a alegação de MF a respeito da 'degeneração nacionalista' da URSS

durante o período em consideração é totalmente infundada.


Notas

1. No Sexto Congresso do Comintern (17 de julho a Io de setembro de 1928), Bukharin

distribuiu as suas teses sobre a situação internacional. Essas teses, ao contrário da regra geral, não tinham sido examinadas pela delegação do PCUS(B). Na ocasião essas teses mostraram-se insatisfatórias em numerosos pontos, e a delegação do PCUS(B) foi obrigada a introduzir cerca de 20 emendas a elas.

2. Ver a série A Respeito da Luta do Trotskismo Contra-Revolucionário contra o

Leninismo Revolucionário, publicada em outra parte desta coleção.

3. Na época em que fez sua acusação absurda contra Stalin, MF e a organização a qu*

ele pertencia, a RCL, vangloriavam-se de serem os principais maoístas na Inglaterra. Está entretanto, claro que sua ignorância do marxismo-leninismo é apenas igualada por sua ignorância dos escritos do camarada Mao Tsé-tung. Tivessem eles tido a preocupação dler o artigo de Mao Tsé-tung 'A Identidade de Interesses entre a União Soviética e Toda a Humanidade', datado de 28 de setembro de 1939, isto é, apenas um mês após a assinatura do Pacto de Não-Agressão Soviético-Germânico, eles teriam percebido a absoluta falsidade de suas acusações. Ao mesmo tempo que convidamos todos a lerem esse excelente artigo que se encontra no Vol. 2 das 'Selected Works', de Mao Tsé-tung, reproduzimos aqui alguns parágrafos significativos dele:

"Algumas pessoas dizem que a União Soviética não quer que o mundo permaneça em

paz porque a deflagração de uma guerra mundial seria favorável a ela, e que a presente guerra foi precipitada pela conclusão da União Soviética de um tratado de não-agressão com a Alemanha, em lugar de um tratado de assistência mútua com a Inglaterra e a França. Considero essa visão incorreta. A política externa da União Soviética, por um longo período de tempo, tem sido consistentemente de paz, uma política baseada nos laços estreitos entre seus próprios interesses e aqueles da esmagadora maioria da humanidade. Para sua própria construção socialista, a União Soviética sempre precisou da paz, sempre precisou fortalecer suas relações pacíficas com outros países e evitar uma guerra anti-soviética; em prol da paz numa escala mundial, ela também precisou deter a agressão dos países fascistas, conter as provocações belicosas dos chamados países democráticos e adiar o mais possível a deflagração de uma guerra mundial imperialista. A União Soviética tem há muito

devotado grande energia à causa da paz mundial. Por exemplo, ingressou na Liga das

Nações, assinou tratados de assistência mútua com a Rrança e a Checoslováquia e tentou firmemente concluir pactos de segurança com a Inglaterra e outros países qua poderiam estar dispostos a ter a paz. Depois que a Alemanha e a Itália juntas invadiram a Espanha, e quando a Inglaterra, os EUA e a França adotaram uma política de 'não-intervenção' nominal, mas de conivência real com sua agressão, a União Soviética se opôs à política de 'nãointervenção' e deu ajuda ativa às forças republicanas espanholas em sua resistência à Alemanha e à Itália. Após o Japão invadir a China e as mesmas três potências adotarem a mesma política de 'não-intervenção', a União Soviética não apenas concluiu um tratado de não-agressão com a China como deu.à China ajuda ativa em sua resistência. Quando a Inglaterra e a França foram coniventes com a agressão de Hitler e sacrificaram a Áustria e a

Checoslováquia, a Ujiião Soviética não mediu esforços em se expor aos sinistros objetivos que estavam por trás da política de Munique e fez propostas aos ingleses e franceses para que evitassem mais agressões. Quando a Polônia se tomou a questão candente na primavera e no verão deste ano e era incerto se a guerra mundial seria deflagrada, a União Soviética negociou com a Inglaterra e a França durante quatro meses, a despeito da completa falta de sinceridade de Chamberlain e Daladier, em um esforço para concluir um tratado de assistência mútua que evitasse a deflagração da guerra. Porém, todos esses esforços foram bloqueados pela política imperialista dos governos da Inglaterra e da Rança, uma política de conluios para a guerra, instigação e disseminação da guerra, de tal modo que, finalmente, a causa da paz mundial foi frustrada e a guerra mundial imperialista deflagrada. Os governos da Inglaterra, dos Estados Unidos e da França não tinham o desejo genuíno de evitar a guerra; ao contrário, ajudaram a deflagrá-la. Sua recusa em chegar a um acerto com a União

Soviética e concluir um tratado realmente efetivo de assistência mútua, baseado na igualdade e reciprocidade, provou que eles não queriam a paz mas a guerra. Todos sabem que no mundo contemporâneo a rejeição da União Soviética significa a rejeição da paz. Mesmo Lloyd George, esse representante típico da burguesia britânica, sabe disso. Foi nessas circunstâncias, e quando a Alemanha concordou em suspender suas atividades anti-soviéticas, abandonando o Acordo contra a Internacional Comunista e reconhecendo a invio-labilidade das fronteiras soviéticas, que o tratado de não-agressão soviético-alemão foi concluído. O plano da Inglaterra, dos Estados Unidos e da França era incitar a Alemanha a atacar a União Soviética, de tal modo que eles próprios, 'sentando-se no topo da montanha para assistir aos tigres lutarem', pudessem descer e tomai tudo, depois que a União Soviética e a Alemanha estivessem extenuadas. O tratado de não-agressão soviético-alemão esmagou essa conspiração. Ao observar esta conspiração e as tramas dos imperialistas anglofranceses que foram coniventes, instigaram e precipitaram uma guerra mundial, alguns de nossbs compatriotas foram realmente influenciados pela propaganda açucarada desses conspiradores. Esses políticos ardilosos não estavam em nada interessados em checar a agressão contra a Espanha, contra a China ou contra a Áustria e a Checoslováquia; ao contrário, foram coniventes com a agressão e instigaram a guerra, jogando o papel proverbial do pescador que faz a narceja brigar com o mexilhão para tirar vantagem de ambos.

Eles eufemisticamente descreviam sua ação como de 'não-intervenção', mas o que realmente faziam era sentar-se no topo da montanha para observar os tigres lutarem'. Um bom número de pessoas no mundo foi enganado pelas palavras adocicadas de Chamberlain e de seus parceiros, deixando de ver as intenções assassinas por trás de seus sorrisos, ou de entender que o tratado de não-agressão soviético-alemão foi concluído somente após Chamberlain e Daladier terem decidido rejeitar a União«Soviética e provocar a guerra imperialista.

Está na hora de essas pessoas acordarem. O fato de que a União Soviética trabalhou

firme para preservar a paz mundial até o último minuto prova que os interesses da

União Soviética são idênticos àqueles da maioria esmagadora da humanidade."

4. O professor austríaco Topitsch, cujas credenciais anticomunistas e simpatias próimperialistas são impecáveis, e que não pode portanto ser acusado de abrigar qualquer leve inclinação por Stalin ou pela URSS que este dirigiu, teve isto a dizer sobre os acontecimentos

em consideração:

"...A análise completa do entrejogo dos principais «ventos levou-me à convicção de

que ... Stalin não foi somente o vencedor real, mas também a figura-chave na guerra; ele foi, de fato, o único estadista que teve na época uma idéia clara e com base ampla de seus objetivos" (Ernest Topitsch, Stalin's War, Londres, Fourth Estate, 1987, p. 4).

Adiante: "Os acontecimentos do verão de 1939 mostram as conseqãências decisivas

da falta de qualidades e de visão política orientada para o mundo de Hitler, que faziamno ter uma visão muito inferior à de seu colega russo. A respeito da inteligência politica e do estilo politico, sua relação era como aquela de um jogador de roleta para um gr andeme stra do xadrez, e a afirmação de que o Fuehrer caiu como um ginasiano na armadilha preparada para ele por Moscou dificilmente pode ser chamada de exagerada. O diabólico georgiano claramente precisava aplicar cem vezes mais astúcia nas lutas internas do Partido Comunista Soviético do que precisou para enganar Hitler, para não falar nos dirigentes das potências ocidentais" (Ibid., p. 7).

Sobre o Pacto Hitler-Stalin, o mesmo autor escreveu:

"Após a conclusão desse tratado, Hitler e Ribbentrop podem ter se considerado estadistasdo mais alto calibre; em lugar disso, suas ações revelaram uma assustadora falta de inteligência política. Enquanto Stalin tinha ponderado cuidadosamente o conteúdo e a fraseologia dos acordos, a outra parte foi obviamente incapaz de prever as conseqüências que podiam resultar para a Alemanha daqueles documentos decisivos. Na realidade, os dois tratados se ajustavam perfeitamente à estratégia de longo prazo soviética para envolver a Alemanha numa guerra com a Inglaterra e a França, tornava-a dependente da Rússia e, se a oportunidade surgisse, levaria à sua extinção como um poder independente.

De longa visão como ele era, Stalin já pensava naquele estágio inicial em obter um

ponto de partida favorável para a realização de tais planos" (p. 4).

Contrariando a lenda, bastante disseminada nos círculos trotskistas e burgueses, de

que a URSS não estava preparada para a guerra e foi pega de surpresa, e referindo-se ao sentimento soviético de superioridade, Topitsch diz: "...isso não era de forma alguma completamente injustificado, e em alguma medida derivava da força real do Exército Vermelho e da eficiência da indústria de armamentos. O potencial real de ambos foi provado na guerra, quando os russos mostraram-se capazes de recuperar-se com extraordinária rapidez das pesadas perdas dos primeiros meses, lançando então contra o inimigo massas sempre crescentes de homens e material. Esses logros são tão mais surpreendentes porque na época as áreas industriais importantes e de matérias-primas tinham sido perdidas e não podiam ser substituídas pela transferência de fábricas de armamentos numerosas para e além dos Urais ...

Numericamente, essa superioridade só pode ser definida aproximadamente, mas em

muitas áreas era bem nítida, como mostra uma comparação da força do agressor com as perdas russas no primeiro ano da guerra. No começo da campanha, o exército alemão tinha no leste um total de mais de 3.030.000 homens, 7.184 peças de artilharia, 3.580 tanques e 2.740 aviões de combate. Por outro lado, de acordo com os quadros alemães relacionados apenas às ações em tomo de'Bialystok-Minsk e Smolensk até a metade de julho, foram feitos não menos de 642.000 prisioneiros, enquanto 4.929 peças de artilharia e 6.537 tanques foram capturados ou destruídos. Se esses números admitem incerteza ou exagero, eles no entanto parecem críveis, à vista da evidências das fontes soviéticas, já que o Escritório de Informação Soviética dava as seguintes perdas no primeiro ano da guerra: 4.500.000 homens mortos, feridos ou feitos prisioneiros. 22.000 canhões pesados, 15.000 tanques e 9.000 aviões. Esse é também o veredicto do expert militar britânico John Erickson: 'Ao se aplicar os números de Stalin, baseado nas fontes soviéticas, a superioridade soviética alcançava sete para um em tanques, ao menos; em aviões, os alemães eram inferiores à razão de quatro ou cinco para um'.

Embora um grande número de aviões e tanques fosse antigo, havia também um considerável número de novos tipos disponíveis na deflagração da guerra. Somente nos primeiros seis meses de 1941,2.653 aviões de combate e caça foram construídos com projetos modernos; em meados de junho, o exército tinha recebido 1.861 tanques dos tipos KW e T34. O lendário T34 era definitivamente superior ao seu equivalente alemão e quase invulnerável às armas antitanque correntes "de seus contendores. De janeiro de 1939 a 22 de junho de 1941, mais de 7.000 veículos blindados foram fornecidos, e no ano de 1941 cerca de 5.500 tanques de todos os tipos. Para equipar as unidades motorizadas - aquelas no estágio de planejamento, assim como aquelas já operacionais -16.000 dos novos tanques estavam disponíveis, com cerca de 32.000 projetados - um número enorme. Parece muito improvável que essa avalanche de tanques tinha apenas propósitos de defesa. O único tipo de tanque alemão em alguma medida comparável com os novos projetos soviéticos era o Panzer IV, mas destes apenas 618 estavam operacionais no começo da campanha no Leste; por outro lado, os motorizados estavam equipados principalmente com Kampfwagen II e III (carros blindados).

No começo de 1941, a produção mensal alcançava apenas 250 tanques e canhões

pesados de campo. A superioridade soviética em artilharia era a mais marcante. Documentos de arquivo revelam que, de 1° de janeiro de 1939 a 22 de junho de 1941, o Exército «Vermelho recebeu um total de 29.637 canhões de campo e 52.407 morteiros de trincheira, perfazendo, junto com os canhões tanque, um total de 92.578 canhões grandes e morteiros. Desses, os lança-foguetes ('órgãos de Stalin') foram uma surpresa particularmente desagradável para o agressor.

Estes e outros números mostram claramente que a crença soviética na força militar

e industrial da pátria era mais do que uma mera 'fata morgana'. A União Soviética desse período já continha o núcleo de uma superpotência futura" (pp. 73-74).

Topitsch corretamente registra que a Operação Barbarossa foi baseada na superestimação do poder militar alemão e na subestimação do soviético, assim como outras premissas que começaram a ruir no momento em que o exército alemão cruzou a fronteira soviética. "Quando os alemães cruzaram a fronteira no leste, o sentimento que muitas vezes tomou conta deles - do Fuehrer ao soldado comum - era de que eles estavam abrindo uma porta para o desconhecido, atrás da qual Stalin tinha surpresas preparadas para eles e que no fim a ruína poderia estar espreitando nas estepes sem fim" (ibid. p. 103).

Após seus sucessos iniciais, obtidos através da vantagem tática de seu ataque de surpresa à URSS, os nazistas começaram a acreditar que a vitória já era sua e perderam-se em fantásticos planos para o futuro. "Mas, gradualmente, tornava-se claro que a União Soviética estava longe de ser um 'colosso com pés de barro'. A despeito de enormes perdas, o vasto império podia lançar novas massas de homens e materiais contra o invasor, e logo números crescentes de novos tipos de tanques e dos temidos lança-foguetes apareceram nos campos de batalha. A vitória de 14 dias tornou-se uma guerra que duraria pelo menos quatro anos, combatida da maneira mais acirrada por ambos os lados, e as vitórias dramáticas das primeiras semanas acabaram se mostrando o começo do fim do Terceiro Reich" (p. 113).

"...A energia implacável de Stalin assegurava que todas as reservas no interior profundo do país estivessem mobilizadas. De fato, no decorrer dessa luta fratricida, a União Soviética ampliou-se e deu um passo decisivo para se tornar uma superpotência. Em contraste, a Alemanha foi efetivamente se exaurindo com todos os passos em sua exaustiva campanha em direção ao Leste" (p. 115).

Topitsch também comentou o Tratado de Neutralidade de abril de 1941 com o Japão.

Ao assiná-lo, a União Soviética teve êxito em alcançar no leste o que tinha alcançado

no oeste através do Pacto de Não-Agressão de 1939 com a Alemanha. Que fale sobre o

assunto o Professor Topitsch:

"Vale a pena notar que a formulação desse pacto era tal que - de acordo uma possível

interpretação - os japoneses eram obrigados a observar a neutralidade mesmo no

caso de um ataque soviético contra a Alemanha, como fariam os russos no caso de uma ação japonesa no Pacífico. Stalin estava, por certo, procurando proteger sua retaguarda antes da colisão com a Alemanha, mas ele talvez também estivesse perseguindo outros objetivos mais importantes.

A jogada hábil de Stalin logo levou ao resultado desejado. Imediatamente após a

assinatura do pacto, e encorajado pelo fato de que um acordo tinha sido alcançado, o

exército e os navios japoneses começaram a intensificar sua expansão para o sul, a fim de melhorar a posição estratégica da nação e seu suprimento de matérias-primas e também para colocar pressão sobre os chineses desse lado. Eles estavam preparados para enfrentar as conseqüências se esta ação resultasse em um choque com a Inglaterra e os Estados Unidos.

Os planos de Stalin iam além, entretanto, como Grigore Gafencu assinalou com particular clareza: a penetração Japonesa no sul livraria a Sibéria oriental da ameaça japonesa, aliviaria a China, para a qual era difícil respirar com o estrangulamento exercido por Tóquio, e envolveria o Japão numa guerra com os EUA. A longo prazo, isto significaria o desastre para o Japão, mas também revelaria a fraqueza do Império Britânico, fortaleceria o sentimento nacionalista de amplas massas do povo da Ásia Central e fomentaria a luta da Ásia pela liberdade.

Assim como o pacto com Hitler deflagrou a 'guerra imperialista' no Oeste, o pacto de

neutralidade com o Japão serviria ao mesmo propósito na Ásia. O Kremlin esperava que as lutas ferozes entre a Inglaterra, os EUA e o Japão incitariam e levantariam as massas na Ásia e assim as deixariam prontas para uma revolução sob a direção soviética.

O pacto de neutralidade, portanto, fazia parte integral da ampla estratégia de Stalin

de desviar as políticas expansionistas das potências capitalistas agressivas para longe da União Soviética e na direção das potências 'não agressivas' ... Tendo já êxito em deixar Hitler envolvido em um tipo de guerra por procuração com as democracias ocidentais, ao concordar em não enfrentá-lo no Leste, o objetivo agora era oferecer proteção semelhante aos japoneses, a fim de atraí-los para uma confrontação com os ingleses e americanos.

Desse modo, outra vez usando um pacto de neutralidade, outro agressor potencial

foi transformado em instrumento dos interesses soviéticos e usado contra os Estados capitalistas..." (p. 95-96).

"Até que ponto o novo acordo com a União Soviética encorajou Tóquio em suas decisões é discutível. Mas naquela época o Japão não tinha nada a temer vindo dessa direção, especialmente visto que as forças soviéticas estavam ocupadas no conflito com a Alemanha. Em qualquer caso - justamente como Stalin tinha imaginado com o pacto de neutralidade - os japoneses se envolveram em uma guerra com as potencias ocidentais" (p. 124).

"Fearl Harbour", continua Topitsch, "foi um triunfo especialmente grande para Stalin.

Finalmente os soviéticos estavam livres do perigo de uma guerra em duas frentes; em vez disso, os britânicos e os americanos estavam agora envolvidos em uma" (p. 125).

"De acordo com os planos de Stalin, o Japão - uma fonte contínua de tensão e transtornos para a União Soviética - daria meia-volta e seria empregado contra os britânicos e americanos. Esse objetivo foi alcançado pelo tratado de neutralidade de 13 de abril de 1941, pelo qual Moscou teve garantida a cobertura no Leste que era necessária para a guerra com a Alemanha e ao mesmo tempo dava segurança similar ao Japão, liberando assim este país para um confronto armado com os britânicos e americanos. A política áspera de Roosevelt para com o Japão embarcava completamente na linha das intenções do Kremlin e eventualmente levou ao ataque a Pearl Harbour - que marcou a deflagração da 'guerra imperialista' no Extremo Oriente e confirmou que o conceito manipulativo inventado por Lênin e desenvolvido por Stalin tinha sido plenamente exitoso" (p. 135).

Topitsch, que é um completo direitista e anticomunista, ficou apropriadamente indignado com os sucessos da diplomacia leninista da União Soviética e se queixa pungentemente, nos seguintes termos:

"Dessa forma, a União Soviética foi capaz de infligir uma pesada derrota às potências

ocidentais na Segunda Guerra Mundial, usando puramente meios políticos e estratégicos. O Exército Vermelho nunca necessitou enfrentar militares com as forças britânicas ou americanas: isso foi feito por eles pelos alemães e japoneses. A Inglaterra e a América, de fato, forneceram abundantes suprimentos à União Soviética - muito mais do que o necessário para evitar uma*vitória alemã no Leste. Sob a influência das emoções engendradas pela guerra contra Hitler e os truques psico-estratégicos de Stalin - o mito do ataque fascista não provocado e as continuas exigências de uma segunda frente - nem os políticos nem o público nas grandes democracias perceberam que o inimigo mais perigoso não era necessariamente o diretamente envolvido no conflito militar. Por meio dessa arte de avanços indiretos, dissimulados e discretos, que Stalin desenvolvia de modo magistral, o astuto georgiano conseguiu seu maior sucesso. A fraqueza das potências ocidentais não se devia à falta de instrumentos de força, mas a uma deficiência na inteligência

política."

Somente os contra-revolucionários trotskistas e alguns ingênuos 'anti-revisionistas'

têm dificuldade de ver o Pacto de Não-Agressão com a Alemanha e o Tratado de Neutralidade com o Japão em seu contexto histórico apropriado.

5. Usamos esta expressão com alguma apreensão, porque uma conseqüência provável

parece ser que estamos invocando espíritos religiosos.

6. Não há dúvida de que MF encontraria alguma forma de considerar esta sentença do

camarada Stalin como outra invocação dos "espíritos do passado imperial russo nos dias iniciais da guerra".


6. Ausência de uma Linha de Massa


A terceira acusação vem, entre outros, de dois indivíduos, a saber, MF e o

professor G. Thomson. Eis o que MF teve a dizer:

"Em poucas palavras, estava faltando uma verdadeira 'linha de massa'"

(p. 20).

"Não há evidência de que o aparato do Estado soviético realmente tenha

começado a se 'fundir com as massas' ou 'envolver os milhões de pessoas trabalhadoras'.

Na ausência de uma linha de massa, a degeneração do Partido era inevitável,

mais cedo ou mais tarde..."

Na ausência de uma linha de massa, "o partido se torna crescentemente

divorciado das massas e as contradições sociais são inevitavelmente mal tratadas..."

E assim por diante.

Qual é a evidência de MF para essa grave alegação? A evidência de MF

outra vez consiste em sua própria afirmação: "Não há evidência de que o aparato

do Estado soviético realmente tenha começado a se 'fundir com as massas' ou 'envolver

os milhões de pessoas trabalhadoras'". Se esse estranho método de 'prova'

pela afirmação fosse aceite como válido, então nada haveria de estranho em responder

à alegação de MF dizendo simplesmente: "Não há evidência" de que a

alegação de MF tenha algum fundamento. Espera-se fazer bem melhor do que isso

no presente artigo, mas antes de tratar de MF, também se deve ouvir sobre essa

questão o confuso professor Thomson.

Em seu livro De Marx a Mao Tsé-tung - Um Estudo da [deveria ser CONTRA

A] Dialética Revolucionária, o professor apresenta os seguintes ramalhetes:

"A propriedade capitalista foi substituída [na URSS] pela propriedade socialista,

a produção em pequena escala pela produção em larga escala. Mas a transformação

socialista da superestrutura política e ideológica ainda estava,para ser

empreendida. Um novo aparato estatal tinha sido criado, controlado através do

Partido pelo proletariado, mas as massas não estavam ainda plenamente envolvidas

nele. Ao contrário, ele tinha se tornado em alguma medida alienado das massas

... Tendências burocráticas foram também crescendo no próprio Partido. As velhas

classes exploradoras tinham sido expropriadas, mas não, de forma alguma,

eliminadas" (p. 134).

Esta última sentença - deixando de lado por enquanto tudo o mais no parágrafo

anterior - é uma jóia, cujo significado só pode ser do conhecimento do

próprio professor dos Clássicos, isto é, o professor Thomson. Para esclarecer alguns

de nós que, ao contrário do professor, não podem se gabar de terem sido finamente educados, o professor deveria ter a bondade de iluminar-nos com o significado

desta sentença: "As classes exploradoras tinham sido expropriadas, mas

não, de forma alguma, eliminadas. " Até agora os marxistas, inclusive Lênin por

exemplo, tinham considerado a expropriação das classes exploradoras como o

mesmo que a eliminação dessas classes. O professor, parece, pensa de modo diferente.

Ele faz assim precisamente porque, como se mostrou acima, ele confunde a

eliminação das classes exploradoras com a eliminação da luta de classes. Já que a

lut.a de classes no socialismo continua (e isto mesmo o nosso professor sabe), ele

« chega, por um processo de raciocínio retrógrado, à conclusão de que as classes

exploradoras não tinham sido eliminadas, pois, de acordo com ele, a luta de classes

deveria ter chegado ao fim se as classes exploradoras tivessem sido eliminadas

(ver pág. 131 de seu livro). Talvez pela eliminação das classes exploradoras o professor

entenda o extermínio físico de todos os membros das antigas classes exploradoras?

Se ele tem isso em mente, deveria dizê-lo. Talvez ele tivesse gostado de

ver seu extermínio físico. Tivesse tal extermínio tido lugar - o que realmente não

aconteceu - nós ainda não estaríamos livres do professor, pois ele nos defrontaria

ainda com outro desvio 'esquerdista' da parte de Stalin. É assim que agem os

Thomsons deste mundo.

Prosseguindo, o professor Thomson, à página 135 de seu livro, continua

como se segue: "Se as massas tinham sido despertadas para tomar a luta de

classe em suas mãos e conduzi-la até o fim, tomando o cuidado de distinguir entre

amigos e inimigos, elas teriam sido capazes de isolar os contra-revolucionários

em seu meio e, ao mesmo tempo, cuidar de pôr um freio nas atividades da polícia

de segurança. "

E adiante: "... Os inimigos eram tratados como amigos e os amigos como

inimigos. "

Que evidências o professor forneceu como prova dessas afirmações? Umas

poucas afirmações. Ele toma como pacífico que suas afirmações são verdades eternas

e imutáveis; com base na sua premissa, continua a fazer mais afirmações, que

supõe fornecerem uma explicação quanto aos 'erros' atribuídos a Stalin nas afirmações acima citadas.

Stalin estava divorciado das massas, afirma o professor. Por quê? "...talvez

porque ele se inclinava a confiar muito na 'para administração"', responde nosso

rato de arquivo, Thomson. Por qije era Stalin "inclinado a confiar muito na 'pura

administração'?" perguntamos. A resposta fornecida pelo professor dos Clássicos

é: porque Stalin tinha cometido o "erro" de acreditar que em 1936 a luta de classes

na URSS estava no fim; ele não entendeu, no entanto, que "longe de desaparecer, a

resistência das classes expropriadas estava continuando e assumindo novas formas,

que eram mais insidiosas do que as velhas e, portanto, ainda mais perigosas.

Nessas circunstâncias, era vitalmente necessário manter e fortalecer a ditadura do

proletariado, como Lênin tinha antevisto" (p. 135).

A mentira deslavada contida no parágrafo acima já foi refutada neste livro.

Tinha sido claramente mostrado que Stalin, longe de acreditar no apaziguamento

da luta de classes no socialismo, mantinha a visão contrária, de que a luta de classes

crescia ferozmente na ditadura do proletariado; que ele conduziu uma impiedosa

luta contra aqueles que expunham a "detestável" e "perigosa" teoria do apaziguamento da luta de classes. E o sempre tão esperto e no entanto sempre tão estúpido professor que comete o erro e que, em sua confusão e presunção, apresenta o seu próprio erro como "erro de Stalin". E o professor que está, como se mostrou

acima, confundindo a eliminação das classes exploradoras com a eliminação da

luta de classes.

Quanto à implicação de que a Constituição de 1936 enfraquecia a ditadura

do proletariado, isso é uma inverdade. Longe de enfraquecê-la, a nova Constituição

fortaleceu a ditadura do proletariado por ampliar suas bases, de acordo com as

mudanças na estrutura de classes da sociedade soviética. Stalin trata desta crítica

em seu discurso sobre a Constituição:

"O quarto grupo de críticos, ao atacar o projeto da nova Constituição, caracteriza-

o como um 'desvio para a direita', como o 'abandono da ditadura do

proletariado', como a liquidação do regime bolchevique'. 'Os bolcheviques

tinham se inclinado para a direita, isto é fato", declaram em um coro de diferentes

vozes.

Particularmente zelosos a esse respeito são certos jornais poloneses e também

alguns jornais americanos.

O que se pode dizer acerca dessas assim-chamadas críticas? Se a ampliação

da base da ditadura da classe operária e a transformação da ditadura num

sistema mais flexível e, conseqüentemente, mais poderoso de orientação da sociedade

pelo Estado é interpretada por eles não como um fortalecimento da ditadura

da classe operária, mas como um enfraquecimento dela, ou mesmo seu abandono,

então é legítimo perguntar: Esses senhores realmente sabem o que significa a ditadura

da classe operária?

"Se a forma legislativa dada às vitórias do socialismo, a forma legislativa

dada aos sucessos da industrialização, da coletivização e da democratização são

apresentadas por eles como um 'desvio para a direita', então é legítimo perguntar:

Esses senhores sabem realmente a diferença entre esquerda e direita?"

Como registrado antes, o professor disse: Durante os anos 1930 e depois,

os inimigos "eram tratados como amigos e os amigos como inimigos". Por quê?

Porque Stalin não entendia a distinção entre contradições antagônicas e não antagônicas.

Assim disse o professor. Qual é a prova de sua afirmação? Eis o que é

proferido pelo pomposo professor, na esperança de que seus leitores serão tão crédulos quanto os estudantes universitários a que o professor está acostumado, e

aceitarão isso como 'prova':

"Nessa relação, é notável que em seu 'Materialismo Dialético e Histórico'

(1938) Stalin não tenha distinguido entre contradições antagônicas e não antagônicas,

nem observado que, conforme sejam tratadas, as contradições antagônicas

podem se tornar contradições não antagônicas, e as contradições não antagônicas

podem se tornar antagônicas. "

Se fôssemos nos dar ao trabalho de listar tudo que não for encontrado no

Materialismo Dialético e Histórico, de Stalin, então se tornaria particularmente 'notável'

que tal tarefa não apenas requereria toda uma vida de milhares de professores,

mas seria também fútil. Não temos a intenção de contratar eruditos professores

- apenas para mantê-los em empregos lucrativos - para fazer tal tarefa com tão

alto custo para a classe operária britânica, já altamente tributada, para não falar

das pessoas superexploradas da Ásia, África e América Latina.

O fato é que no Materialismo Dialético e Histórico Stalin não trata das contradições

antagônicas e não antagônicas, o que não prova nada, muito menos que

ele não entendia a distinção entre os dois tipos de contradição. Somente cavalheiros

mentalmente inválidos, das cátedras do 'ensino superior', que estão acostumados

a ser alimentados com fórmulas prontas, podem chegar a tal conclusão.

Uma vez alguém como nosso professor perguntou a Lênin: "Em que livro Marx e

Engels escreveram sobre o materialismo dialético e histórico?" A essa pergunta

Lênin respondeu: "Em que livro eles não escreveram sobre o materialismo dialético

e histórico?"

Compreensão do materialismo dialético e histórico e das contradições de

diferentes tipos não é algo que se consegue escrevendo acerca deles. Consegue-se

aplicando-os realmente ao estudo da sociedade, à solução de problemas. Se se

aplica isso - o único teste legítimo - a Stalin, não se pode senão concluir, não

apenas que ele tivesse ouvido falar dos vários tipos de contradição (que é tudo que

nossos professores sabem acerca das contradições), mas que as compreendeu e

entendeu plenamente e, o mais importante, aplicou,esse entendimento para resolver

problemas de importância histórica mundial durante os 30 anos de sua vida,

após a morte de Lênin. Foi apenas por entender corretamente os diferentes tipos de

contradição que Stalin e o PCUS(B) foram capazes com sucesso de dirigir a luta

pela industrialização da URSS, a coletivização de sua agricultura e a defesa do

socialismo. O professor Thomson pensa que teria sido possível coletivizar a agricultura,

por exemplo, na URSS, sem que o governo soviético, o PCUS(B) e Stalin

fossem capazes de distinguir a contradição entre a ditadura do proletariado e os

kulaks (uma contradição antagônica) da contradição entre a ditadura do proletariado

e o campesinato médio (uma contradição não antagônica)? Não há nenhuma

dúvida, qualquer que seja, em nossa mente, de que juntar na prática esses dois

tipos diferentes de contradição teria levado não à coletivização da agricultura, mas

à derrota da ditadura do proletariado e à restauração do capitalismo. E sobre isto

que girava toda a controvérsia entre os trotskistas e bukharinistas. O que se aplica

à coletivização se aplica igualmente, se não ainda mais, a outras esferas - industrialização,

política exterior etc.

Se, entretanto, um entendimento correto de diferentes tipos de contradição

e uma aplicação correta desse entendimento à realidade não satisfaz o professor,

se nada menos do que uma afirmação textual sobre o tema da contradição o

pacificaria, a seguinte afirmação da segunda carta do camarada Stalin ao camarada

Ch. pode talvez ajudar. "Neste contexto, é notável" que essa carta seja datada de 7

de dezembro de 1930, isto é, cerca de oito anos antes do aparecimento de Materialismo

Dialético e Histórico, de Stalin. Eis o que o camarada Stalin escreveu em sua

carta a Ch.:

"Camarada CH.:

Em sua primeira carta você joga com a palavra 'contradições' e mistura as

contradições de fora do vínculo (que são as contradições entre a ditadura do proletariado

e os elementos capitalistas do país) e aquelas dentro do vínculo (que são as

contradições entre o proletariado e a principal massa do campesinato). Você poderia

ter evitado esse jogo, para um marxista inadmissível, se tivesse tido a preocupação

de entender as causas básicas das disputas entre o Partido e os trotskistas"

(Collected Works, Vol. 13 p. 22).


Está perfeitamente claro, então, que Stalin não só entendia plenamente a

distinção entre os diferentes tipos de contradição como repreendeu asperamente

aqueles que, como Ch., também misturavam as contradições de fora do vínculo

(contradições antagônicas) e as contradições dentro do vínculo (contradições não

antagônicas). O professor Thomson "poderia ter evitado esse jogo, para um marxista

inadmissível" de fazer falsas alegações, se tivesse tido a preocupação de checar

seus fatos, "a preocupação de entender as causas básicas das disputas entre o Partido

(o PCUS(B)) e os trotskistas

MF, assim como o professor Thomson, enfaticamente afirma que "o que

estava faltando era uma linha de massa" na URSS; que o Partido estava "divorciado

das massas"; que os laços do Partido com as massas estavam "corroídos pela

doença burocrática"; que havia muito de "pura administração" - "administração

demais". A luz deste ramalhete agradável lançado contra o camarada Stalin e o

PCUS que ele dirigia, era auto-evidente que os nossos 'críticos notáveis' atribuíam

os sucessos da União Soviética em todos os campos à "pura administração", à

"administração demais", à "doença burocrática", à alienação das massas e ao inevitável

"mau trato das contradições"; em resumo, à "ausência de uma linha de

massa" e à "degeneração do Partido e do Estado". Estranho, não é, camaradas?

Ambos os nossos críticos têm por tais acusações se tornado indistinguíveis dos

trotskistas que, enquanto bradando sobre a "degeneração burocrática " do Partido e

do Estado, atribuem todos os sucessos da URSS às "relações de propriedade socialistas

criadas pela Revolução de Outubro". E como aquela gente devotamente religiosa

que atribui toda falha à natureza imperfeita e pecaminosa do homem, enquanto

atribui todo sucesso à grandeza de Deus.

O que quer que MF e o professor Thomson possam pensar, é impossível

construir o socialismo baixando decretos e medidas administrativas.; a construção

do socialismo é atividade vivente de milhões e milhões de pessoas. Foi somente

com a luta contra a burocracia, o constante expurgo do Partido e do aparato soviético

dessas escórias e pela mobilização das massas nessa luta, que a resistência da

classe dos kulaks e de outras classes inimigas do proletariado foi quebrada, o socialismo foi construído:

"Seria leviano pensar que o plano deprodução é uma mera enumeração de

cifras e assinaturas. Na verdade, o plano de produção é a vida e a atividade prática

de milhões de pessoas. A realidade de nosso plano de produção apóia-se nos milhões

de pessoas trabalhadoras que estão criando uma nova vida. A realidade de

nosso programa repousa na pessoa vivente, você e eu, nossa vontade de trabalho,

nossa presteza para trabalhar de nova forma, nossa determinação para cumprir o

plano. Nós temos esta determinação? Sim, temos. Bem, então, nosso programa pode

e deverá ser cumprido" (Stalin, Collected Works, Vol.13, p. 82). ,

O fato de que o povo soviético construiu o socialismo, de que ele derrotou

o fascismo, é prova bastante de que as massas estavam mobilizadas, de que o Partido

e o aparato soviético, longe de estarem divorciados das massas, estavam, ao

contrário, inseparavelmente ligados com as massas. Deixemos os trotskistas e os

choramingas revisionistas (os agentes do imperialismo no movimento da classe

operária) e seus seguidores no movimento anti-revisionista - os Thomsons e MFs -

clamarem idiotices acerca da "ausência das massas" e da "degeneração do Partido

e do Estado" durante o período em discussão. Isso não pode afetar a verdade

da situação.


Como NR 'defende' Stalin

Antes de passar para a próxima e última alegação contra o camarada Stalin,

é necessário, para que fique tudo completo, fazer breve menção a um artigo no

MLQ, n° 3, intitulado Discussion: the Origins of Revisionism in the URSS. Esse

artigo foi escrito por vun cavalheiro com a inicial NR, que é ainda estrela da galáxia

CFB e é luminar dirigente da Associação dos Operários Comunistas de Manchester

•e Stockport. O artigo de NR contém tais jóias e profundidades que literalmente um

volume poderia ser escrito sobre ele. A despeito da tentativa, a falta de espaço

impõe o adiamento de qualquer tratamento exaustivo do artigo de NR. Espera-se

assim que ele possa ser tratado em outra oportunidade. O artigo de NR supostamente

foi escrito em defesa de Stalin e em forma de uma resposta ao artigo d'e MF,

The Origin and Development of Revisionism in the Soviet Union, no n° 2 do MLQ

(ver acima). Agora veremos como NR defende Stalin e 'refuta' MF. Eis alguns poucos

exemplos da defesa de Stalin por NR:


A sentença de abertura do artigo de NR diz: "O artigo do Camarada MF 'On

the origins and development of revisionism in the Soviet Union', EMBORA FAÇA

MUITAS CRÍTICAS VÁLIDAS E PERTINENTES de certas políticas e idéias incorretas

de Stalin ... no período 1935-52, não obstante não ... contribui para um entendimento

de por que a União Soviética degenerou em um Estado imperialista" (p. 51 -

ênfase minha).

"Embora faça a critica válida e pertinente" de que o artigo de MF não contribui

para um entendimento do crescimento do revisionismo2 na União Soviética

e sua subseqüente degeneração, nas palavras de NR, "em um Estado imperialista",

a sentença de abertura do artigo de NR, acima, é um exemplo típico de sua rebelião

de joelhos contra MF. E rendição e submissão às alegações contra-revolucionárias

de MF em toda a linha.

Como se a sentença anterior não tornasse sua rendição perfeitamente clara,

NR diz no segundo parágrafo de seu artigo:

"MUITAS DAS TESES APRESENTADAS NÃO SÃO POSTAS SERIAMENTE

EM DÚVIDA PELA MAIORIA DOS MARXISTAS-LENINISTAS, mas essas teses em si

não indicam uma direção revisionista do PCUS(B), porém mais [por favor não riam]

os erros cometidos por bons marxistas-Ieninistas ... De fato, todo o artigo consiste

em críticas, EM SUA MAIORIA VÁLIDAS, mas por vezes errôneas,de Stalin e do

PCUS..." [ênfase minha].

Lembremos que as críticas de MF a Stalin e ao PCUS incluem, entre outras

coisas, a crença no apaziguamento da luta de classes no socialismo, visão incorreta

do Estado, degeneração nacionalista, falta de uma linha de massa e alienação das

massas. Se essas críticas são "em sua maioria válidas", como NR diz que são, então

como é possível que a direção que comete tais erros seja descrita como uma direção

de "bons marxistas-Ieninistas"? Se tal direção é uma direção de "bons marxistas-

Ieninistas" o que é então uma direção burguesa detestável? Rara ser uma direção

de "bonsmarxistas-Ieninistas", deve tal direção acreditar no apaziguamento da

luta de classes no socialismo? Deve errar sobre a questão do Estado? Deve ser

nacionalista burguesa e alienada das massas? Isso é precisamente o que NR está

afirmando. Não, Mr. NR! Ou as críticas de MF são "em sua maioria válidas", e

nesse caso Stalin e o PCUS não constituíam "bons marxistas-Ieninistas", ou as alegações de MF estão erradas (e já foi demonstrado antes que elas estão erradas),

e nesse caso Stalin e o PCUS de fato constituíam uma "direção de bons marxistasleninistas".

Ou uma coisa ou outra.

Adiante, no terceiro parágrafo: "Certamente, as relações entre o PCUS,

o Comintern e os partidos fraternos DEIXAVAM MUITO A DESEJAR, mas o mesmoocorria com as relações partidárias internas no PCUS a partir de 1921..." (ênfase minha).

Vêem como NR 'defende' Stalin? Ele pensa que, se acrescenta um pouco de

seus próprios ataques ao PCUS àqueles de MF, isso se metamorfoseará em uma

defesa de Stalin.

Parágrafo quarto: "MFmenciona também as mudanças na política em 1928,

1935 e 1939 para com os partidos social-democratas e diz que essas mudanças

políticas podem ter sido incorretas. ISSO PODE SER VERDADE, mas por que tais

mudanças levariam ao revisionismo?" (Ênfase minha).

Todas as maravilhosas jóias acima estão contidas exatamente na primeira

página de um artigo escrito supostamente em defesa de Stalin!! Na página seguinte

(52), NR diz:

"...MF declara que,Stalin considerava as contradições externas, e não as

internas, como sendo decisivas na luta pelo socialismo. Há certamente alguma

evidência de que STALIN ESTAVA SOFRENDO DE ALGUMA CONFUSÃO IDEOLÓ-

GICA SOBRE ESSA QUESTÃO..." (Ênfase minha). Olhem quem está falando!!!

Página 54: "Algumas das questões levantadas por MF SÃO CERTAMENTE

fatores contribuintes para o surgimento do revisionismo na União Soviética, particularmente

as concessões aos nacionalistas e à nova burguesia [???] durante a

guerra, as tremendas diferenças salariais no exército e a INTRODUÇÃO DE COSTUMES

BURGUESES no exército, os desvios NACIONALISTAS - EA FALTA DE UMA

UNHA DE MASSA...

Entretanto, embota os argumentos de MF sejam válidos, deve-se dizer que

MFoslevanta de maneira idealista e metafísica... NÃO SE PODE NEGAR que essas

tendências indicavam uma EROSÃO SÉRIA DA DITADURA DO PROLETARIADO..."

(Ênfase minha).

Se os argumentos 'válidos' de MF, em lugar de serem levantados "de uma

forma idealista e metafísica", tivessem sido levantados de maneira materialista e

dialética, qual teria sido então o resultado? O resultado teria sido tornar os pontos

'válidos' de MF ainda mais 'válidos' e vigorosos. A queixa de NR, então, como

defensor de Stalin, é que os ataques de MF a Stalin não são bastante vigorosos? De

fato, uma estranha defesa de Stalin! •

Em seu zelo para 'defender' Stalin, à página 55 NR chega à ridícula conclusão

de que a Grande Revolução Socialista de Outubro na Rússia, em 1917, não

esmagou a ditadura da burguesia: "Embora o proletariado russo alcançasse o poder

do Estado por meio dos bolcheviques em 1917, eles não esmagaram a máquina

estatal..."

Se o proletariado russo "não esmagou a máquina estatal [burguesa]" o que

foi a Revolução de Outubro, afinal? De onde veio o socialismo? Somente Deus e

NR podem saber a resposta para isso.

A página 56 registra sua maravilhosa 'defesa' de Stalin: "...Parece-me que a

nova Constituição de 1936, vista por muitos como revisionista, foi de fato uma

tentativa da direção do Partido de envolver as massas cada vez mais. Entretanto [os

agora famosos 'entretantos' de NR], POR CAUSA DA CONFUSÃO IDEOLÓGICA DE

STALIN sobre a questão das contradições internas, a nova Constituição também

capacitou muitos elementos dúbios, a nova burguesia [???], os guardas brancos, os

kuiaks etc., a se infiltrarem nos meandros dasposições de poder..." (Ênfase minha).

NR então cita as seguintes Unhas do artigo de MF:

"Embora o próprio Stalin não tivesse se deixado arrastar para a corrente

nacionalista, ele não tentou contê-la, ele até encorajou-a. Talvez não houvesse alternativa, mas isso requeria a questão acerca da natureza das políticas prioritárias

para a guerra."

Eis o comentário de NR sobre as citações anteriores de MF: "Essa declaração

[de MF] É BASICAMENTE VERDADEIRA. Não havia alternativa, mas MF prossegue

para concluir que políticas errôneas foram seguidas antes da guerra, enquanto

eu tenho tentado mostrar [ele não está brincando] que, embora alguns erros

tivessem sido cometidos, a linha geral estava correta."

A última sentença mostra que NR pode ser privado de marxismo-leninismo

mas certamente não de um senso dê humor. Assim como não podemos acusá-lo de

ser um marxista-leninista em grau algum, não podemos acusá-lo de não ter senso

de humor. Ele pode ser um pobre carente no que se refere ao marxismo-leninismo,

mas certamente tem um rico repertório de piadas. Após ler seu artigo, que não

somente admite todos os ataques burgueses de MF a Stalin mas também acrescenta

mais alguns, quase se começa a ter um saudável respeito até pela imundície que

provém da pena de MF - o que não é pouco.

Após ler a 'defesa' de Stalin por NR, não pode ser "posto em dúvida seriamente

pela maioria dos marxistas-leninistas" que com pessoas como NR como

'amigos', Stalin não necessita de inimigos; não pode ser também "posto seriamente

em dúvida pela maioria dos marxistas-leninistas" que com pessoas como NR para

'refutá-lo', MF não necessita de amigos.

NR desfralda sua verdadeira bandeira trotskista quando, ao final, chega

fatalisticamente à conclusão de que o triunfo do revisionismo, da contra-revolução,

na URSS era inevitável: "...dadas as circunstâncias objetivas da construção

socialista, tal contra-revolução era inevitável", e ironicamente acrescenta "o que

não significa, de forma alguma, aceitar o conceito de Trotsky de que o socialismo

não pode ser construído em um único país". Realmente? Parece que isso é precisamente o que significa, caro NR!


Notas

1. Mas talvez o professor Thomson acredite, como os trotskistas e bukharinistas, que

Stalin estava errado em sua categorização dos elementos kulaks como estando em contradição antagônica à ditadura do proletariado durante o período da coletivização? Talvez o professor Thomson acredite, como os bukharinistas, que a contradição com os elementos kulaks era fundamentalmente não antagônica e apenas se tornou antagônica por causa dos 'erros' de Stalin ao lidar com esta situação? Alternativamente, talvez o professor Thomson acredite que a contradição entre o campesinato pobre e o médio e a ditadura do proletariado era antagônica - como acreditavam os trotskistas? Se o professor Thomson está de acordo com Bukharin ou Trotsky, por que ele não diz isso? Qualquer operário honesto, lendo os vários discursos de Stalin reproduzidos nesse panfleto, estará convencido de que era Stalin que entendia a diferença entre contradições antagônicas e não antagônicas, não

Bukharin ou o professor Thomson, não Trotsky ou o professor Thomson.

2. Nem o artigo de MF nem o de NR contribuem para um entendimento do crescimento do revisionismo na URSS. Revisionismo significa restauração do capitalismo. Nenhum desses dois artigos sequer menciona, muito menos analisa, a questão de se isso de fato teve lugar na URSS na época. Tudo que tornam disponíveis são uns poucos petiscos retirados do seu contexto.


7. Stalin e a Intelligentsia


Agora, a ultima alegação contra o Camarada Stalin. Essa alegação foi levantada

pela Associação Comunista de Finsbury (ACF) em uma carta datada de julho

de 1973, endereçada à Associação de Operários Comunistas. A parte em questão

dessa carta diz assim:

"Gostaríamos de saber sua opinião sobre a atitude de Stalin e Zhdanov

para com a intelligentsia soviética, expressa no 18° Congresso e subseqüentemente

inscrita nas regras do Partido. As páginas relevantes do livro [isto é, The Land of

Socialism Today and Tomorrow] são 51-53, 180-183, Seção 1, 457, Seção 1. Uns

poucos extratos indicam a natureza do assunto.

Stalin disse: "É, portanto, tanto mais espantoso e estranho que, após todas

essas mudanças fundamentais no status da intelligentsia, haja pessoas dentro de

nosso Partido que tentam aplicar a velha teoria, que era dirigida contra a intelligentsia burguesa, à nossa nova, intelligentsia soviética, que é basicamente uma intelligentsia socialista. Essas pessoas, parece, afirmam que os operários e camponeses, que até recentemente estavam trabalhando à maneira de Stakhanov nas fóbricas e fazendas coletivas e que foram então enviadas às universidades para serem educadas, cessaram então de ser pessoas reais e se tornaram pessoas de segunda classe. Assim, nós devemos concluir que a educação é uma coisa perniciosa e perigosa'.

A resolução adotada sobre o relatório de Zhdanov declara:

'Essa nova situação torna necessário alterar as condições de admissão ao

Partido contidas nas Normas do PCUS(B). O sistema existente, como escrito nas normas partidárias, de admissão de novos membros ao Partido de acordo com quatro

categorias diferentes, dependendo da posição social do candidato, é obviamente incompatível com as mudanças na estrutura de classes da sociedade soviética resultante da vitória do socialismo na URSS. A necessidade de diferentes categorias de

admissão dos novos membros e de períodos probatórios variáveis desapareceu. Em

conformidade, deveriam ser estabelecidas condições uniformes de admissão e um

período uniforme probatório para todos os novos membros, independentemente de

se eles pertencem à classe operária, ao campesinato ou à intelligentsia'.

Assim, o Partido da classe operária se tornou um 'Partido de todo o povo'. A

intelligentsia, que já detinha posições privilegiadas na sociedade, em virtude da

posição e educação, era admitida no Partido em termos iguais com os operários.

Não admira que a União Soviética tenha degenerado. Os últimos números sobre a

composição dos membros do PCUS(B) (que vocês podem confirmar recorrendo a

Soviet News in Marx House) revelam 40% de operários, 15% de camponeses e 45%

da intelligentsia.

Vocês não concordariam que isso, de alguma forma, foi um erro de Stalin?"

Para responder a ACF é preciso fazer as seguintes observações.

Um estudo das idéias publicadas do camarada Stalin, em particular as seções

relevantes de seu discurso sobre o Projeto de Constituição e o discurso ao 18°

Congresso do PCUS, em relação à intelligentsia, mostram convincentemente que

sua posição sobre o tema era uma posição marxista-leninista. Ele defendia corretamente, de acordo com a ciência marxista-leninista, que a intelligentsia é um estrato social especial; que a intelligentsia historicamente tem cumprido um papel importante no desenvolvimento da cultura, da ciência e da tecnologia; que tem principalmente servido aos interesses das classes no poder; que nenhuma classe dirigente em qualquer ordem social pode existir sem sua própria intelligentsia, isto

porque toda classe que ascende ao poder devota especial atenção em criar runa

intelligentsia que a sirva; que, enquanto no capitalismo a intelligentsia, como um

estrato especial, é recrutada em várias classes, principalmente nas classes exploradoras, e serve aos interesses das classes exploradoras, no socialismo a intelligentsia é recrutada principalmente na classe operária e nas massas trabalhadoras; que na sociedade socialista o papel e a composição dalntelligentsia como um estrato social são diferentes daquelas do capitalismo; que, dirigida pela classe operária e seu Partido Marxista-Leninista, a intelligentsia socialista desempenha um grande papel na criação dos valores materiais e culturais na sociedade socialista; que, sendo principalmente recrutada na classe operária e no campesinato trabalhador, a intelligentsia socialista está intimamente ligada a essas duas classes por interesses comuns econômicos, políticos e ideológicos, pelo objetivo comum da construção do socialismo e do comunismo.

Nunca Stalin negou, como fizeram os revisionistas kruchevistas na URSS

mais recente, a existência da intelligentsia como um estrato social especial; ele

nunca a mesclou com as classes fundamentais da sociedade socialista; nunca considerou a intelligentsia inteira como parte componente da classe operária e do

campesinato trabalhador.

Em qualquer sociedade socialista genuína - o que a URSS foi durante o

tempo de Stalin - como um resultado do crescimento sem precedentes das forças

produtivas, da eliminação das classes exploradoras, do estreitamento das distinções

essenciais entre a classe operária e o campesinato, a intelligentsia cresce em

número. Seu papel no desenvolvimento da sociedade cresce e há elevação contínua

do nível ideológico, político, educacional, cultural e técnico da classe operária

e do campesinato. Isso não significa, entretanto, que nas condições do socialismo

todas as distinções desaparecem e que não podemos falar mais da intelligentsia

como um estrato especial. A intelligentsia, escreveu Lênin, "... permanecerá um

estrato especial até que se alcance o nível mais alto de desenvolvimento da sociedade

comunista..." Que essa também foi a posição de Stalin pode ser visto em seu

discurso sobre o Projeto de Constituição, seu discurso ao 18° Congresso do PCUS

e seu Problemas Econômicos do Socialismo na URSS. Stalin nunca se afastou da

posição correta marxista-leninista com respeito à intelligentsia como um estrato

social especial.

De acordo com a ciência do marxismo-leninismo, o papel desempenhado

por esse estrato especial - a intelligentsia socialista - é diretamente dependente do

papel de direção, vanguarda, desempenhado pela classe operária. Portanto, embo-ra o papel da intelligentsia no processo de construção socialista cresça, nunca substitui

o papel dirigente da classe operária. Refletindo essa posição correta, Stalin

lutou toda sua vida contra os males gêmeos - dos conceitos e manifestações de

intelectualismo e da pretensão e arrogância intelectual, de um lado, e dos conceitos

vulgares que negam e subestimam o trabalho e o papel da intelligentsia, por

outro lado.

Não foi senão após os revisionistas kruchevistas usurparem o poder na

URSS que o papel da intelligentsia mudou. Os revisionistas apresentaram desde

então teses detestáveis como a do "Estado de todo o povo" e "o Partido de todo o

povo" como camuflagem para a restauração do capitalismo. Foi somente após os

revisionistas terem conseguido mudar a cor do PCUS(B), transformando-o de um

partido revolucionário em um partido revisionista podre, que eles conseguiram

também mudar o papel da intelligentsia Aa URSS, que eles conseguiram absolutizar

o papel da intelligentsia. As tentativas dos teóricos revisionistas de obliterar, apagar,

todas as distinções entre a intelligentsia e a classe operária visavam precisamente

a negar o papel dirigente da classe operária. Pois, uma vez garantido que não

havia distinções entre a classe operária, por um lado, e a intelligentsia inteira por

outro, uma fórmula conveniente tinha já sido encontrada para negar o papel dirigente da classe operária, para colocá-la cada vez mais em segundo plano e para

colocar a intelligentsia cada Vez mais em primeiro plano. Tal política de obliterar,

de apagar todas as distinções entre a classe operária e a intelligentsia, entretanto,

nunca teve lugar durante a época de Stalin. Naquela época, a intelligentsia continuou

a ser considerada um estrato especial, do mesmo modo que a classe operária

continuou mais definitivamente a ser considerada a classe dirigente.

A 'lógica' da ACF é incorrigivelmente ilógica quando, a partir das notas de

Stalin acima citadas e da resolução adotada no relatório de Zhdanov, ela conclui:

"Assim, o Partido da classe operária tornou-se, com efeito, um 'partido de

todo o povo'. A intelligentsia, que já mantinha posições privilegiadas na sociedade,

graças à sua posição e educação, foi admitida no Partido em condições iguais às

dos operários. Não admira que a União Soviética tenha degenerado. Os últimos

números sobre a composição dos membros do PCUS(B) ... mostram 40% de operários,

15% de camponeses, 45% da intelligentsia."

Primeiro, no parágrafo citado pela ACF, Stalin estava simplesmente explicando

a diferença entre a intelligentsia socialista soviética e a intelligentsia burguesa.

Ele estava enfatizando que não se pode ter a mesma atitude para a

intelligentsia socialista, recrutada principalmente na classe operária e no

campesinato trabalhador e imbuída, como era, dos ideais do socialismo e do comunismo, que se tinha em relação à intelligentsia burguesa, que era recrutada principalmente nas classes exploradoras e servia aos interesses dessas classes. Elé estava longe de dizer que todas as distinções entre a classe operária e a intelligentsia

deveriam ser eliminadas; ele estava longe de negar o papel dirigente da classe operária.

Como se pode, então, chegar à conclusão, como fez a ACF, de que "Assim, o

Partido da classe operária se tornou, com efeito, um 'partido de todo o povo"'? Condições uniformes de admissão, postas em prática para atender à nova situação, não poderiam por si levar - e não levaram -o partido do proletariado a se tornar um

'partido de todo o povo'. Nada assim poderia ter lugar enquanto o papel dirigente

do proletariado não fosse negado. Essa negação do papel dirigente do proletariado

teve lugar após a usurpação do poder pelos revisionistas kruchevistas, e não antes.

Uniformidade de condições de admissão não concede direito automático de admissão

aos membros do Partido; as pessoas têm de se submeter à aceitação pelo

Partido; não podem simplesmente admitir-se por si próprias. Enquanto o Partido

continuou a ser um Partido revolucionário, assegurou-se de que apenas aqueles da

intelligentsia eram admitidos no Partido quando satisfizessem os requisitos do Partido

revolucionário. Mas com a vitória do revisionismo kruchevista, as coisas mudaram;

e aqueles da intelligentsia que mais tinham a pretensão do intelectualismo

ingressaram em uma escala crescente. Os revisionistas, enquanto na prática real

revertiam a construção do socialismo, pondo em vigor normas econômicas cada

vez mais burguesas, com vistas à restauração do capitalismo, hipocritamente defendiam a teoria de que todas as distinções entre a intelligentsia e a classe operária

tinham sido obliteradas. O Partido, afirmavam, tornou-se um 'Partido de todo p

povo', e o Estado soviético, 'um Estado de todo o povo'.

E interessante notar que a ACF, em apoio à sua alegação, apresenta apenas

os "últimos números da composição dos membros do PCUS(B)". O que têm a ver

esses últimos números com Stalin e o PCUS(B) que ele dirigiu? Se a ACF está

argumentando que o PCUS(B) tornou-se um Partido revisionista desde a morte de

Stalin - desde a vitória do revisionismo moderno kruchevista - então esse argumento

é irretorquível. Se, entretanto, está afirmando que o PCUS(B) tornou-se

revisionista, que a União Soviética degenerou antes da morte de Stalin, então, cabe

à ACF provar isso. Ela não fez isso. Tudo que fez foi apresentar "os últimos números

da composição dos membros do PCUS(B)", o que apenas confirma o fato de que

a degeneração da União Soviética teve lugar após a morte de Stalin. Que a ACF cite

os números sobre a composição dos membros do PCUS(B) no período que foi até a

morte de Stalin. Na ausência de qualquer corroboração pela ACF, não há o que

responder, particularmente tendo em vista o que foi dito acima acerca do ponto de

vista de Stalin a respeito da intelligentsia como um estrato especial e o papel dirigente

da classe operária.


8. Conclusão


Em vista do precedente, pode-se agora concluir que todas as quatro alegações

levantadas contra Stalin são inverídicas. Os 'críticos', com suas 'críticas' de

Stalin, apenas ajudaram a expor sua própria confusão sem esperanças. Em seu

artigo no MLQ n° 2, MF diz: "O movimento revolucionário está no presente sofrendo

de uma séria falta de clareza teórica" (p. 3). O resto de seu artigo parece ter sido

escrito (o autor não poderia ter confessado isso) justamente para fornecer prova

desta declaração. Para sermos justos, o autor, MF, deve receber parabéns por seu

brilhante sucesso em revelar, de forma tão notável, tal "séria falta de clareza teórica"

da qual ele está sofrendo. Nesse aspecto, congratulações são também devidas

ao professor Thomson e a NR.

Nossos 'críticos' começaram com o desejo de explicar a Origem e "o desenvolvimento

do revisionismo na União Soviética. Eles não conseguiram, nem de longe,

fazê-lo. Terminaram formulando umas poucas afirmações anticomunistas, antisoviéticas

e antistalinistas. Esses cavalheiros esperam que o movimento

anticomunista aceite essas afirmações revisionistas como uma análise da origem e

do desenvolvimento do revisionismo na URSS! Em vista do que foi dito acima para

refutar esses 'críticos', temos o direjto (e podemos nos dar ao luxo) de rir com a

grosseira invectiva levantada contra o camarada Stalin por esses cavalheiros, que

despejam sua ignorância no tom oracular da infalibilidade científica. A resposta à

questão de quais foram precisamente as razões para o triunfo do revisionismo kruchevista ainda não é conhecida. Contudo, é necessário pôr um ponto final nas pretensiosas afirmações burguesas e explicações pseudocientíficas que se fazem passar por análises da "origem e desenvolvimento do revisionismo na União Soviética".

A usurpação do poder pelos revisionistas, em 1956, no 20° Congresso do

Partido, não pode de forma alguma ser citado como prova de que os 'críticos' de

Stalin estão certos nas críticas que fazem a ele. Tal método de argüir seria uma

desgraça para o método dialético de Marx e sua teoria materialista, e inadmissível

aos marxistas. Não obstante, é precisamente desta forma que os MFs argumentam.

Isso apenas serve para mostrar que, ao tratar com eles, nós estamos frente a frente

com os caçadores de fortuna pequeno-burgueses, e não com materialistas consumados, isto é, marxistas. Que tipo de pessoa é o MF com que estamos tratando, a

seguinte profundidade deixa claro:

"Se ao morrer Stalin deixou uma ditadura do proletariado, ela certamente

sofreu um bocado de erosão. Já se disse que a maior crítica que se pode fazer a

Stalin é que ele foi seguido por Kruchev. E isso fala volumes."

Em outras palavras, a usurpação do poder na União Soviética pelos

revisionistas kruchevistas significa que Stalin é responsável por essa vitória

revisionista; significa que 30 longos anos da luta do camarada Stalin contra o

revisionismo devem portanto ser desacreditados; significa que o revisionismo se

tornou triunfante na União Soviética não a despeito de Stalin mas por causa dele.

Por quê? Porque o revisionismo teve sucesso no fim, dizem os MFs deste mundo. O

que seria se o revisionismo não tivesse tido sucesso? Tudo estaria bem com Stalin,

de acordo com essa 'lógica'. Esse é o tipo de asneira que é apresentado pelos MFs

deste mundo ao movimento, em nome da análise histórica! Não seria mais adequado

descrever as diatribes de MF contra o camarada Stalin como análises histéricas,

mais do que como análises históricas? Esses senhores simplesmente raciocinam,

para trás a partir de certos acontecimentos. "A maior crítica que se pode fazer de

Stalin é que ele foi seguido por Kruchev. E isso fala volumes." Se se estende a lógica

de seu argumento, o que se tem todo o direito de fazer, alcança-se a seguinte conclusão:

"A maior crítica que se pode fazer- de Lênin é que ele foi seguido por Stalin,

que por sua vez foi seguido por Kruchev. E isso fala volumes." E quando você fizer

isso, os pobres velhos Marx e Engels deverão começar a estremecer em seus túmulos,

a pensar: Quem será o próximo?

De acordo com a 'lógica' acima - se se pode chamar assim se em alguma

data futura o revisionismo ganhar ascendência na China, o que se espera que nunca

aconteça, então a culpa terá sido de Mao Tsé-tung. Em tal caso, todas as lutas

empreendidas pelo camarada Mao Tsé-tung contra o revisionismo terão de ser descartadas como não sendo dignas de nota por parte de marxistas como MF1.

Terminemos anotando uns poucos extratos de um editorial do Zeri I Popoullit

do 20° Aniversário da morte do camarada Stalin:


"}. V. STALIN - GRANDE REVOLUCIONÁRIO E MARXISTA LENINISTA

J. V. STALIN, ESTE GLORIOSO DISCÍPULO DE V. I. LÊNIN, QUE SE MANTEVE

POR TRINTA ANOS NA DIREÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA E DO ESTADO

SOVIÉTICOS, MORREU HÁ VINTE ANOS. TODOS OS POVOS REVOLUCIONÁRIOS

E AMANTES DA LIBERDADE lembram de Stalin como um grande revolucionário e

um destacado marxista-leninista que devotou toda a sua vida à defesa das vitórias

da revolução e da construção do socialismo na União Soviética, à causa da libertação

do proletariado e de todos os povos oprimidos.

Intimamente ligadas ao nome de Stalin estão as brilhantes vitórias do povo

soviético após a Revolução Socialista de Outubro, a construção da sociedade socialista

na União Soviética, a vitória gloriosa na Segunda Guerra Mundial contra as

hordas fascistas, o desenvolvimento dos movimentos comunistas e operários, de

libertação nacional e democráticos do mundo. J. V Stalin desenvolveu e enriqueceu

o leninismo, a teoria da construção do socialismo, da luta contra o oportunismo, o

revisionismo e o imperialismo. Após a morte de Lênin, ele defendeu o leninismo

com firme determinação contra os inimigos da classe operária - trotskystas,

bukharinistas, nacionalistas burgueses, revisionistas modernos; ele desenvolveu mais

os ensinamentos de Marx, Engels e Lênin acerca do Partido, da revolução e do

Estado e aplicou-os com persistência e sagacidade. Tornou-se um camarada, professor

e grande defensor de todos os oprimidos, de todos aqueles que estavam lutando

pela libertação social e nacional.


PORQUE STALIN FOI ASSIM, OS IMPERIALISTAS, OS REVISIONISTAS

MODERNOS E TODOS OS INIMIGOS DO COMUNISMO E DA URERDADE DOS

POVOS TÊM PROCURADO COM TODAS AS SUAS FORÇAS MANCHAR SUA IMAGEM

COMO UM DESTEMIDO REVOLUCIONÁRIO E OBSCURECER SUA

PERFORMANCE GLORIOSA."


Nota


1. De fato, os desenvolvimentos na China, desde a morte de Mao Tsé-tung, têm levado alguns desses 'anti-revisionistas' a darem meia-volta e fazerem exatamente tais acusações.




___________

para acessaar o livro na íntegra acesse comunidadestalin.blogspot.com

 
 
 

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